Monkeypox: «Estigma não é apenas errado, pode dificultar a interrupção da transmissão»

Qualquer pessoa que tenha contacto físico próximo com alguém que esteja infetado corre risco de infeção humana por vírus monkeypox, independentemente de quem seja, o que faça, com quem escolha fazer sexo ou qualquer outro fator, lembra a Organização Mundial da Saúde.

  • PorVanda OliveiraJornalista

  • FontesCentro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças
    Organização Mundial da Saúde

Em meados de maio de 2022, a comunidade médica internacional foi surpreendida com um surto de infeção humana por vírus monkeypox com características atípicas. O vírus tinha sido descoberto em 1958 numa colónia de macacos mantida em pesquisa no Instituto Statens Serum, em Copenhaga, na Dinamarca. Anos depois, o primeiro caso de infeção humana por vírus monkeypox foi identificado em 1970 num bebé de 9 meses, na República Democrática do Congo. Desde então, a maioria dos casos foram relatados nas regiões da África Central e Ocidental, onde existem florestas tropicais e onde os animais que podem conter o vírus normalmente vivem. Ocasionalmente têm sido identificadas casos de infeção humana por vírus monkeypox noutros países, após viagens de regiões onde a doença é endémica.

Estes são os primeiros casos relatados em todo o mundo em homens que fazem sexo com homens

Monkeypox: um surto atípico em que os detalhes contam, mas não devem discriminar

Pela primeira vez, estão a ser relatadas cadeias de transmissão na Europa sem ligações epidemiológicas conhecidas com a África Ocidental e Central. Estes são também os primeiros casos relatados em todo o mundo entre homens que têm sexo com homens, conforme relatou o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC). Numa altura em que se desconhecia a origem da infeção, os dados que são conhecidos são fundamentais para travar cadeias de transmissão e conter o vírus. Não para discriminar.

O vírus monkeypox é considerado de transmissibilidade moderada entre humanos. A transmissão entre parceiros sexuais, devido ao contacto íntimo durante o sexo com lesões cutâneas infecciosas, parece ser o modo provável de transmissão entre os casos até agora identificados. «Dada a frequência incomumente alta de transmissão de humano para humano observada neste evento, e a provável transmissão da comunidade sem histórico de viagens para áreas endémicas, a probabilidade de propagação do vírus por contacto próximo, por exemplo, durante atividades sexuais, é considerada alta. A probabilidade de transmissão entre indivíduos sem contacto próximo é considerada baixa», lê-se em comunicado do ECDC.

«É provável que, à medida que aprendemos mais, possamos identificar casos na comunidade mais ampla», afirma Organização Mundial da Saúde

Qualquer pessoa pode apanhar ou transmitir o vírus

A Organização Mundial da Saúde (OMS) lembra que «o risco de infeção não se limita a pessoas sexualmente ativas ou homens que fazem sexo com homens. Qualquer pessoa que tenha contacto físico próximo com alguém infetado está em risco. Qualquer pessoa que tenha sintomas suspeitos deve procurar aconselhamento de um profissional de saúde imediatamente», aconselha.

«Vários dos casos relatados em países não endémicos foram identificados em homens que fazem sexo com homens. Esses casos foram identificados em clínicas de saúde sexual. A razão pela qual estamos a ouvir mais relatos de casos em comunidades de homens que fazem sexo com homens pode dever-se ao comportamento positivo de procura nesse grupo demográfico. As erupções da varíola podem assemelhar-se às de algumas doenças sexualmente transmissíveis, incluindo herpes e sífilis, o que pode explicar por que os casos estão a ser detetados em clínicas de saúde sexual. É provável que, à medida que aprendemos mais, possamos identificar casos na comunidade mais ampla», defende a Organização Mundial da Saúde.

Tedros Adhanon Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde:

«Estigma pode impedir que indivíduos infetados procurem ajuda médica»

«Estamos a ver circular mensagens a estigmatizar certos grupos de pessoas em torno deste surto de infeção humana por vírus monkeypox. Queremos deixar bem claro que isso não está certo. Em primeiro lugar, qualquer pessoa que tenha contacto físico próximo de qualquer tipo com alguém que esteja infetado está em risco, independentemente de quem seja, o que faça, com quem escolha fazer sexo ou qualquer outro fator. Em segundo lugar, estigmatizar alguém por causa de uma doença é inaceitável. É provável que o estigma só piore as coisas e nos impeça de acabar com este surto o mais rápido possível», refere a Organização Mundial da Saúde, em comunicado publicado online na news room do organização.

Num vídeo divulgado na conta de instagram da organização, o diretor-geral Tedros Adhanon Ghebreyesus salienta: «O estigma não é apenas errado, mas também pode impedir que indivíduos infetados procurem ajuda médica, dificultando a interrupção da transmissão». A Organização Mundial da Saúde «está a pedir aos países afetados para ampliar sua vigilância e procurar casos na comunidade em geral. A situação está a evoluir e prevemos que mais casos continuem a ser encontrados», refere o diretor-geral.


Vírus pode já estar a circular há mais tempo

Até 1 de junho de 2022 foram confirmados mais de 550 casos de infeção humana por vírus monkeypox em 30 países onde o vírus não é endémico. «As investigações estão em curso, mas o súbito aparecimento de casos em vários países em simultâneo sugere que pode ter havido transmissão não detetada durante algum tempo», refere o diretor-geral da OMS.

«Precisamos de nos unir para apoiar qualquer pessoa que tenha sido infetada ou que esteja a cuidar de pessoas doentes. Estigma e discriminação nunca são aceitáveis, e não o são também em relação a este surto», lê-se no site da organização.

Última revisão: 3 de junho de 2022

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