Médicos que acreditam em terapias não convencionais

A verdadeira vocação das terapias não convencionais está na parceria terapêutica e na abordagem holística que médicos e terapeutas podem criar

A verdadeira vocação das terapias não convencionais está na parceria terapêutica e na abordagem holística que médicos e terapeutas podem criar. Os especialistas com quem conversámos já o descobriram.

  • PorCarlos Eugénio AugustoJornalista

  • ColaboraçãoDra. Helena Pinto FerreiraMédica especialista em Medicina Geral e Familiar
  • Dr. Mário CordeiroMédico pediatra
  • Dr. Pedro Lôbo do ValeMédico especialista em Medicina Geral e Familiar
  • Dr. Pedro Ribeiro da SilvaMédico anestesista e membro da Divisão de Estilos de Vida Saudável da Direção-Geral da Saúde

«A legislação portuguesa é das poucas do mundo que inclui sete terapêuticas não convencionais [acupuntura, fitoterapia, homeopatia, naturopatia, osteopatia, quiropraxia e medicina tradicional chinesa]. Em 2003, foi publicada a lei que legalizava seis delas, e, em 2013, acrescentou-se mais uma terapêutica não convencional [medicina tradicional chinesa].

Para a regulamentação ficar concluída, era ainda necessário publicar várias portarias que estabelecem, por exemplo, as condições dos consultórios, o seguro, os ciclos de estudos de licenciatura, a cédula profissional… Grande parte dessas portarias já foi publicada, estando o processo próximo do seu término», revela Pedro Ribeiro da Silva, médico anestesista e membro da Divisão de Estilos de Vida Saudável, da Direção-Geral da Saúde, à Revista Prevenir. Está assim aberto o caminho para a consolidação do trabalho conjunto entre a medicina ocidental e a medicina alternativa.

Terapias não convencionais e medicina ocidental

«A medicina dita ocidental será mais biomédica. Enquanto as terapias não convencionais entenderão melhor a relação una entre o corpo e a mente, e levam em linha de conta o facto de sermos um organismo energético, e os desequilíbrios energéticos poderem causar doenças. Há cada vez mais médicos a ter essa abordagem, embora muitos ainda achem que isso é do domínio do espiritual», conta Mário Cordeiro, um dos mais conceituados pediatras nacionais que, a par de outros especialistas com quem conversámos, aplaudem o seu potencial.

– Dra. Helena Pinto Ferreira

Médica especialista em Medicina Geral e Familiar

Acredita que as terapêuticas complementares têm resultados positivos

«No final dos anos 70, no fim do curso de medicina, tive contacto com as filosofias orientais que apresentavam uma abordagem da doença de forma mais global, o que me levou a estudar acupuntura. Durante este percurso, contactei com colegas de vários países europeus, onde outras abordagens complementares estavam mais divulgadas, como homeopatia, osteopatia, plantas medicinais. Algumas ainda pouco conhecidas em Portugal.

A experiência positiva que me transmitiram em relação à vantagem da sua complementaridade com a medicina convencional entusiasmou-me e procurei saber mais».

Quando são um aliado

«A sua utilidade revelou-se positiva, especialmente em algumas doenças crónicas, em doentes que tomam vários medicamentos ou em situações em que o tratamento convencional não é satisfatório.

«para o tratamento da dor, por exemplo, a acupuntura será mais eficaz e apresenta vantagens, permitindo diminuir a terapêutica medicamentosa»

As vantagens dependem do tipo de terapêutica e do grau de evolução da doença, mas para o tratamento da dor, por exemplo, a acupuntura será mais eficaz e apresenta vantagens, permitindo diminuir a terapêutica medicamentosa. O que é muito importante especialmente em doentes que já tomam vários medicamentos devido a outros problemas de saúde».

Vantagens

«Quando a terapêutica convencional não apresenta resultados satisfatórios, pode haver benefício em utilizar a terapêutica não convencional. Mas cada caso tem de ser avaliado, sendo difícil dar exemplos. Foram efetuados alguns estudos para avaliação da relação do custo/benefício de algumas terapêuticas complementares por algumas seguradoras em países europeus, nomeadamente na Holanda e Suíça. Os resultados demonstraram que os doentes tratados por médicos que, além da abordagem convencional, utilizavam uma ou mais terapêuticas complementares viviam mais tempo, consumiam menos medicamentos e recorriam em menor número aos hospitais. A terapêutica que se revelou mais barata foi a homeopatia. A baixa frequência de efeitos adversos é também outra vantagem».

Desvantagens

«Prendem-se com a falta de ensaios clínicos que comprovem a sua eficácia e conduz a um descrédito por parte de muitos médicos, embora haja já uma extensa literatura onde a comprovação da ação terapêutica exista, mas especialmente em ensaios pré-clínicos. A acupuntura é a terapêutica mais estudada e com mais estudos clínicos que demonstram evidência em algumas situações clínicas. Há, no entanto, um caminho grande ainda a percorrer. O risco é maior quando estas terapias não convencionais são praticadas por profissionais que não são médicos, quando não existe diagnóstico prévio, podendo atrasar o tratamento adequado de doenças que não melhoram com estas terapias».

– Dr. Mário Cordeiro

Médico pediatra

Acredita na eficácia da osteopatia, acupuntura, medicina tradicional chinesa, homeopatia

«Sempre acompanhei a evolução das terapias não convencionais e acreditei nas suas potencialidades. A vivência com o meu pai, também ele pediatra, e o estudo do comportamento humano e da visão holística que recebi na faculdade levaram-me a compreender que as terapêuticas complementares tinham um importante papel, desde que trabalhadas com um mínimo de base científica, de bom senso e com profissionais habilitados».


Quando são a solução

Recorro, frequentemente, à osteopatia, acupuntura, medicina tradicional chinesa e homeopatia. Muitas vezes, isoladamente, por exemplo nos torcicolos congénitos ou na plagiocefalia do bebé. E aconselho vivamente em situações de tensões musculares, stresse, sinusites e doenças do foro respiratório… As várias medicinas podem articular-se, mas depende do caso e isso nunca deve ser esquecido. O que pode prejudicar os doentes é o facto de as várias medicinas observarem um comportamento competitivo e de se assumirem como alternativas entre si. Ainda assim, o mais preocupante é que existam maus profissionais. Pela falta de regulamentação, há muitos charlatães a exercer no domínio da saúde, designadamente em programas de televisão».

– Dr. Pedro Lôbo do Vale

Médico especialista em Medicina Geral e Familiar

Acredita na eficácia da fitoterapia, acupuntura e osteopatia

«Era ainda um estudante de medicina quando contactei com técnicas terapêuticas como fitoterapia, suplementos alimentares e dietética. Tinha o gosto pelas viagens e descobri os espaços Reformhaus, na Alemanha. Um tipo de loja que não existia em Portugal e que oferecia opções muito diferentes e interessantes para o bem-estar».

Quando são um aliado

«Pode-se, por exemplo, ajudar a prevenir uma constipação com a toma de equinácea, vitamina C e vitamina D. Assim como em alguns casos de ansiedade, a erva-de-são-joão e valeriana revelam ser eficazes. A toma de um suplemento alimentar à base de valeriana e melatonina poderá ser útil, por exemplo, no caso de uma pessoa que necessite de terapêutica convencional para a hipertensão, caso sofra concomitantemente de insónia. Quando o paciente não necessita de tratamento cirúrgico para a dor na coluna, o recurso a suplementos à base de curcuma, glucosamina, condroitina e a intervenção de um osteopata será, com certeza, bastante útil. E infeções urinárias recorrentes beneficiam, ao nível da prevenção, da toma de arando vermelho».

As vantagens

«Ausência, noutros casos, a existência de menos efeitos secundários, em relação às terapias medicamentosas. Por exemplo, existem situações músculo-esqueléticas em que a osteopatia pode colocar os vários elementos do sistema osteoarticular na sua posição correta, aliviando tensões e dores. Já a acupuntura é útil nas situações em que o paciente sofre de dor, como ciatalgias ou outras nevralgias».

– Dr. Pedro Ribeiro da Silva

Médico anestesista e membro da Divisão de Estilos de Vida Saudável da Direção-Geral da Saúde (DGS)

«A saúde pública pode beneficiar da interação entre as diversas abordagens»

«Existem variadíssimas situações em que a complementaridade entre as diversas abordagens pode ser benéficas para o tratamento e a cura. A saúde pública pode beneficiar da interação entre as diversas abordagens, respeitando-se as diferentes práticas e atuando-se sempre em prol do doente, da promoção da saúde e da prevenção da doença. Por exemplo, assisti, num congresso, à apresentação de um cirurgião maxilofacial, do Porto, que opera casos muito dolorosos, como cancros, em que a anestesia eficaz é fundamental. Existem pessoas que não podem ser anestesiadas pelos processos convencionais, e nessas situações, o cirurgião tem trabalhado com um acupuntor que intervém ao nível da anestesia e cuja ação tem sido sempre bem-sucedida».

Última revisão: Novembro 2014

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