Franck Gigon: «Aromaterapia e medicina convencional podem funcionar bem juntas»

Aromaterapia: a «medicina sinérgica», Franck Gigon

Médico e especialista em Fitoaromaterapia, Franck Gigon acredita que a ciência das plantas medicinais é aliada da medicina convencional e opção de primeira linha na prevenção e tratamento de problemas de saúde comuns.

  • PorSónia RamalhoJornalista

  • Entrevista aFranck GigonMédico, ex-coordenador do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Paris 1, especialista em Fitoaromaterapia

Médico há mais de duas décadas, Franck Gigon começou a estudar a ação terapêutica das plantas ainda na Faculdade de Medicina. Movia-o a vontade de expandir o leque de opções terapêuticas para os pacientes. Hoje, na sua prática clínica, o ex-coordenador do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Paris 1, defende a prática de uma «medicina sinérgica», na qual a Fitoaromaterapia é aliada da medicina convencional e opção de primeira linha na prevenção e tratamento de problemas de saúde comuns.

É formado em Medicina. Quando começou a interessar-se pela Fitoaromaterapia?

O interesse surgiu no final do curso de Medicina. Inscrevi-me num curso de Fitoaromaterapia na Universidade de Paris para expandir as possibilidades terapêuticas. No curso de Medicina aprendemos que só existem duas possibilidades: os medicamentos ou a cirurgia. Mas, quando a doença está instalada, temos de garantir todas as opções terapêuticas. No curso, já tinha feito formação em Osteopatia e Acupunctura, mas apercebi-me que a Fitoterapia é uma cultura que existiu desde sempre e se tinha marginalizado desde o desenvolvimento das moléculas de síntese, a partir dos anos 50/60. O interessante na Fitoterapia moderna é que verificamos a composição bioquímica das plantas com investigação científica, que permite voltar às antigas tradições com uma visão moderna e segura, e utilizá-las com fins terapêuticos, com uma visão médica.

Qual a diferença entre Fitoterapia, Aromaterapia e Fitoaromaterapia?

A Fitoterapia é a ciência das plantas medicinais, é a disciplina mãe. Depois há outras disciplinas, como a Aromaterapia, que se foca nas plantas aromáticas, como o tomilho, a salva ou o rosmaninho. Contêm princípios aromáticos que sentimos quando os cheiramos e que podemos concentrar, através de técnicas, para obter o princípio aromático numa pequena quantidade: o óleo essencial concentrado. Por exemplo, durante as epidemias de peste, na Idade Média, queimava-se tomilho e rosmaninho para afastar “maus espíritos”. Sem o saberem, estavam a usar Aromaterapia: ao colocarem no ar princípios aromáticos que matavam o bacilo da peste perceberam que nos locais onde faziam fumigações havia muito menos contaminação.

«A ideia não é opor uma terapia natural à medicina convencional, pois podem funcionar bem juntas»

Existem estudos que comprovem a eficácia da Fitoaromaterapia?

Se fizer uma pesquisa no PubMed (biblioteca de estudos científicos) por óleos essenciais, encontra cerca de 20 mil publicações científicas. Há estudos sobre os mecanismos, sobre como agir e outros que explicam a bioquímica das plantas. Não existem tantos estudos clínicos como para os medicamentos, mas há cada vez mais laboratórios a publicar estudos sobre a eficácia e a tolerância da Aromaterapia. Um óleo essencial é um produto puro, de origem natural e, sendo puro, é reativo. Temos de definir regras de boa utilização. Qualquer bom farmacêutico, médico ou mesmo naturopata, deve saber que não se dá a mulheres grávidas, a mulheres a amamentar, a crianças com menos de 7 anos, evita-se também dar a pessoas com epilepsia ou caso a pessoa seja alérgica a óleos essenciais.

Em que casos recomenda o recurso a Aromaterapia?

Por exemplo, para tratar infeções, uso-os com a minha família. Em França, temos uma regra: quando há uma infeção bacteriana, temos de usar antibiótico, mas tenho o direito de colocar na mesma prescrição um tratamento de aromaterapia, para começar. Se, ao fim de 48 horas, não houver melhoria dos sintomas, a pessoa deve passar ao antibiótico. Em 80 por cento dos casos, as pessoas não precisam de antibióticos. Há estudos que referem que se podem usar antibióticos e óleos essenciais anti-infecciosos e já se começa a fazer isso devido ao fenómeno da resistência aos antibióticos. Especialistas em Infecciologia referem que dentro de 15 a 30 anos não existirão antibióticos eficazes, devido à sua utilização excessiva. Mas o principal vetor do problema é a indústria agroalimentar. Quando compramos carne que não é biológica, há 90 por cento de probabilidade que tenha sido tratada com antibióticos. Se a carne que vai ingerir tem resíduos de antibióticos, a microflora vai desenvolver resistências aos antibióticos sem que os tenha tomado. A indústria agroalimentar já começa a usar óleos essenciais na alimentação dos animais.

«Quando saímos do curso de Medicina, aprendemos a tratar com medicamentos ou com cirurgia, fora disso não há salvação. Mas, como terapeutas, temos o direito de prescrever outras possibilidades»

Como é feito o tratamento de Aromaterapia?

As principais vias são a cutânea e a respiratória. Os óleos essenciais penetram na pele e a absorção é muito rápida. Quando os inalamos, as mucosas respiratórias vão distribuir o produto rapidamente pelo organismo. É por isso que não é necessário utilizar a via oral, só em situações específicas, com produtos prontos a usar em que já estejam diluídos.

Por que grande parte da classe médica continua a olhar com desconfiança para estas terapias?

É simples: quando saímos do curso de Medicina, aprendemos a tratar com medicamentos ou com cirurgia, fora disso não há salvação. Mas como terapeutas temos o direito de prescrever outras possibilidades. Quando propomos soluções mais naturais, fora da terapêutica, podemos dispensar o uso de medicamentos clássicos. A ideia não é opor uma terapia natural à medicina convencional, pois podem funcionar bem juntas. Utiliza-se muito o termo medicinas alternativas, mas não é alternativa, nem complementar: é uma medicina sinérgica. Há medo de se sair do que está estabelecido. No curso de Medicina, não se fala de nenhuma planta medicinal. os farmacêuticos é que estudam algumas plantas na disciplina de Farmacognosia. No que diz respeito às plantas, os farmacêuticos têm um nível superior de formação ao dos médicos. Nós, os médicos, só estudamos moléculas de síntese e disseram-nos que é assim que se trata. Para identificar uma doença, identificamos um mecanismo e opomos uma molécula de síntese. O colesterol trata-se com estatinas, os problemas inflamatórios com anti-inflamatórios e assim sucessivamente. A medicina convencional raciocina com este princípio, é a visão do engenheiro. A questão é que os medicamentos têm de facto uma indicação para a patologia identificada, mas grande parte da população vai ter efeitos secundários. Se se respeitar as regras de boa utilização de produtos com princípios ativos naturais, há menos efeitos secundários.

«A partir do momento que se usam fragrâncias que nos são agradáveis, o cérebro produz serotonina, dopamina e ocitocina, as hormonas do bem-estar», afirma Franck Gigon

Da sua experiência clínica, em que casos a Fitoterapia tem mais resultados?

No domínio da Infecciologia. Numa epidemia de gripe, por exemplo, quando usamos óleos essenciais, podemos criar um efeito barreira ao purificar o ambiente. Nas salas de espera – autênticos boiões de cultura de vírus – podemos usar, na fase de contacto, nas maçanetas, vetores de contaminação, usar máscaras para evitar a proliferação de epidemias. Se lavar as mãos com um gel à base de óleos essenciais ou de tempo a tempo purificar o espaço, arejar a casa, o pico da epidemia baixa. Há óleos essenciais anti-infecciosos: árvore-do-chá, tomilho e eucalipto. O ideal é fazer uma mistura porque fazemos uma sinergia de formulações químicas e temos um espectro antibacteriano e antiviral muito grande. O óleo essencial da árvore-do-chá atua sobre o vírus H1N1, responsável por uma das epidemias mortais e com complicações importantes.

Quando preparamos um chá com plantas aromáticas, estamos a fazer Aromaterapia?

Há duas definições de Aromoterapia: a utilização de óleos essenciais para fins terapêuticos, e por isso são produtos concentrados, e a utilização dos princípios aromáticos. Se fizer uma infusão de tomilho, vai ter poucos mas suficientes princípios aromáticos na infusão. Quando tem gripe e faz uma infusão de tomilho e rosmaninho, os princípios aromáticos que ficam na água são anti-infecciosos, facilitam a fortificação e aumentam a imunidade. É uma forma de Aromaterapia, ainda que não seja muito poderosa.


Fitoterapia e aromaterapia: qual a diferença?

«A Fitoterapia é a ciência das plantas e estuda o seu poder. A Aromaterapia é a ciência das plantas, mas o poder está concentrado no óleo essencial que se obtém por destilação a vapor. Há pessoas que só fazem Aromaterapia, sem usar as outras plantas de Fitoterapia, que é uma especialidade», explica Franck Gigon, à Revista Prevenir.


5 alimentos com ação terapêutica

Franck Gigon, médico e ex-coordenador do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Paris 1, recomenda o consumo destes cinco alimentos dada a sua ação terapêutica.

  1. Alho
    «É um antiagregante de plaquetas, ajuda a normalizar a tensão arterial e é um potente aliado contra o cancro.»
  2. Azeite
    «Tem benefícios ao nível de proteção cardiovascular e neurológica. É por isso que a dieta mediterrânea integra o alho e o azeite.»
  3. Curcuma
    «Há estudos que provam é um aliado na prevenção do cancro. É anti-inflamatória, combate a dor e é anticolesterol.»
  4. Gengibre
    «O gengibre facilita a digestão, tem ação anticancerígena e anti-inflamatória, ao nível das articulações.»
  5. Óleo de nigela
    «Também conhecido por óleo de cominho-preto, é muito bom para a pele, antidiabético, anti-inflamatório, antiviral e antibacteriano.»

Aromaterapia: óleos essenciais que promovem o bem-estar

O médico Franck Gigon indica três opções que contribuem para o reequilíbrio mental e emocional em fases da vida mais exigentes.

  • Ansiedade
    Óleo de lavanda
    «Pode ser aplicado através das vias respiratórias ou na pele, chegando rapidamente ao cérebro e ajudando a despertar sensações de bem-estar.»
  • Parar de fumar
    Óleo de valeriana
    «Os óleos essenciais atuam sobre o cérebro e promovem o relaxamento. Se está a tentar deixar de fumar, vai ficar stressado, talvez deprimido e este óleo essencial ajuda a contrariar a síndroma de abstinência.»
  • Stresse
    Óleo de lavanda ou de laranja amarga
    «Existem óleos essenciais, como estes, que atuam pela via da respiração. Estimulam os centros nervosos olfativos que vão despertar no cérebro neuromediadores, que favorecem o relaxamento e adormecimento.»
Última revisão: Julho 2019

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