«O sol do início e final do dia é útil do ponto de vista físico e emocional: pode ajudar no tratamento de vários tipos de doenças de pele, como eczemas e psoríase, favorece a produção de vitamina D na pele, mas para isso bastam exposições até 15 a 20 minutos em áreas limitadas do corpo, evitando sempre as horas de maior índice de UV (entre as 11 e 17 horas, sobretudo entre as 12 e as 16 horas)», conta Osvaldo Correia, médico dermatologista. Na prática, contudo, este tempo é excedido largamente e tendemos a não seguir à risca os conselhos dos especialistas, com potenciais consequências graves para a saúde. «O número de cancros da pele continua a aumentar não só em Portugal como na maioria dos países do mundo, devido à exposição solar exagerada ou inadequada ao longo da vida, seja por motivos profissionais ou de lazer», relata o médico dermatologista. As páginas que se seguem, baseadas em informação da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo, ensinam-nos a defender-nos.
Cancro da pele: quem corre mais risco?
Ainda que possa afetar «qualquer pessoa, independentemente da idade», de acordo com informação da APCC, recomenda-se especial atenção «a pessoas com mais de 50 anos» ou a «quem está sujeito a uma exposição prolongada ao sol». Além disso, também apresenta um risco elevado quem:
- Tem pele clara ou é propenso a queimaduras solares.
- Sofreu queimaduras solares na infância.
- Faz exposições periódicas ao sol, mas intensas.
- Recorre a solários. v Tem mais de 50 “sinais” (nevos) no corpo.
- Tem uma história familiar de cancro da pele.
- Tem mais de 50 anos.
- Foi submetido a um transplante de órgão.
Há vários tipos de cancro da pele: sintomas
«A maioria destes cancros da pele está relacionada com a exposição solar exagerada ou inadequada ao longo da vida, seja por motivos profissionais ou de lazer», alerta Osvaldo Correia.
Queratose actínica
É a «lesão pré-cancerosa da pele mais frequente» e «ocorre sobretudo em áreas da pele sujeitas a exposição solar prolongada e repetida como couro cabeludo (nos calvos), face, pescoço, decote e dorso das mãos ou antebraços», refere a APCC.
- Qual é o seu aspeto? «Surge sob a forma de mancha ou escama esbranquiçada ou vermelho-acastanhada», por vezes «mais perceptível ao tato (áspera) do que à visão, mas com o tempo fica espessa».
10 a 15% dos casos de queratose atípica, se não forem tratados, podem evoluir para carcinoma espinocelular
Melanoma
«Apesar de menos frequente, é o cancro de pele mais agressivo» e, se não for tratado, difunde-se sob a forma de metástases, podendo levar à morte, revela a APCC. «Tratado precocemente, permite taxas de cura de mais de 95 por cento», diz a mesma fonte.
- Qual é o seu aspeto? Surge como «um sinal muito escuro que desenvolveu bordos irregulares ou cores diferentes ao longo do tempo; ou uma protuberância de crescimento rápido, rosa ou avermelhada. Pode surgir de um nevo atípico que se modificou» ou como uma lesão nova, sobretudo em pele com «muitas manchas solares parecidas com sardas» ou «em pele com antecedentes de queimaduras solares».
Carcinoma espinocelular
«É o segundo cancro da pele mais frequente» e, se não for tratado, «sobretudo nas formas invasivas e nos lábios, língua, orelhas, dedos mãos ou pés, pode invadir os gânglios e espalhar-se», alerta a APCC.
- Qual é o seu aspeto? «Surge habitualmente como uma escama recorrente que endurece ou ferida que não cicatriza, evoluindo para nódulo duro que pode crescer rapidamente», descreve a APCC.
Todos os anos surgem 2000 a 2500 novos casos de carcinoma espinocelular da pele em Portugal
Carcinoma basocelular
É o tumor de pele mais frequente e o menos perigoso, mas, «se não for tratado, «tem tendência a invadir os tecidos circundantes», refere a mesma fonte.
- Qual é o seu aspeto? «É um nódulo elevado, de tonalidade rósea, com bordos brilhantes e aspeto perolado, que, por vezes, ulcera e sangra, podendo surgir como uma mancha de cor rosada ou pigmentada, progressivamente crescente, ou ferida que não cicatriza»
Em média, surgem 8 a 9 mil novos casos de carcinoma basocelular por ano em Portugal
Passo a passo: autoexame da pele
«O autoexame da pele está para os cancros cutâneos como o autoexame da mama está para o cancro da mama. É muito importante para o diagnóstico precoce dos diferentes tipos de cancros da pele», sublinha Osvaldo Correia.
De 2 em 2 meses analise a pele e verifique se apresenta qualquer alteração ou mancha de aparência suspeita
Vai precisar de…
- Espelho grande e espelho de mão «Necessita de um espelho grande e de um espelho de mão para ajudar a ver as costas, a face posterior dos membros ou zonas íntimas», indica Osvaldo Correia.
- Telemóvel «Com o seu telemóvel faça várias fotos do seu corpo. Ficará com o mapa atual do seu corpo, o que lhe permitirá efetuar um controlo periódico, idealmente de 2 em 2 meses», recomenda Osvaldo Correia.
- Couro cabeludo
«Examine o couro cabeludo, usando um pente para separar o cabelo em madeixas. Se tem pouco cabelo, deve examinar todo o couro cabeludo cuidadosamente». - Rosto
«Examine o rosto, incluindo o nariz, lábios, boca e orelhas (à frente e atrás).» - Pescoço e tronco
«Dê atenção ao pescoço e tronco.» - Cotovelo e axilas
Dobre o cotovelo para examinar braço e axilas. - Pescoço, ombros e costas
Use o espelho de mão para «examinar a parte posterior do pescoço, ombros e costas». - Mãos
«Analise as mãos de ambos os lados e entre os dedos.» - Nádegas, genitais e parte de trás das pernas
Examine também estas zonas do corpo. - Pés
«Analise a planta dos pés e o espaço entre dedos.» - Peito
As mulheres devem «examinar bem o espaço entre os seios e por debaixo dos mesmos».
Regra ABCDE
Sinais: é a isto que deve estar atento
«Todos temos “sinais” e, à medida que o tempo passa, temos mais sinais e a maioria são benignos. Mas é preciso distinguir o “patinho feio”, o diferente dos outros, que apareceu ou se modificou há pouco tempo e que se está a modificar mais do que os outros», alerta Osvaldo Correia. Segundo o especialista, «a maioria dos cancros da pele pode não dar sintomas de inicio, mas, se se tratar de um “sinal” que apareceu “de novo” ou mudou recentemente, era plano, arredondado e de uma só cor e ficou Assimétrico, de Bordo irregular, de Cor mais escura ou várias cores, de Diâmetro crescente, assumindo mais que 5 mm e teve Evolução ou alteração recente, nesse caso, podemos estar perante um melanoma que surgiu “de novo” ou por mudança de um sinal que já existia. É a regra do ABCDE».
- Assimetria
Simétrico vs Assimétrico
- Bordo
Regular vs Irregular
- Cor
Única vs Múltipla
- Dimensão
Com 5 mm ou menos vs Com mais de 5 mm
- Evolução
Alteração recente de aspeto
Outros sinais de alarme
Se encontrar dois ou mais destes alertas, «consulte imediatamente o seu médico ou dermatologista», aconselha a APCC.
- Escama que aparece, que cai e que volta cada vez mais espessa (sobretudo em zonas do corpo que tiveram muita exposição solar).
- Sinal que dá vontade de coçar.
- Sinal que sangra espontaneamente ou liberta líquido.
- Sinal que tem aspeto rosado e que surgiu “de novo”.
- Sinal que parece uma ferida, mas não cicatriza.
Sol interage com medicamentos
A exposição solar excessiva pode dar origem a fotoalergias medicamentosas, como explica Osvaldo Correia: «Os fármacos de maior risco são os antibióticos, do tipo das tetraciclinas e quinolonas, os anti-inflamatórios, sobretudo os oxicans, mas também vários medicamentos do foro cardiovascular e psiquiátrico».
Estratégias: proteja (sempre) a sua pele
Uma das formas de reduzir o risco de cancro de pele «é evitar a exposição exagerada à radiação UV» e «não apenas na praia», «mesmo em dias em que a temperatura não está alta, mas os UV elevados», reforça a APCC. Para isso:
- Evite a exposição desnecessária
«Procure a sombra sempre que possível e evite o sol de verão no meio do dia» Caso trabalhe ao ar livre, «se possível, execute as tarefas em horas em que a nossa sombra é maior que nós próprios», de preferência, «no início ou final do dia». E «tente criar sombra na área em que está a trabalhar», usando «estruturas de não tecido ou tecido compacto, não poroso e de dimensões adequadas. Tenha cuidado com as superfícies como relva, cimento, areia e água, pois refletem os raios UV», refere a APCC.
- Use vestuário que proteja dos UV
É essencial o «uso de chapéu, de preferência de abas largas, óculos escuros com proteção UVB e UVA a 100% e roupa, nomeadamente uma camisola que proteja os braços, antebraços e decote», aconselha Osvaldo Correia. «Se o tecido não for poroso, a cor é indiferente; para tecidos porosos, as cores escuras protegem mais dos UV» e, no caso das crianças, «roupas com proteção UV» devem ser uma opção, segundo a APCC.
- Consulte o índice de raios UV
Tenha maior atenção «aos dias em que os níveis estão mais elevados» ou quando está «vento ou nevoeiro». Saiba mais no site do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
- Tenha atenção aos vidros
«A maioria dos vidros protege dos UVB, mas não dos UVA.» Tenha particular atenção se o ambiente «for composto por muitos vidros ou se conduz muitas horas em horário de UV elevado», avisa a APCC.
- Escolha bem o protetor solar
«As pessoas frequentemente consideram que estão protegidas, colocando quantidades de proteção solar insuficiente ou em galénicas muito fluidas, sob a forma de brumas. Estas podem ser enganosas, pois em alguns tipos de pele podem minimizar a vermelhidão, mas não dão proteção adequada contra os UVB e UVA podendo favorecer falsa segurança e maior exposição. Devemos promover protetores solares com proteção 30 ou superior, mas sob a forma de creme ou leite», aconselha Osvaldo Correia.
- Aplique bem o protetor solar
«Lembre-se que a maioria dos filtros solares só começa a atuar cerca de meia hora após a aplicação e a eficácia dura cerca de duas horas. Tenha cuidado com os protetores muito fluidos, “transparentes” ou “em espuma”; podem dar uma falsa sensação de segurança, sobretudo se não forem utilizadas sucessivamente várias camadas na mesma zona de pele», informa a APCC. Ao molhar-se ou transpirar, deve renovar a aplicação e, «quanto mais fluido for o protetor, mais vezes tem de renovar a aplicação».
- Atenção aos perfumes e plantas
«Deve evitar aplicar perfumes» diretamente na pele e ter atenção «ao contacto com plantas, como as figueiras ou a lima» (fruto), alerta Osvaldo Correia. Peles que entram em contacto com estas substâncias e não são depois devidamente limpas, ao serem expostas ao sol, correm risco de «sofrer fotoalergias» e ficarem com bolhas ou manchas.
- Até às 11 horas e depois das 17 horas
Períodos recomendados para a exposição solar.
Não se esqueça de proteger as pernas e os pés. «São frequentemente negligenciados e sede frequente de queimaduras solares», alerta Osvaldo Correia
Cancro da pele: os tratamentos
Osvaldo Correia, médico dermatologista, sintetiza os avanços da ciência na luta contra este tipo de tumor.
- Cirurgia «A extração por cirurgia com envio do material para análise é o tratamento mais frequente de todos os cancros da pele e, geralmente, é suficiente se forem detetados numa fase precoce. Nas lesões pré-cancerosas (queratoses actínicas) e nas formas mais superficiais de carcinoma basocelular e espinocelular, poderá ser utilizado criocirurgia ou laser CO2, bem como tópicos que atuam como estimuladores da imunidade.»
- Fármacos «Nas queratoses actínicas, o imiquimod, o diclofenac a 3% e o mebutato de ingenol são tópicos que estimulam a imunidade local, promovendo a destruição destas lesões, e minimizam o aparecimento de novas lesões em áreas onde existe maior risco de recidiva ou novas lesões. Nas formas metastizadas de melanoma ou nas formas invasivas de carcinoma basocelular ou espinocelular, existem novos fármacos sistémicos, no âmbito da imunoterapia, que permitem numa percentagem importante o controlo da doença ou aumento da sobrevida.»