HPV, a infeção que todos temos de prevenir

HPV, a infeção que todos temos de prevenir

A prevenção e deteção precoce do HPV ou papilomavírus humano é fundamental, uma vez que é um vírus responsável pelo desenvolvimento de cancros que afetam mulheres e homens.

  • PorCarlos Eugénio AugustoJornalista

  • Entrevista aDra. Marcela ForjazMédica ginecologista

Calcula-se que «entre 75 e 80 por cento da população sexualmente ativa em Portugal contacte com este vírus em alguma altura da vida», explica Marcela Forjaz, médica ginecologista. A sua prevenção e deteção precoce é fundamental, uma vez que é um vírus responsável pelo desenvolvimento de cancros que afetam mulheres e homens.

Como se transmite o HPV?

Pelo contacto direto ou indireto com alguém que tenha a lesão. Embora a nossa pele e mucosas constituam uma barreira de defesa contra agressões, se houver áreas frágeis devido a traumatismos, pequenas agressões ou macerações, provocam a perda de solução de continuidade na pele, possibilitando a infeção viral. Assim, compreende-se que a via sexual seja a mais frequente na transmissão, mas não exclusiva, podendo o contacto direto com pele infetada resultar também em contaminação.

Quais os tipos mais prevalentes desta infeção?

Sabemos que existem tipos de alto e baixo risco, e uma maior prevalência associada a lesões graves, com destaque para o cancro do colo do útero, sendo os HPV 16 e 18 responsáveis por cerca de 70 por cento dos carcinomas cervicais (do colo do útero) e 50 por cento das neoplasias intraepiteliais de grau III. Os tipos 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52 e 58 também têm sido detetados no cancro cervical uterino. Além disso, encontrou-se uma relação causal entre a infeção por HPV e todos os casos de cancro do colo do útero.

«Na maior parte das vezes, não existem sintomas. Ainda assim, ocasionalmente, pode causar comichão, raramente sensação de inflamação e descamação local»

Qual a diferença entre tipos de alto e baixo risco?

Essa distinção deriva da maior ou menor gravidade das lesões provocadas. Por exemplo, um tipo de baixo risco pode dar origem a lesões benignas, como uma verruga vulgar da pele. Os de alto risco, além de associados ao cancro do colo do útero, podem causar cancro da vulva, do pénis, laríngeo e anal. Está ainda a ser estudado o papel do HPV em cancros de pele diferentes do melanoma.

Quais as principais causas de uma infeção por HPV?

Sobretudo, a prática sexual não protegida, desconhecimento de cuidados a tomar, como evitar depilações em locais menos idóneos e o contacto direto com equipamentos como bancos de balneários, por exemplo, assim como falhas no rastreio e na toma da vacina contra alguns dos HPV. Outros fatores envolvidos no risco serão o início precoce da vida sexual, o número de parceiros sexuais, alterações da imunidade celular, tabagismo e a presença de outras infeções sexualmente transmissíveis.

Como se manifesta esta doença?

Na maior parte das vezes, não existem sintomas. Ainda assim, ocasionalmente, pode causar comichão, raramente sensação de inflamação e descamação local. Mesmo com condilomas (verrugas), na maioria dos casos é assintomático, podendo haver comichão ou queixas secundárias ao trauma ou sobre infeção, como hemorragia ou pus.

Existe maior incidência da infeção nos primeiros 12 meses após o início da vida sexual, assim como entre os 45 e os 55 anos

Quais os órgãos mais afetados?

A vulva, o colo uterino, a zona perianal, o ânus e a cavidade oral, laringe e faringe, sendo esta prevalência associada às práticas sexuais. É também frequente observarem-se lesões extensas nas áreas púbicas e perineais em ambos os sexos.

E estão definidos alguns grupos de risco?

Diria quem não faz o rastreio ou não toma a vacina. Ainda assim, estudos revelam que existe maior incidência da infeção nos primeiros 12 meses após o início da vida sexual, assim como entre os 45 e os 55 anos. O que é essencial reter é que, por exemplo, o preservativo protege, mas não confere proteção total. Para ser infetado basta o contacto pele com pele, mesmo sem penetração. E tanto homens como mulheres podem transmitir o vírus.

Ainda que possa ser transmitido por ambos os sexos, o HPV afeta mais homens ou mulheres?

Esta é uma infeção que afeta ambos os sexos, embora o trato genital feminino seja facilitador, por questões anatómicas ou hormonais, sendo frequentemente subclínico no homem. Por outro lado, estão descritas duas fases de pico de prevalência de HPV na mulher: até aos 25-30 anos, e, de novo, entre os 45 e os 55. Os homens mantêm a taxa de infeção ao longo da vida.

Por norma, como evolui este tipo de infeção?

A história natural da infeção por HPV passa por um período de incubação entre dois e oito meses, mas pode demorar até 20 anos. Devido a esta ampla variabilidade para o surgimento duma lesão, torna-se praticamente impossível determinar em que época e de que forma surgiu a infeção. O HPV pode estar latente vários anos e vir a expressar-se em qualquer altura associada a uma maior vulnerabilidade do sistema imunológico. Pode até acontecer que a infeção acabe por ser eliminada pelo próprio sistema imunitário, sem que o vírus tenha chegado a causar lesão. Os números variam conforme os estudos, mas um deles aponta para que a duração média da infeção pelo HPV seja de oito meses, mostrando que, após 12 meses, 70 por cento das mulheres já não estavam infetadas e que, após dois anos, apenas nove por cento manteve a infeção, o que significa que a maioria dos casos são transitórios.

Não se provando a eliminação pelo sistema imunitário, que tratamentos existem para combater esta infeção?

Os tratamentos dependem do tipo, extensão e gravidade da lesão e são sempre orientados pelo médico. Podem ir desde a eliminação de uma zona de lesão por métodos químicos ou por laser, até à excisão cirúrgica.

Mesmo após a eliminação da infeção do organismo, pode voltar-se a ser infetado?

Sim. Como existem vários subtipos, há sempre o risco de voltar a ocorrer o contacto com outro e ficar-se novamente infetado.


HPV: como proteger-se deste vírus

Marcela Forjaz, médica ginecologista, indica o que tem de fazer para prevenir a infeção e as suas complicações.

  • Vacinação
    «É o método mais eficaz. Aliás, o Programa Nacional de Vacinação (PNV) prevê a toma da vacina a todos os meninos e meninas a partir dos 10 anos, fazendo duas doses, com intervalo de seis meses. Por outro lado, recomenda-se a vacinação a todas as mulheres, sem limites etários, sendo que, na idade adulta e se já iniciou a vida sexual, a toma envolve três administrações. No caso dos homens, a vacina protege sobretudo do cancro laringeo e anal, pelo que embora para já seja apenas recomendada aos meninos, seria aconselhável que também os adultos a fizessem. Há estudos que demonstram a diminuição da eficácia da vacina nos homens a partir de determinadas faixas etárias, mas vai aparecendo em alguns artigos o benefício de que a façam até aos 26 anos. Em alguns países da América Latina, a vacina está recomendada em grupos especiais como nos homens com VIH, até aos 26 anos.»
  • Rastreios
    «Na mulher, recomenda-se a realização do rastreio de doença do colo uterino tendo como base a citologia convencional, ou em meio líquido, e/ou o teste de HPV de alto grau. Num segundo patamar, recorre-se à colposcopia (ou vulvoscopia) e biopsia. No homem, realiza-se a peniscopia e, caso haja necessidade, biopsia. A periodicidade e modo de rastreio serão determinados de acordo com o centro de saúde ou o médico assistente.»

O peso do HPV

O papilomavírus humano é responsável por:

100% dos cancros do colo do útero.

99% dos condilomas ou verrugas nos genitais.

84% dos cancros do ânus.

70% dos cancros da vagina.

47% dos cancros do pénis.

40% dos cancros da vulva.


Quando ir ao médico?

Sempre que exista qualquer sintoma relacionado com o trato genital, dever-se-á procurar ajuda médica, com especial atenção para o aparecimento de verrugas», recomenda Marcela Forjaz, médica ginecologista. Além disso, «é essencial apostar na medicina preventiva e no rastreio precoce de lesões precursoras do cancro. É por isso que se aconselha a ida regular ao médico, mesmo na ausência de qualquer sinal», sublinha a especialista.

Última revisão: Agosto 2022

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