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COVID-19 e o regresso à normalidade: 10 dúvidas de quem vive com VIH

COVID-19 e o regresso à normalidade: 10 dúvidas de quem vive com VIH

Uma médica infecciologista e a presidente da associação Abraço estiveram presentes num webinar que respondeu a algumas das principais questões sobre a COVID-19, na fase de desconfinamento, das pessoas que vivem com VIH.

  • Adaptado a partir deCOVID-19 e o regresso à normalidade: as dúvidas de quem vive com VIHWebinar promovido pela Prevenir, em parceria com a Associação Abraço e o apoio do Movimento Pensa Positivo 

Numa altura em que se fala muito do regresso à normalidade após o período de confinamento devido à pandemia da COVID-19, têm vindo a surgir inúmeras dúvidas. No caso das pessoas que vivem com uma doença crónica, estas dúvidas podem contribuir para gerar alguma ansiedade e até medo. Assim, com o objetivo de responder às questões mais comuns das pessoas que vivem com VIH, a Prevenir promoveu uma sessão de esclarecimento online, com o apoio do movimento Pensa Positivo, que contou com a presença da médica infecciologista Josefina Méndez, do Centro Hospitalar Universitário do Porto, e de Cristina Sousa, presidente da Abraço, associação que presta assistência a pessoas que vivem com VIH/Sida. Para quem não teve oportunidade de assistir em direto, compilámos as principais perguntas e respostas abordadas neste webinar transmitido, em direto, nas páginas de Facebook da Abraço, Pensa Positivo e Prevenir.

10 dúvidas de quem vive com VIH

1. Nesta altura, se fizer um teste ao VIH e der positivo, onde me devo dirigir?

Como explica Josefina Méndez, médica infecciologista do Centro Hospital Universitário do Porto, «nesta fase, a receção de um diagnóstico já é mais fácil do que quando começou a pandemia. Nestas últimas semanas, e penso que falo um bocadinho em nome de todos os serviços de infecciologia do país, temos feito um esforço para retomar a atividade normal. Claro que a atividade normal é a nova normalidade de que todos falamos, mas acho que não há nenhum hospital que não receba um diagnóstico novo».

2. Os centros de rastreio já reabriram?

«Os centros de rastreio, pelo menos os da Abraço do Porto, Lisboa, Braga e Aveiro estão abertos desde 18 de maio e as pessoas podem recorrer aos centros, através de marcação, para realizarem o teste», indica Cristina Sousa, presidente da Associação Abraço.

3. Estou em tratamento, tenho maior risco para a COVID-19?

«Neste momento, de tudo o que tem sido publicado na literatura científica, estar em tratamento para o VIH não é um fator protetor nem prejudicial, de alguma maneira, para contrair a COVID-19. Nem facilita nem impede de vir a ter a doença, é um fator neutro», frisa Josefina Méndez. «O que aconselhamos aos doentes que estão a fazer tratamento é que o mantenham como sempre fizeram e que recorram a nós se tiverem dúvidas. As consultas telefónicas têm existido desde o início da pandemia e recentemente começámos também a fazer algumas consultas presenciais no caso de doentes que apresentaram anomalias ou algum outro motivo que justifique, na consulta telefónica, pedirmos ao doente para vir a uma consulta», acrescenta a médica infecciologista.

4. Não tenho possibilidades económicas para comprar máscaras. O que devo fazer?

«Junto dos utentes que já acompanhamos, que são aqueles que já conhecemos a situação social que os envolve, estamos a conseguir distribuir máscaras de tecido reutilizáveis nesses agregados. Estamos a fazê-lo num sentido muito psicoeducativo, ou seja, não basta ter a máscara, é preciso ensinar como é feita a sua colocação e a sua lavagem. Para outras pessoas que economicamente não têm capacidade para comprar uma máscara, nós aconselhamos a que entrem em contacto connosco, pois, se não têm essa possibilidade, provavelmente têm outras dificuldades económicas associadas. Por isso, pedimos que entrem em contacto connosco para que possamos avaliar a situação num todo. Para as outras pessoas que não têm capacidade económica para comprar uma máscara e que, mesmo assim, não queiram dirigir-se à associação, aconselhamos a que façam uma máscara em casa, tentem costurar uma, existem várias formas manuais de tentar criar uma máscara que proteja nas saídas à rua», refere Cristina Sousa.

5. Tendo VIH, se achar que estou com sintomas da COVID-19, como devo proceder?

Josefina Méndez, médica infecciologista, é perentória: «Tem que proceder como todas as outras pessoas, não há nenhuma diferença. Atualmente, uma pessoa que suspeite ter a COVID-19 tem várias maneiras de chegar ao diagnóstico: pode ir ao centro de saúde ou aceder à linha SNS 24 (808 24 24 24), em que será feito o encaminhamento para o centro de saúde ou para o hospital, dependendo da situação clínica do doente. No hospital também temos uma área dedicada à COVID-19, onde as pessoas que têm sintomatologia mais grave podem dirigir-se sem ter que pedir previamente uma consulta. Mas, se os sintomas forem mais leves, deve ir ao centro de saúde ou ligar para o SNS 24. A situação é igual para toda a gente e digo sempre nas consultas que “as pessoas com VIH são iguais a todos os outros, não têm nenhuma peculiaridade”. Por isso, deve proceder como qualquer pessoa da sua família que iria ao centro de saúde ou ligaria para o SNS 24.»

«É fundamental que se use a máscara, pois esta doença transmite-se por gotículas. Se estivermos próximos de alguém que estiver a falar connosco, é provável que saiam gotículas da sua boca, gotículas essas que podem avançar até dois metros»

6. O meu irmão tem o VIH controlado mas vive sozinho e tenho-o achado muito ansioso. Há alguma forma de obter apoio psicológico gratuito?

Como explica a presidente da Abraço, «Todas as respostas da Associação são gratuitas. No entanto, a situação não pode ser vista de forma isolada. Tem de ser avaliada no seu todo, não só a nível psicológico, mas também a nível social, nutricional, e até poderá ser necessário um apoio domiciliário. Temos que avaliar o grau de dependência da pessoa e se necessita de algum apoio extra além do acompanhamento psicológico. Se for só o acompanhamento psicológico, desde o dia 18 de maio, com os centros reabertos, já poderá ser feito atendimento presencial. Mas a pessoa será sempre vista, nessa consulta, por uma equipa multidisciplinar composta não só por um psicólogo, mas também por uma assistente social, que farão uma triagem conjunta para se perceber em que condições esta pessoa reside.»

7. Tenho VIH e receio sair de casa mesmo depois do levantamento do confinamento. Devo tomar medidas acrescidas?

«As pessoas com VIH devem tomar as mesmas medidas que todos nós temos que tomar», reforça Josefina Méndez. Uma das medidas, continua a médica infecciologista, «é o distanciamento social, que não é emocional, porque estamos todos muito sozinhos nesta altura. Também têm que tentar usar máscara, nomeadamente nos locais fechados como os transportes públicos, entre outros. É fundamental que se use a máscara, pois esta doença transmite-se por gotículas. Se estivermos próximos de alguém que estiver a falar connosco, é provável que saiam gotículas da sua boca, gotículas essas que podem avançar até dois metros. Por isso, tem que se usar máscara quando se estiver próximo de alguém». E conclui: «Temos que ter todos as mesmas medidas de isolamento e higiene das mãos, isso vai ficar para a vida. E se calhar era bom que ficasse, porque muitas destas medidas não servem só para prevenir a COVID-19, são eficazes para prevenir muitas doenças infecciosas».

8. Como deve ser utilizada a máscara?

«É muito simples. Antes de colocar a máscara, deve lavar ou higienizar bem as mãos; a parte mais escura da máscara deve ficar virada para a frente; nunca se deve tocar na parte da frente da máscara nem andar com a máscara fora da cara. E depois, importantíssimo, é o momento em que se retira a máscara, que deve colocada num sítio seguro onde ninguém vá mexer», exemplifica Josefina Méndez. É também importante seguir as indicações referentes a cada tipo de modelo de máscara no que respeita o número de horas ou vezes que as podemos usar e o modo como devem ser higienizadas.

«As luvas são mais perigosas em termos de contágio porque as pessoas não têm noção que a luva contamina»

9. As luvas substituem o uso da máscara?

Não, responde a médica infecciologista. «Nesta altura, as luvas são mais perigosas em termos de contágio porque as pessoas não têm noção que a luva contamina. Se a pessoa estiver num supermercado a fazer compras, a tocar nos produtos, e depois levar a luva à cara, aos olhos, à boca, e essa luva estiver contaminada se a pessoa tocou numa superfície com vírus, pode contrair a doença. O ideal é lavar as mãos antes de ir ao supermercado e quando sair não tocar em nada e lavar as mãos ou levar um gel pequenino e higienizar as mãos. Mais vale ter as mãos livres e lavá-las muitas vezes. As luvas devem ser utilizadas para uma situação pontual, concreta, e depois deitadas fora.»

10. Como é que as pessoas de outras nacionalidades que têm VIH e estão neste momento em Portugal, ou a viver cá há pouco tempo, podem saber se têm direito a tratamento?

«Em Portugal, qualquer pessoa de outra nacionalidade, mesmo sendo ilegal, e que tenha uma IST (Infeção Sexualmente Transmissível), já tinha acesso ao tratamento e direito ao mesmo antes da pandemia. Neste momento, existe até uma legislação em que todas as pessoas que estão neste país deveriam ou devem ter acesso ao número de utente, para facilitar todo o tipo de tratamento que não só o associado ao VIH. Por isso, as pessoas devem dirigir-se ao centro de saúde para que lhes seja atribuído um número de utente e possa ir ao hospital. Em Portugal, o acesso ao tratamento do VIH não pode ser negado, sendo estrangeiro ou não estrangeiro», elucida Cristina Sousa.


Aprendizagens e desafios para o presente e futuro

Na conclusão do webinar, a médica infecciologista Josefina Méndez não deixou de focar as aprendizagens que se têm vindo a retirar desta fase. «Penso que a telemedicina foi fundamental. Claro que não substitui o nosso contacto direto, e penso que métodos como as videochamadas, por exemplo, funcionam melhor que uma consulta telefónica, permitindo que possamos estar mais próximos do doente. A nível de VIH e de consultas, se há uma coisa que aprendemos é que temos que manter os nossos doentes bem informados, ainda que sejam menos vezes, e sermos sempre muito honestos com eles.»
Josefina Méndez é da opinião «que um desafio para que as pessoas se sintam bem é manter a telemedicina. Acho que vamos começar a usar cada vez mais as ferramentas que a informática põe ao nosso alcance para estarmos mais próximos dos utentes. E se calhar estas já eram necessárias antes, por exemplo, para doentes que vivem muito longe, e os hospitais deviam moldar-se um bocadinho, ter um horário pós-laboral, fazer videochamadas. Continuo a dizer que isto não substitui ver os doentes, há coisas que se perdem um bocadinho com estas tecnologias, mas devemos aproveitar o bom de cada coisa.»


Procurar apoio e combater o estigma continua a ser preciso

A presidente da Abraço, Cristina Sousa, deixou também uma mensagem final. «Nós, enquanto instituição, cobrimos uma área geográfica e uma população que sabemos que é grande. Mas também sabemos que há muitas pessoas infetadas com o VIH que não recorrem a nós, ou por vergonha associada à doença, por desconhecimento ou por outras limitações. Por isso, se tiver alguém conhecido com VIH, faça-lhe chegar a mensagem para entrar em contacto connosco. Temos por detrás uma equipa técnica que de certeza que vai conseguir encontrar alguma solução ou, pelo menos, perceber qual é a preocupação dessa pessoa, e se pudermos vamos ajudar.»
É também preciso continuar a combater o estigma associado ao VIH. Como explica Cristina Sousa, «acima de tudo, as pessoas devem perceber que a doença não é o que era noutros tempos. Não é uma doença terminal, as pessoas têm uma média de idade de vida igual, ou muito igual, a uma pessoa que não tem a doença e que o facto de a pessoa estar a fazer tratamento não transmite a doença. O risco de ser um perigo para a sociedade é nenhum.
Para as pessoas com VIH, há uma autoexclusão perante a exclusão dos outros. O que nós vamos trabalhando com elas é no sentido de que percebam que não são um perigo, um problema, e mudando essa mentalidade nelas próprias.»

A médica infecciologista Josefina Méndez não quis deixar de reforçar esta ideia: «O que tento sempre dizer aos doentes é que não é a doença não define a pessoa, não é o VIH que define o João ou Pedro. O Pedro e o João têm um conjunto de coisas e o VIH é uma delas. Devem viver como o Pedro ou o João e não como um doente com VIH. Senão, estão a perder a vida.»

Última revisão: Maio 2020

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