Calcula-se que, no fim desta década, cerca de um terço da população mundial – 2,5 mil milhões de pessoas – seja míope. Um estudo divulgado pela revista Nature indica que a miopia afeta cerca de metade dos jovens adultos dos EUA e da Europa, ou seja, o dobro dos valores de há 50 anos. Em Portugal, a doença atinge cerca de 25 por cento da população. O problema denuncia-se pela «dificuldade de visão ao longe, como quando a criança ou jovem se aproxima muito do ecrã da televisão ou dos objetos, por exemplo, na leitura, para ver melhor», descreve Manuel Monteiro Grillo, médico oftalmologista, à Revista Prevenir.
Miopia: o que é?
«A miopia axial, a mais frequente e pertinente neste momento, trata-se de um aumento da dimensão do globo ocular, nomeadamente do seu eixo antero-posterior, levando a que as imagens se foquem num ponto à frente da retina, ficando, assim, desfocadas», explica Manuel Monteiro Grillo à Revista Prevenir.
Estudos recentes apontam o facto de as crianças passarem muito tempo em espaços fechados, e não ao ar livre, e o aumento do uso de dispositivos eletrónicos como as principais causas para o aumento da incidência de miopia
Em casos mais severos, esta deformação estica e torna mais fina a parte interior do olho, aumentando o risco de descolamento da retina, cataratas, glaucoma e de cegueira. «Os hábitos de vida podem influenciar o seu aparecimento e progressão, nomeadamente a fixação da visão ao perto por longos períodos, em, por exemplo, dispositivos electrónicos», refere o especialista.
A origem do problema
Estudos recentes apontam o facto de as crianças passarem muito tempo em espaços fechados, e não ao ar livre, e o aumento do uso de dispositivos eletrónicos como as principais causas para o aumento da incidência de miopia. Uma vez que o olho cresce durante a infância, a miopia desenvolve-se em crianças em idade escolar e adolescentes. A luz estimula na retina a libertação de dopamina, um neurotransmissor que bloqueia o alongamento do olho durante o desenvolvimento. A dopamina é produzida durante o dia, sendo esta a substância que “diz” ao olho que deve passar do modo de visão noturna para a diurna.
Com base em estudos epidemiológicos, 3 horas é, segundo um investigador da Australian National University, o tempo que as crianças devem passar por dia ao ar livre, expostas a um tipo de luz equivalente a estar à sombra de uma árvore, com óculos de sol, num dia de verão
A luz mais escura, em espaços fechados, quebra o ciclo normal do olho, tendo consequências negativas no seu crescimento. «A miopia pode ter fatores genéticos envolvidos: encontramos frequentemente famílias em que a miopia é muito comum. Uma possibilidade será tentar modificar os aspetos genéticos que determinam o seu aparecimento. Poderá, a longo prazo, aparecer alguma forma de evitar o aparecimento da doença, mas, neste momento, nada o indica», afirma Manuel Monteiro Grillo.
Corrigir a miopia
«Pode recorrer-se à cirurgia para correção da miopia – normalmente não é comparticipada, exceto em casos especiais –, mas nunca antes de esta ser considerada estabilizada, o que acontece por volta dos 20 anos. O olho continua a ser míope, mas modificando, por exemplo, o poder dióptrico da córnea, é possível anular a miopia artificialmente», explica Manuel Monteiro Grillo à Revista Prevenir.
Proteja os seus olhos
«Não há como evitar o aparecimento da miopia, mas a evolução poderá ser mais benigna se modificarmos o estilo de vida», indica Manuel Monteiro Grillo à Revista Prevenir.
- Passe mais tempo ao ar livre – é importante expor a visão à luz solar.
- Inclua na sua alimentação nutrientes fundamentais na prevenção de doenças oculares: luteína e zinco (ovos), vitamina C (frutos vermelhos, citrinos), ácidos gordos (peixes).
- Evite o excesso de leitura próxima. Faça pausas com frequência, adotando a regra dos 20: 20 minutos de leitura, 20 segundos de pausa, olhando para longe, no mínimo 20 pés (seis metros).
- Sentado à secretária, adote uma posição confortável, com o ecrã cerca de 10 a 15 graus abaixo da linha dos olhos.
- Consulte o médico oftalmologista. Os rastreios nas crianças e jovens, grupos em que a miopia tem maior tendência para avançar, devem ser feitos anualmente ou, caso haja sinais de progressão, com maior frequência.