Que tipo de incontinência urinária é a sua?

incontinência urinária: soluções

Identificar a natureza do problema é o primeiro passo para definir o tratamento, existente para mais de 80 por cento dos casos de incontinência urinária.

  • PorBárbara BettencourtJornalista

  • Colaboração e revisão científicaDr. Paulo TemidoMédico urologista

Afeta 20 por cento dos portugueses com mais de 40 anos, segundo dados da Associação Portuguesa de Urologia. No entanto, apenas dez por cento procura ajuda médica. «A incontinência urinária é uma patologia subdiagnosticada e subtratada devido a medos, tabus e desconhecimento das terapêuticas, apesar de haver formas de tratamento cada vez mais eficazes que já curam ou melhoram mais de 80 por cento dos casos», garante o médico urologista Paulo Temido à Revista Prevenir. Mas porque não há apenas um tipo de incontinência, o primeiro passo é fazer um diagnóstico preciso.

“Acontece quando tusso, espirro ou rio”

Perder urina nestas situações é um sintoma clássico da incontinência urinária de esforço. Na mulher, é a causa mais comum de incontinência crónica (75 por cento do casos) e está muito associada à gravidez, ao parto e à menopausa, mas também pode ser motivada por «obesidade, tosse crónica ou cirurgias pélvicas», acrescenta o urologista Paulo Temido.

33 por cento das mulheres e 16 por cento dos homens com mais de 40 anos têm sintomas de incontinência urinária, segundo a Associação Portuguesa de Urologia

Na gravidez, esta forma de incontinência urinária ocorre porque a combinação de alterações hormonais, a pressão sobre a bexiga exercida pelo útero e o esforço do próprio parto contribuem para enfraquecer os músculos pélvicos que não resistem ao aumento da pressão intra-abdominal que ocorre quando tossimos, espirramos ou rimos. Na menopausa, é a diminuição de estrogénios que provoca a atrofia vaginal e da uretra, o que contribui para a incontinência. No homem, «surge quase sempre ligada a problemas da próstata, nomeadamente cirurgias que podem causar lesão nos esfíncteres urinários», explica o médico.

Soluções

  • Exercícios do pavimento pélvico Técnicas de fisioterapia para exercitar os músculos que suportam e mantêm a bexiga, o útero e os intestinos na cavidade pélvica. Além de fortalecerem estes músculos e de melhorarem os sintomas em 70 por cento dos casos, evitam o descaimento da bexiga que ocorre em idades avançadas. Os mais conhecidos são os exercícios de Kegel ou de reeducação períneo esfincteriana.
  • Aplicação local de estrogénio Alivia os sintomas em mulheres na menopausa.
  • Cirurgia «É o tratamento mais eficaz e duradouro. Pode ser feita em regime ambulatório, tem taxas baixas de complicações e uma taxa de sucesso superior a 90 por cento. Consiste na colocação de uma fita sintética sob a uretra, aumentando o apoio em situações de esforço. Pode ser associada a outras cirurgias de reforço do pavimento pélvico quando coexistem prolapsos (descaimento) dos órgãos pélvicos. Em alguns casos, é eficaz a injeção de substâncias à volta da uretra. Nos homens, além de cirurgias pouco invasivas equivalentes que se aplicam nos problemas mais ligeiros, a solução passa por colocar um esfíncter urinário artificial», refere Paulo Temido.

“Não consigo chegar a tempo à casa de banho”

A sensação de necessidade urgente e frequente de ir à casa de banho, não conseguindo por vezes chegar a tempo, embora a bexiga não esteja cheia, é o principal sintoma da chamada incontinência por imperiosidade ou urgência. «Ocorre na maioria das vezes por hiperatividade da bexiga (contrações involuntárias da bexiga), uma situação que se torna mais prevalente com a idade».

«Alguns tipos de incontinência podem ser facilmente tratados com medicamentos ou cirurgia que não implica internamento, podendo a vida normal ser retomada horas ou dias depois»

Também pode ocorrer devido a perturbações neurológicas como o AVC, a demência, a doença de Parkinson ou de Alzheimer, ou seja, patologias capazes de gerar danos ou interferências nas terminações nervosas que asseguram a comunicação entre o cérebro e a bexiga.

Soluções

  • Treino vesical Consiste em treinar a bexiga para aguentar uma maior quantidade de urina, durante mais tempo, diminuindo o número de idas à casa de banho. Os resultados são melhores quando é associado a medicamentos. Funciona em cerca de metade dos casos.
  • Reeducação períneo-esfincteriana Consiste em estimular aqueles músculos com vista ao fortalecimento do tónus na zona pélvica, através dos exercícios de Kegel.
  • Medicamentos «Há fármacos orais que estabilizam as contrações involuntárias da bexiga, como os anticolinérgicos. Recentemente surgiu um novo – o mirabegron –, igualmente eficaz e com menos efeitos secundários», explica Paulo Temido.
  • Cirurgia «Nos casos mais difíceis, pode recorrer-se à injeção de toxina botulínica intravesical (na parede da bexiga), à neuromodulação sagrada (aplicação de um neuroestimulador da bexiga aplicado nas raízes nervosas da espinal medula), bem como outras cirurgias de maior complexidade», ilustra o urologista.

“Tenho pequenas perdas ao longo do dia”

Se notar uma fuga incontrolada de pequenas quantidades de urina sem estar associada a movimentos ou à tosse e riso, pode ter incontinência por extravasamento, que ocorre quando a bexiga está permanentemente cheia e insensível devido à retenção crónica da urina. Se isto acontece, a pressão na bexiga aumenta e perde gotas de urina. «Trata-se, em bom rigor, de uma falsa incontinência pois o doente encontra-se em retenção urinária crónica», explica o especialista Paulo Temido.

«Mais de 80 por cento de todas as incontinências podem ser curadas ou melhoradas com os tratamentos atualmente disponíveis»

A principal causa «é a existência de um obstáculo à saída da urina da bexiga, situação mais frequente nos homens, habitualmente por patologia da próstata. Mas outros problemas que diminuem a capacidade de contraçãoda bexiga podem resultar no mesmo quadro, como o uso crónico de alguns medicamentos, traumatismos da espinal medula e lesões nervosas provocadas por esclerose múltipla ou diabetes».

Solução

  • Cirurgia Quando a causa é uma obstrução, o tratamento passa pela eliminação cirúrgica desse obstáculo. Se o problema é a contractilidade da bexiga, «na maioria dos casos a solução é a algaliação, seja com recurso a sondas vesicais permanentes ou através de um autocateterismo vesical intermitente, ou seja, uma sonda que se coloca para vazar a bexiga e que se retira após cada esvaziamento. São procedimentos comuns por falta de melhores alternativas mas que obviamente têm impacto na qualidade de vida», afirma o médico.

Prevenção e controlo da incontinência urinária

Pequenos cuidados que fazem muito pela saúde da sua bexiga.

  • Urinar a cada duas ou três horas para manter a bexiga relativamente vazia.
  • Evitar consumir alimentos picantes, café, álcool e bebidas com gás.
  • Beber seis a oito copos de água por dia, para impedir que a urina se concentre em demasia.
  • Regularizar a função intestinal.
  • Controlar o peso, de forma a diminuir a pressão nos músculos abdominais e pélvicos.
  • Evitar roupa difícil de abrir, sobretudo no caso da incontinência urinária de imperiosidade.
  • Usar métodos de contenção como os pensos diários próprios (de absorção mais rápida do que os pensos diários da menstruação) e roupa interior absorvente, indicada para perdas maiores de urina.

Ginástica pélvica

Criados por Hans Kegel em 1948, estes exercícios ajudam a fortalecer os músculos do pavimento pélvico.

  • 1º passo: Descubra os músculos que precisa de exercitar: quando for à casa de banho tente parar o fluxo de urina – são esses.
  • 2º passo: Contraia esses músculos sem contrair as nádegas ou as pernas (contrair o ânus pode ajudar).
  • 3º passo: Faça estas contrações, primeiro contraindo um ou dois segundos e depois chegando até aos dez segundos de contração. Repita em séries de 30 ou 40 contrações, várias vezes por dia.

Há medicamentos que provocam incontinência urinária, sabia?

Existem medicamentos que podem comprometer a função urinária. É o caso de alguns sedativos e hipnóticos (diazepam), dos diuréticos de alça (furosemida), de fármacos para a hipertensão – como os bloqueadores dos recetores alfa-adrenérgicos ou bloqueadores de canal de cálcio –, e ainda alguns antidepressivos, antiparkinsonianos, antiespasmódicos e opiáceos. Geralmente, a situação melhora com a suspensão ou mudança da medicação.

Última revisão: Maio 2015

artigos recomendados

Previous Next
Close
Test Caption
Test Description goes like this