Teve COVID-19 e continua com sintomas? Saiba o que é a COVID longa

COVID longa: o que é, sintomas, tratamento

A COVID de longa duração — ou long COVID — acontece quando há uma persistência dos sintomas após a infeção por SARS-CoV-2 e sem que outra patologia ajude a justificá-los. A definição ainda não é clara, mas as consequências estão à vista e têm um impacto no bem-estar e no regresso à vida ativa.

  • PorDaniela Costa TeixeiraJornalista

  • ColaboraçãoDr. Miguel Toscano Rico
    Especialista em Medicina Interna, responsável pela Clínica de Atendimento Pós-COVID (CAP-COVID) do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central e mentor da InspirO2

A persistência de determinados sintomas após a fase aguda da infeção por SARS-CoV-2 está na base daquilo que a comunidade médica e científica designa por long COVID ou COVID longa. Apesar de ainda não haver uma definição unânime, até porque segundo Miguel Toscano Rico, especialista em Medicina Interna, «há uma grande dificuldade em catalogar uma doença que tem uma evolução explosiva nuns casos e insidiosa noutros», a Organização Mundial da Saúde criou recentemente uma descrição para facilitar o diagnóstico da COVID de longa duração. De acordo com o organismo, a condição pós-COVID-19 ocorre, geralmente, «três meses desde o início da COVID-19 com sintomas que duram, pelo menos, dois meses e não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo». Para Miguel Toscano Rico, existem várias subcategorias de COVID longa, como pós-COVID aguda (sintomas que persistem quatro semanas após infeção), pós-COVID subaguda (sintomas duram quatro a 12 semanas) e pós-COVID crónica (sintomatologia persistente há mais de 12 semanas). Em qualquer uma, o tratamento deve ser o mais célere possível.

COVID de longa duração: sinais de alerta

Segundo um artigo publicado na Acta Médica Portuguesa, a revista científica da Ordem dos Médicos, na COVID longa podem ocorrer «manifestações clínicas multissistémicas do foro respiratório, cardiovascular, neurológico, gastrointestinal, renal e/ou músculo-esquelético». Entre os sintomas mais recorrentes – e que podem surgir até mesmo em pessoas que tiveram COVID-19 de forma ligeira – estão a «fadiga, sensação de falta de ar e dor torácica», refere Miguel Toscano Rico. Em alguns casos, «existe ainda pieira, tosse seca e cefaleias», assim como dores articulares, palpitações, uma maior dificuldade em tolerar o exercício físico e «persistência das alterações na perceção do olfato e paladar». Embora ainda não existam dados sobre a COVID longa em Portugal, os números apresentados em estudos realizados noutros países revelam que a persistência de sintomas após infeção é mais frequente nas pessoas que tiveram formas severas de COVID-19. «Nos doentes internados no hospital com formas graves de COVID-19, estamos a falar na ordem de 70 por cento os que têm sintomatologia de long COVID aos três meses. Aos seis meses, andarão em torno dos 50 por cento. No caso de doentes que tiveram formas ligeiras de COVID, os estudos noutros países apontam para valores na ordem dos dez por cento, o que são números muito significativos de doentes com forma ligeira e que depois têm sintomatologia tardia», lamenta o especialista.

A sensação de nevoeiro mental pode perdurar oito meses após a infeção por SARS-CoV-2

Quando a névoa cerebral é um sintoma

Apesar de se associar a COVID longa sobretudo a sequelas físicas, «há um número muito significativo de pacientes com sintomatologia neurocognitiva», refere Miguel Toscano Rico, que adianta ainda que esta é uma consequência que não escolhe sexo ou idade e que não está à mercê de «situações de incapacidade prévia». Há cada vez mais relatos «daquilo a que os ingleses chamam brain fog, uma dificuldade de concentração e de organizar o pensamento», situação descrita como névoa cerebral ou confusão mental e que tem impacto direto na capacidade de realizar as tarefas do dia a dia, para não dizer nas consequências a nível laboral. «Há estigma. Os doentes que têm estas queixas têm-nas efetivamente e isso faz com que sejam mal compreendidos; não é fácil explicar no trabalho.» Alguns estudos apontam que o brain fog está ainda associado a dores de cabeça e perda de memória de curto prazo e que pode manifestar-se ao longo de vários meses. A depressão e a ansiedade são também quadros clínicos associados à COVID longa, mas o especialista afirma que não estão na base do brain fog. Podem, na verdade, ser a consequência da frustração causada pela persistência de sintomas físicos, alguns deles incapacitantes.

O Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (Amadora- -Sintra), o Hospital Santa Marta (Lisboa) e a Unidade Local de Saúde do Nordeste dispõem de acompanhamento pós-COVID e os hospitais privados já têm unidades especializadas

A importância da reabilitação pós-COVID

«A reabilitação funcional, muscular e respiratória é o pilar da retoma da atividade física e laboral no dia a dia das pessoas com long COVID», lembra Miguel Toscano Rico, responsável pela Clínica de Atendimento Pós-COVID do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, pioneira no acompanhamento de pacientes com COVID de longa duração. Esta reabilitação deve acontecer «tão precocemente quanto possível». Contudo, a reabilitação para fazer face à sintomatologia neurocognitiva «ainda tem sido um pouco precária, não existem grandes estudos sobre quais as terapêuticas eficazes. Mas sabemos que melhorar a condição física é sempre um bom começo para melhorar a condição cognitiva», garante. Atualmente, já existem estratégias em vigor: «Estamos a aplicar escalas para perceção de alterações de memória e perceção cognitiva. Simultaneamente, fazemos o rastreio e o tratamento de outras circunstâncias que possam interferir na memória, como défices nutricionais, de vitamina B12 ou ácido fólico, e a função tiroideia». Além disso, estão também a ser criadas «estratégias de estimulação neurocognitiva», destaca.


12 sintomas de COVID longa

  1. Cefaleia
  2. Confusão mental (brain fog)
  3. Dispneia (falta de ar)
  4. Dor articular
  5. Dor muscular
  6. Dor torácica
  7. Fadiga
  8. Palpitações
  9. Perda (anosmia) ou mudança na perceção do olfato
  10. Perda (disgeusia) ou mudança na perceção do paladar
  11. Pieira
  12. Tosse seca

Associação Inspiro2: reabilitação funcional gratuita dos doentes pós-COVID

Criada em plena pandemia, a InspirO2 pretende dar resposta «na reabilitação funcional dos doentes pós-COVID», fazendo da telerreabilitação a principal aliada. O programa de reabilitação – aulas online gratuitas de 45 minutos, duas a três vezes por semana, durante oito semanas – é feito por fisioterapeutas da área de intervenção cardiorrespiratória, em colaboração com estudantes finalistas da Licenciatura em Fisioterapia. O programa inclui «exercícios que contemplam o fortalecimento muscular, treino aeróbio de equilíbrio e flexibilidade e uma componente de educação para a saúde», lê-se no site inspiro.pt. Segundo o seu mentor, Miguel Toscano Rico, a taxa de adesão tem sido positiva e as desistências quase nulas, pois as pessoas sentem efetivamente melhorias na sua condição. «Fazemos avaliações seriadas antes, durante e no final, percebemos nós e elas que melhoraram, conseguimos quantificar o quão evoluem», explica. O próximo passo é «trabalhar em conjunto com as faculdades de Psicologia para desenvolver programas de estimulação e avaliação neurocognitiva».

Última revisão: Dezembro 2021

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