Hipertensão: o que tem de saber sobre esta doença silenciosa

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A hipertensão — uma doença evitável — não dá sinal de alarme e aumenta os riscos de AVC e enfarte do miocárdio. Aprenda com Manuel de Carvalho Rodrigues, médico cardiologista, a medir a tensão e como mantê-la saudável.

  • PorCarlos Eugénio AugustoJornalista

  • ColaboraçãoDr. Manuel de Carvalho RodriguesMédico cardiologista

Estima-se que existam cerca de três milhões de hipertensos em Portugal, mas um terço não sabe que tem a doença. Esse desconhecimento «está associado ao facto de a hipertensão ser assintomática», alerta Manuel de Carvalho Rodrigues, médico cardiologista. Segundo o especialista, estes números «devem despertar um maior cuidado e atitude preventiva, nomeadamente através do hábito de avaliar a tensão arterial. Estamos perante uma doença que, infelizmente, é cada vez mais precoce e deve ser tida em conta a partir dos 30 anos, ainda que, naturalmente, a tensão arterial tenda a ficar mais elevada com a idade».

Valores de referência da tensão arterial

Definidos nas guidelines da Sociedade Europeia de Hipertensão (ESH) são os valores de referência de pressão arterial, que alertam para um potencial caso de hipertensão. Neste caso, isso «significa ter valores acima do que se considera normal, isto é, uma tensão arterial superior a 14/9», explica Manuel de Carvalho Rodrigues. «Falamos de uma unidade que compreende um valor máximo (tensão sistólica), que avalia a pressão com que o coração bombeia o sangue que nele circula sobre os vasos sanguíneos, e um valor mínimo (tensão diastólica), que representa a distensão dos vasos para se acomodar à referida pressão», esclarece. «A pressão arterial que, teoricamente, melhor se adaptaria a todos seria 12/8. Mas quando falamos de hipertensão, temos ainda uma “almofada” de valores entre 12/8 e 14/9, isto é, uma tensão ainda normal, não sendo ideal», refere. A idade é um dado determinante nesta equação, principalmente em termos de vigilância, como exemplifica o especialista: «Quando uma pessoa de 30 anos tem uma pressão arterial de 11/6, diria que, nos próximos cinco anos, não precisa de se preocupar. Se tem 13/8, é aconselhável voltar a medir no ano seguinte».

O envelhecimento é um dos principais fatores de risco de hipertensão, dai que se recomende, principalmente acima dos 60 anos, uma vigilância regular dos valores de tensão arterial. E, mesmo que estes estejam dentro dos parâmetros normais, deve fazer-se, pelo menos, uma medição anual

Hipertensão: uma doença silenciosa

Dos três milhões de hipertensos portugueses, «entre 95 e 98 por cento não apresenta qualquer causa conhecida. Isso enquadra-os no tipo primário da doença. Os restantes, aos quais foi identificada uma razão, facto muito associado ao estilo de vida, têm hipertensão secundária», contextualiza o especialista. Neste quadro, «o mais importante é ter noção de que as consequências são idênticas nos dois tipos, isto é, comorbidades como o AVC, um problema que mata um a dois portugueses em cada cinco, enfarte do miocárdio e aterosclerose, ainda que com menor incidência». Independentemente do tipo, «na esmagadora maioria dos casos, não existem sintomas pois a hipertensão é uma doença “silenciosa”. Só sabemos se somos hipertensos ao medir a tensão arterial», sentencia Manuel de Carvalho Rodrigues.

Sal, o principal inimigo

Perante a dúvida de quais são os principais fatores de risco de hipertensão, o médico cardiologista é taxativo: «A guerra tem de ser travada em prol da restrição do consumo exagerado de sal, aquele que é o verdadeiro veneno do nosso estilo de vida e o inimigo número um da tensão arterial». No entanto, o especialista alerta para outras batalhas também decisivas nessa luta, como «a moderação do consumo de álcool, seguir uma dieta à base de legumes, produtos lácteos com baixo teor de gordura, fibras e proteínas de fontes vegetais, com redução de gordura saturada e colesterol, a cessação tabágica, o controlo do peso e a prática regular de exercício físico».

«A partir dos 30 anos, a vigilância deve ser anual»

Quando medir a tensão arterial

Estar a par dos valores da pressão arterial é essencial para combater a hipertensão e Manuel de Carvalho Rodrigues recomenda que «se estabeleça como hábito ao longo da vida, desde tenra idade». Segundo o especialista, «é importante ter noção desses dados a partir dos 3 anos. No entanto, neste caso não se trata de fazer uma vigilância muito apertada. Se o valor da tensão arterial estiver dentro do percentil normal poderá reavaliar-se de cinco em cinco anos. Caso contrário, dependerá do percentil em que está, mas nunca mais de um ano». No universo dos «jovens adultos, regra geral recomenda-se, pelo menos, uma medição a cada cinco anos, isto se os valores estiverem longe de 14/9. A partir dos 30 anos, a vigilância deve ser anual», afirma o especialista. «Em Portugal, felizmente, sempre que se vai ao médico de família há uma consciencialização para que seja medida a tensão arterial. Graças a isso, em dez anos conseguimos reduzir a incidência de AVC em 46 por cento, algo único na Europa», congratula-se.

Confirmação do diagnóstico de hipertensão

A presença de um valor anormal de pressão arterial, e que pode indiciar um cenário de hipertensão, «apenas pode ser confirmado pela medição, seja feita em casa pelo próprio paciente ou em consultório», garante Manuel de Carvalho Rodrigues. Para isso, «aconselha-se a fazer a medição sempre em condições semelhantes durante sete dias. Nesse período devem fazer-se seis avaliações: três de manhã, três à tarde. As seis primeiras, ou seja, as do primeiro dia, devem ser desprezadas. Depois é feita a média das outras seis medições dos restantes seis dias e verifica-se se esse valor está acima ou abaixo de 14/9», explica. Esse valor pode também ser conhecido «através de um exame denominado monitorização ambulatória da pressão arterial e que é realizado, durante 24 horas, através de um dispositivo colocado na cintura do paciente que insufla uma bolsa de borracha aplicada no braço».

«Nunca é demais sublinhar a importância de ter cuidado com a alimentação, principalmente pela restrição do consumo de sal e ingestão de bebidas alcoólicas, não fumar, fazer exercício físico e estar atento à pressão arterial»

Tratar a hipertensão

«O único tratamento da hipertensão, independentemente do tipo, implica o recurso a três grupos farmacológicos: modulados do sistema renina-angiotensina- -aldosterona, antagonistas do cálcio e diuréticos. São estes que permitem controlar a esmagadora maioria dos hipertensos», explica Manuel de Carvalho Rodrigues. «Em Portugal, dispomos de várias opções de tratamento, todas comparticipadas pelo Estado. As guidelines da Sociedade Europeia de Hipertensão recomendam que se deva tratar, logo de início, um doente com, pelo menos, substâncias de dois dos referidos três grupos farmacológicos num só comprimido», explica. «Se esta abordagem não resultar, deve associar-se uma terceira substância». Perante a pergunta se se pode vencer a hipertensão sem o recurso a medicamentos, o cardiologista é perentório: «Na tipologia primária, essa abordagem é uma irresponsabilidade e potencia o risco de AVC. Agora, nos hipertensos de tipo secundário, pode ser possível, depois de uma fase inicial que inclui fármacos, encontrar uma abordagem de tratamento não medicamentos a que permita combater a causa identificada da doença».

Estilo de vida como prevenção

Seja antes ou depois de um diagnóstico de hipertensão, «é fundamental ter noção da responsabilidade de seguir um estilo de vida saudável», alerta o presidente da SPH. Assim, «nunca é demais sublinhar a importância de ter cuidado com a alimentação, principalmente pela restrição do consumo de sal e ingestão de bebidas alcoólicas, não fumar, fazer exercício físico e estar atento à pressão arterial. Neste último ponto, a análise deve ser matemática pois um valor aproximado do ótimo, ou normal não garante absolutamente nada», indica o médico cardiologista. «Temos de ser proativos e encarar a hipertensão como uma doença evitável – é descabido assistirmos a tantas mortes por uma patologia deste género».


Como medir a tensão arterial: passo a passo

Manuel de Carvalho Rodrigues, médico cardiologista e ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH), indica o que fazer para que a tensão arterial seja medida em condições ótimas:

  1. Evite bebidas alcoólicas, café e tabaco pelo menos 45 minutos antes de fazer a medição;
  2. Sente-se num local confortável, num ambiente calmo e repouse cinco minutos;
  3. Use um aparelho homologado, colocando a braçadeira na circunferência do braço. A medição no pulso não tem valor clínico.
  4. Para achar o valor correto, faça três medições separadas entre três e cinco minutos, “desprezando” a primeira, registando as outras. Caso os valores das duas primeiras sejam iguais ou muito próximos, dispense uma terceira;
  5. Tome nota dos valores e registe a data das medições num caderno unicamente dedicado aos controlos diários

Categorias de pressão arterial

De acordo com as guidelines da Sociedade Europeia de Hipertensão, existem várias categorias de pressão arterial:

  • Ótima <120 (sistólica) e <80 (diastólica)
  • Normal 120–129 (sistólica) e/ou 80–84 (diastólica)
  • Normal Alta 130–130 (sistólica) e/ou 85–89 (diastólica)
  • Hipertensão de grau I 140–159 (sistólica) e/ou 90–99 (diastólica)
  • Hipertensão de grau II 160–179 (sistólica) e/ou 100–109 (diastólica)
  • Hipertensão de grau III ≥ 180 (sistólica) e/ou <90 (diastólica)
Última revisão: Maio 2019

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