O acidente vascular cerebral (AVC) acontece quando o fornecimento de sangue a uma parte do cérebro é interrompido, levando a que as células cerebrais não recebam oxigénio, acabando por morrer. Todos corremos o risco de sofrer um AVC, independentemente da idade e da ausência de doenças que constituem um fator de risco acrescido, como a diabetes, a hipertensão ou a obesidade. Além destas, existem outros fatores que contribuem para o aumento do seu risco. São hábitos do dia a dia que quando modificados podem ajudar a prevenir o AVC.
Estratégias que ajudam a prevenir o AVC
Não fumar
«Fumar aumenta duas a quatro vezes o risco de AVC», revela Pedro Marques da Silva, médico especialista em Medicina Interna da Fundação Portuguesa de Cardiologia. O tabaco está associado à formação de substâncias gordas na artéria carótida, cujo bloqueio pode causar AVC, explica o National Institute of Neurological Disorders and Stroke (NINDS). Além disso, fumar promove a formação de aneurismas e torna o sangue mais espesso, o que aumenta o risco de criação de coágulos; a nicotina aumenta a pressão arterial; e o monóxido de carbono reduz o oxigénio que o sangue transporta para o cérebro.
«Fumar aumenta duas a quatro vezes o risco de AVC»
«Parar de fumar está associado à rápida diminuição do risco de AVC para níveis próximos do não fumador», revela Pedro Marques da Silva à Revista Prevenir.
Praticar exercício físico
A falta de atividade física pode «aumentar o risco de se ter a pressão arterial e níveis de colesterol elevados, diabetes, doenças cardiovasculares e AVC», evidencia a Stroke Association. Para prevenir o AVC, é importante praticar exercício físico. A National Stroke Association (NSA) refere um estudo que demonstrou que «pessoas que faziam exercício físico cinco ou mais vezes por semana tinham uma diminuição no risco de vir a ter um AVC». «Experimente fazer, no mínimo, 30 minutos de atividade física diária», aconselha a Stroke Association.
Ingerir menos sal
«A ingestão excessiva de sal é responsável pelo aumento da mortalidade cardiovascular, sobretudo cerebrovascular», sendo, por isso, considerada um dos principais fatores de risco de AVC. Esta é uma das conclusões do Segundo Fórum do Sal, organizado pela Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH). Segundo Jorge Polónia, docente da Faculdade de Medicina do Porto, «uma descida de 3 g de sal ingerido por dia significa menos 2500 mortes anuais por AVC». Substitua-o por ervas aromáticas, como alecrim, cebolinho, coentros, gengibre, hortelã ou orégãos, de modo a prevenir o AVC.
Medir a tensão arterial
Sendo a hipertensão arterial (HTA) o principal fator de risco para o AVC, torna-se fundamental vigiar regularmente a pressão arterial (os valores devem ser inferiores a 90/140 mm Hg). Cumprir as recomendações indicadas pelo médico é também essencial. «O tratamento da HTA é, certamente, a estratégia mais efetiva para prevenir o AVC trombótico e hemorrágico, e está relacionado com uma redução do risco de mais de 30 por cento», revela Pedro Marques da Silva.
Seguir uma dieta colorida
«Manter uma dieta equilibrada e variada, com restrição do sal e de gorduras totais e saturadas, e rica em frutas, vegetais e legumes», é importante para atenuar o risco e, assim prevenir o AVC, refere Pedro Marques da Silva. Coma, «pelo menos, cinco porções de frutas e vegetais por dia». Prefira carne magra à vermelha. Opte por alimentos ricos em fibra que ajudam a «controlar os níveis de gordura no sangue», como aveia, arroz, massa e pão integrais. E, fundamental, «não acrescente sal à comida e evite alimentos processados», aconselha a Associação AVC.
Ter peso a mais é um fator de risco para a hipertensão, doença coronária e diabetes, fatores que aumentam o risco de se vir a sofrer um AVC
Vigiar o peso
Ter peso a mais é um fator de risco para a hipertensão, doença coronária e diabetes, fatores que aumentam o risco de se vir a sofrer um AVC. Aliar uma alimentação saudável a um estilo de vida mais ativo é fundamental para a manutenção do peso.
Um estudo desenvolvido pela Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard veio corroborar este facto: mulheres com peso 20 por cento acima do recomendado, ou que engordaram 20 kg desde os 18 anos, mais do que duplicam o risco de sofrer um AVC, em comparação com mulheres mais magras. Pese-se todas as semanas, sem roupa e depois de ir à casa de banho.
Reduzir o álcool
Em excesso, favorece o aparecimento de «hipertensão arterial, fenómenos trombóticos, redução de fluxo sanguíneo cerebral e alterações do ritmo cardíaco (fibrilação auricular)», aponta o especialista em Medicina interna. «Os hábitos alcoólicos intensos são um fator de risco reconhecido de AVC», adianta. Por isso, para prevenir o AVC, modere o seu consumo. «Não mais do que duas bebidas por dia para os homens e uma para as mulheres», esclarece a NSA.
Controlar o stresse
Elevados níveis de stresse prolongados no tempo favorecem a doença cardiovascular e o AVC. Um estudo realizado pela Universidade de Harvard concluiu que, nessas condições, o organismo tende a produzir glóbulos brancos em excesso, que se podem acumular nas paredes arteriais. Como resultado, o fluxo sanguíneo fica reduzido e podem formar-se coágulos que bloqueiam ou interrompem a circulação sanguínea. Para controlar os níveis de stresse e prevenir o AVC, além da prática de exercício físico, a Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard aconselha:
- Medite
Respirar profundamente reduz os níveis de pressão arterial. - Reserve tempo só para si
Evite verificar o email e desligue a televisão. Guarde 15 minutos do dia só para si. - Ria todos os dias
Rir reduz os níveis da hormona do stresse (cortisol), baixando a inflamação nas artérias e aumentado o bom colesterol (HDL).
Prevenir o AVC: pílula é um risco?
A toma de algumas pílulas está associada ao aumento do risco de AVC, devido a um dos seus constituintes: o estrogénio. Também presente na terapêutica hormonal na menopausa, esta hormona condiciona o «aumento das proteínas pró-coagulantes» e a diminuição da atividade anticoagulante do organismo. Tal favorece o «aumento do risco de trombos, fenómenos embólicos que estão na origem do AVC isquémico», explica Tereza Paula, assistente hospitalar de Ginecologia-Obstetrícia na Maternidade Alfredo da Costa. A especialista ressalva que o risco aumenta se existirem outros fatores associados, como peso excessivo e tabagismo.
O que fazer?
«Mulheres fumadoras com mais de 35 anos não devem tomar uma pílula com estrogénio», explica a especialista. Também quem tenha tido um AVC ou que sofra de alterações na coagulação do sangue (trombofilias) deve evitá-la, bem como a terapêutica hormonal na menopausa. Às mulheres cuja toma da pílula não está contraindicada, Tereza Paula recomenda o controlo do peso, a prática de exercício e adoção de uma dieta saudável, enquanto estratégias que permitem prevenir o AVC.