Sida e VIH: o que tem mesmo de saber

Sida e VIH: O que sempre quis saber, mas nunca perguntou

Como se transmite, quais os sintomas e muitas outras respostas sobre o vírus da imunodeficiência humana (VIH ou, em inglês, HIV) e sida que tem de saber.

  • PorVanda OliveiraJornalista
  • RevisãoDra. Joana Boto FernandesMédica infecciologista

O vírus da imunodeficiência humana (VIH ou HIV, do inglês Human Immunodeficiency Virus) ataca o sistema imunitário, deixando o organismo mais vulnerável a infeções e certos tipos de cancro. Sem tratamento, os doentes tornam-se gradualmente imunodeficientes. Quando surgem manifestações clínicas graves, os doentes são diagnosticados com sida (síndroma de imunodeficiência adquirida). Esta é a fase terminal da infeção por VIH que já tirou a vida a mais de 35 milhões de pessoas em todo o mundo.

Graças aos avanços da ciência e a uma maior informação, entre 2000 e 2017, o número de novas infeções caiu 38 por cento e 11,4 milhões de pessoas sobreviveram à doença. Mesmo assim, só em 2017 surgiram 1,8 milhões de novos casos e a Organização Mundial da Saúde estima que apenas 75 por cento das pessoas com infeção por VIH estejam diagnosticadas. Conhecer as estratégias de prevenção, as formas de transmissão do vírus e a importância de realizar o teste de VIH pode ajudar a salvar muito mais vidas e a acabar com a epidemia da sida.

Como se transmite o VIH?

O VIH está presente no sangue, no sémen e nos fluidos vaginais das pessoas infetadas. O contágio pode ocorrer quando esses fluidos entram em contacto com outra pessoa pela via sexual ou sanguínea. A via sexual é a principal forma de transmissão do vírus, mas o risco de contágio é variável: o sexo anal é o que implica maior risco, especialmente para o recetor; o sexo vaginal apresenta maior risco para as mulheres do que para os homens; e o sexo oral tem um risco de transmissão muito inferior à penetração anal ou vaginal.

A maioria dos doentes permanece sem quaisquer sinais de infeção durante dez ou mais anos

Outras formas de contágio incluem a partilha de agulhas, seringas, água destilada ou outros materiais utilizados na preparação de drogas injetáveis e a transmissão de mãe para filho, durante a gravidez, parto ou amamentação.

O coito interrompido pode ser uma forma de prevenir o VIH?

Embora esta prática possa, em teoria, reduzir o risco de infeção no parceiro recetor, não elimina o risco, uma vez que o VIH está também presente nos fluidos libertados antes da ejaculação. Além disso, esta prática não altera o risco para o parceiro que faz a penetração.

O preservativo é 100% eficaz na proteção contra o VIH/sida?

Não. A única forma que impede a 100% a transmissão do vírus pela via sexual é não fazer sexo. No entanto, quem é sexualmente ativo pode diminuir bastante o risco de contágio se, a par do uso correto do preservativo em todas as relações sexuais, tiver outros cuidados: tratar outras infeções sexualmente transmissíveis, já que estas aumentam o risco de infeção por VIH; e reduzir o número de parceiros sexuais ao longo da vida, diminuindo a probabilidade de ter um parceiro infetado por VIH.

Quais os sintomas da infeção por VIH e sida?

A infeção por VIH pode produzir alguns sintomas passageiros semelhantes a qualquer outra infeção como febre, dor de garganta ou mal-estar geral, mas a maioria dos doentes permanece sem quaisquer sinais de infeção durante dez ou mais anos. À medida que o sistema imunitário vai enfraquecendo, podem surgir outros sinais e sintomas, como gânglios linfáticos inchados, perda de peso acentuada, febre, diarreia e tosse. Sem tratamento, podem desenvolver-se infeções graves, como tuberculose ou meningite, e tumores, indicadores de sida.


Como posso saber se tenho VIH?

A única forma de saber se é ou não portador de VIH é fazendo o teste. Mesmo quem não tem comportamentos de risco deve realizar o teste para rastreio da infeção por VIH pelo menos uma vez na vida.

Onde se faz o teste ao VIH?

O teste ao VIH pode ser realizado através de uma colheita de sangue e análise juntamente com outros exames de rotina prescritos pelo seu médico de família. Pode também ser feito um teste rápido, sem necessidade de marcação prévia, de forma gratuita e anónima, nos Centros de Aconselhamento e Deteção Precoce do VIH (CAD). E nas farmácias também já está disponível.

O teste pode dar um falso positivo?

Raramente, mas o mais frequente é haver infeção por VIH e o resultado ser negativo. Os testes de rastreio da infeção por VIH realizados em laboratório (com sangue colhido por punção venosa) apenas detetam a infeção 18 a 45 dias após a sua ocorrência; os testes rápidos (com sangue obtido através de uma picada no dedo) podem detetar a infeção apenas 90 dias depois. Por este motivo, caso tenha havido comportamento de risco, a colheita de sangue deve ser realizada 45 dias após o contacto. Na dúvida, o teste deve ser repetido três meses após o evento.

Qual a diferença entre ter VIH e sida?

A infeção por VIH ataca o sistema imunitário, mais precisamente os linfócitos T CD4+ responsáveis por proteger o organismo de infeções e alguns tipos de cancro. Gradualmente, os doentes tornam-se imunodeficientes, ficando mais suscetíveis a doenças que pessoas com um sistema imunitário saudável podem combater.

A presença de outras infeções sexualmente transmissíveis aumenta o risco de infeção por VIH

Sem tratamento, dois a 15 anos após a infeção, os doentes com VIH desenvolvem a síndroma de imunodeficiência adquirida (sida), o estádio mais avançado da infeção, definida pelo desenvolvimento de infeções oportunistas, certos cancros e/ou outras manifestações clínicas graves. Com o tratamento correto administrado precocemente, podem nunca vir a desenvolver sida.

Se eu tiver VIH e engravidar, o bebé terá a doença?

A infeção por VIH é transmitida de mãe para filho, mas com uma terapêutica antirretroviral adequada à mãe, durante a gravidez e o parto, e ao bebé, administrada nas primeiras quatro a seis semanas após o nascimento, e se a amamentação for evitada, o risco de transmissão pode ser inferior a um por cento. Sem tratamento antirretroviral, o risco de transmissão da infeção por VIH de mãe para filho durante a gravidez e o parto é de 15 a 30 por cento, ao qual acresce um risco de transmissão de dez a 20 por cento em caso de amamentação prolongada, indica um estudo publicado no British Medical Journal Clinical Evidence.

Se eu tiver VIH quanto tempo vou viver?

Graças aos avanços da ciência, com a atual terapêutica antirretroviral e o maior acesso aos tratamentos, os doentes da América do Norte e da Europa têm uma esperança de vida muito próxima da do resto da população, calculando-se que uma pessoa que contraia a infeção aos 20 anos possa viver até aos 78 anos, indica um estudo publicado em maio de 2017 no The Lancet. Em Portugal, a esperança de vida à nascença para o total da população é de cerca de 80 anos, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

Já existe uma vacina contra o VIH?

Não, mas existe um medicamento (Profilaxia Pré-Exposição ou PrEP) que, tomado diariamente, ajuda a reduzir o risco de infeção por via sexual em mais de 90 por cento e entre pessoas que consomem drogas injetáveis em mais de 70 por cento. Usado em combinação com outras estratégias de prevenção, como o uso de preservativo, é possível reduzir ainda mais o risco de infeção por via sexual. O medicamento está disponível em Portugal e é indicado para pessoas em situação de risco acrescido de infeção por VIH, por exemplo, quem tem um parceiro sexual seropositivo.

Já existe cura para o VIH/sida?

Ainda não existe cura para a infeção por VIH e sida, mas a atual terapêutica antirretroviral, tomada diariamente conforme prescrito, permite impedir a replicação do vírus e reduzir a quantidade de VIH presente no sangue para níveis tão reduzidos que se tornam indetetáveis nas análises. Quando os pacientes atingem este estado de carga viral indetetável, o sistema imunitário recupera a capacidade de lutar contra infeções e anula-se o risco de transmissão do vírus por via sexual a um parceiro que seja VIH negativo. O tratamento antirretroviral é recomendado pela Organização Mundial da Saúde a todas as pessoas com VIH durante toda a vida. Em Portugal, esta terapêutica é gratuita e de distribuição hospitalar.

 

Fontes:

www.who.int

www.cdc.gov

www.hiv.gov

www.pnvihsida.dgs.pt

www.apf.pt

 


[ Números que surpreendem ]

VIH e sida em Portugal

Entre 1983 e 2017, foram diagnosticados em Portugal 57 574 casos de infeção por VIH. Desses, 22 028 doentes atingiram o estádio sida e 14 500 morreram. Os dados mais recentes da Direção-Geral da Saúde indicam ainda que:

  • Em 2016, estima-se que existiriam 38 959 pessoas a viver com VIH em Portugal, das quais 35 709 (91,7 por cento) diagnosticadas. Dessas, 31 mil (86,8 por cento) encontravam-se em tratamento e, destas, 28 007 (90,3 por cento) tinham a doença controlada (com carga viral indetetável).
  • Em 2017, surgiram 886 novos casos de infeção por VIH. 71,4 por cento destes novos diagnósticos ocorreram em homens.
  • A transmissão por contacto heterossexual foi a mais frequente (60,6%), seguida pela transmissão por relações sexuais entre homens (36,9%).
  • A transmissão associada ao consumo de drogas por via injetável é indicada em apenas 1,5 por cento dos casos registados em 2017.
  • 68 por cento dos casos encontravam-se assintomáticos e 16 por cento apresentavam uma doença indicadora de sida.

Fonte: Adaptado a partir de dados do relatório Infeção VIH e Sida – Desafios e Estratégias 2018, da Direção-Geral da Saúde

Última revisão: Dezembro 2018

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