Cancro da mama: fatores de risco que dependem de si

Cancro da mama: tipos

90 por cento dos casos de cancro da mama devem-se ao estilo de vida, o que significa que há fatores de risco sobre os quais é possível atuar. Conheça-os e saiba o que fazer.

  • PorCatarina Caldeira BaguinhoJornalista
  • Nazaré TochaJornalista

  • ColaboraçãoDra. Fátima CardosoOncologista médica

Apenas dez por cento dos casos de cancro da mama têm origem em fatores hereditários. «Os restantes casos acontecem devido a um conjunto de situações que aumentam o risco de malignização das células», explica Fátima Cardoso, oncologista médica e diretora da Unidade de Mama do Centro Clínico Champalimaud, à Revista Prevenir. «Alguns fatores de risco, como a idade e a raça, não podem ser alterados. Outros estão associados a fatores cancerígenos ambientais, e outros, ainda, estão relacionados com comportamentos individuais, como fumar, beber e o tipo de alimentação. Alguns influenciam mais o risco do que outros, o qual pode ir mudando ao longo do tempo, devido a fatores como o envelhecimento ou o estilo de vida», explica a American Cancer Society. Ou seja, existem fatores sobre os quais podemos atuar, enquanto outros estão fora do nosso alcance. Conheça-os.

Explicação biológica do cancro

Saudáveis, as células dividem-se a um ritmo lento e “sabem” que têm de desempenhar uma tarefa. Por exemplo, os neurónios, as células do tubo digestivo, do músculo cardíaco, entre tantas outras, “sabem” qual é a sua “missão”. É por isso que se chamam células diferenciadas.

Apenas dez por cento dos casos de cancro da mama têm origem em fatores hereditários

No seu ciclo normal de vida, as células saudáveis nascem, vivem e morrem, mas quando se tornam malignas, começam não só a perder capacidade de se diferenciarem como de autocontrolarem a sua proliferação, multiplicando-se de forma exagerada. Ao focarem toda a sua energia no processo de multiplicação, as células deixam então de desempenhar as suas tarefas específicas, formando um tumor. E é assim que vão substituindo as células normais, impedindo os tecidos de exercer as suas funções», ilustra Fátima Cardoso, à Revista Prevenir.

Onde acontece o cancro da mama

O cancro da mama é uma «neoplasia maligna que afeta os tecidos localizados nas mamas (tumor primitivo)», refere Fátima Cardoso. Em 90 por cento dos casos, o processo descontrolado de multiplicação celular que dá origem à doença ocorre nas células que formam a camada que reveste os canais ductais (por onde flui o leite materno). Numa fase inicial, as células malignas «situam-se no interior desses canais onde se multiplicam (carcinoma in situ, um pré-cancro). Quando ultrapassam as paredes dos ductos e se desenvolvem externamente, estamos perante um cancro invasivo. Nesse caso, o tumor já é maligno», revela a especialista.

Subtipos de cancro da mama

Existem três grandes subtipos de cancro da mama, cada qual com a sua especificação. Dois deles caracterizam-se pela presença de recetores (proteínas). Fátima Cardoso, oncologista médica, explica:

Recetor hormonal positivo

«Os recetores são uma espécie de antenas que existem nas células, a que as hormonas em circulação (nomeadamente o estrogénio) se ligam. Quando isso acontece, acelera-se, ao nível do ADN, a ativação de estímulos para que o tumor cresça.»

Taxa de incidência: 70% dos casos

HER-2 +

«Os HER-2+ são recetores que dão informação às células para se reproduzirem, estimulando o crescimento do tumor. É agressivo e cresce rapidamente. Contudo, é o tipo de cancro que sabemos tratar melhor, porque se descobriu como bloquear estas “antenas”.»

Taxa de incidência: 15% a 20% dos casos

Triplonegativo

«É assim denominado por não ter recetores hormonais nem recetor HER-2. É o subtipo mais grave e agressivo. É mais frequente nas mulheres jovens.»

Taxa de incidência: 12% a 15% dos casos

Porque atinge sobretudo mulheres

Em Portugal, segundo a Liga Portuguesa Contra o Cancro, surgem anualmente cerca 6 mil novos casos de cancro da mama. A esmagadora maioria regista-se entre o sexo feminino. A explicação pode estar no facto de as mulheres produzirem maiores quantidades de hormonas que promovem o crescimento celular (estrogénio e progesterona), refere a American Cancer Society. De acordo com esta entidade, uma exposição mais prolongada ao longo da vida a estas hormonas pode explicar por que razão as mulheres que têm menstruações antes dos 12 anos e/ou entram na menopausa mais tarde (depois dos 55 anos) «têm um risco superior ligeiro de ter cancro da mama».


Paralelamente, a mulher, explica Fátima Cardoso, «tem uma glândula mamária muito mais desenvolvida do que o homem e que é sujeita a várias alterações durante a vida. Na puberdade, a mama sofre um grande desenvolvimento, ficando num estado que não é completamente diferenciado, o que aumenta o risco. A mama só acaba de se formar completamente quando ocorre uma gravidez de termo (até o nascimento do bebé). Daí que o facto de não se ter filhos ou de os ter muito tarde seja fator de risco desta doença».

O peso da herança genética no cancro da mama

Pessoas com casos de cancro na família – sobretudo da mama, dos ovários, da próstata ou do pâncreas – têm maior risco de desenvolver neoplasia da mama. Sobretudo se familiares diretos, como a mãe, a irmã ou avó, tiverem sido vítimas desta doença. «Nestes casos, a probabilidade aumenta entre 2,5 vezes e três em relação à população geral», revela Fátima Cardoso.

«A causa mais comum de cancro da mama hereditário é uma mutação nos genes BRCA1 e BRCA2. Em células normais, estes genes ajudam a prevenir o cancro ao produzir proteínas que impedem as células de crescer de forma anormal», lê-se no site da ACS. «Estes genes estão associados ao processo de renovação celular, aumentado a possibilidade não só de cancro da mama como do ovário, do pâncreas, da próstata e do estômago. O BRCA 1 está mais associado a tumores triplo negativos e o BRCA 2 a recetores de marcadores hormonais», acrescenta.

  • O que pode fazer
    Se tem casos de cancro da mama, do ovário, da próstata ou do pâncreas na família, deve marcar uma «consulta de genética médica para fazer uma avaliação da probabilidade de haver alguma alteração genética. Se essa probabilidade for superior a 20 por cento, o médico aconselha a que se faça um teste genético», explica a especialista.

A importância do estilo de vida

«Nos países desenvolvidos, uma em cada oito mulheres virá a ter cancro da mama», revela Fátima Cardoso. A ciência ainda não sabe «exatamente por que motivo o cancro da mama acontece a umas pessoas e a outras não. Ter um ou vários fatores de risco (sexo, idade, genética, história familiar, estilo de vida) para o aparecimento de cancro da mama não significa que se venha a ter a doença. Há quem tenha vários fatores de risco e não a desenvolva, e há quem aparentemente não tenha nenhum fator de risco e a desenvolva. Mas também sabemos que o estilo de vida dos países industrializados conduz ao aumento de doenças malignas. Não podemos apontar o dedo a um só fator isolado, mas, em conjunto, por serem agressões contínuas ao organismo, eles criam terreno propício para que se as células se tornem malignas», explica.

Cancro da mama: fatores de risco controláveis

A ciência ainda não encontrou uma forma de prevenção primária que nos salvaguarde do cancro da mama. Mas podemos e devemos atuar em relação a alguns fatores de risco associados ao estilo de vida, assim como integrar o autoexame da mama na rotina de qualquer mulher.

Controle o peso

Doses elevadas e exposição prolongada à hormona estrogénio aumentam o risco de cancro da mama. Ora, «numa mulher obesa, os níveis de estrogénio circulante são mais elevados do que os de uma mulher magra», explica Fátima Cardoso. Quanto mais gordura existir, mais estrogénio será produzido. Na menopausa (altura em que os ovários deixam de produzir estrogénio), a maior parte desta hormona tem origem nos tecidos adiposos. Segundo um estudo desenvolvido pela American Society of Clinical Oncology (ASCO), a obesidade está ainda relacionada com piores resultados de tratamento do cancro, incluindo maior taxa de recidiva (o facto de voltar a acontecer) e de mortalidade.

Reduza a ingestão de bebidas alcoólicas

«Existem estudos que confirmam uma associação entre o consumo de álcool e o aumento do risco de se desenvolver cancro da mama. E quanto maior o consumo, maior o risco», revela a especialista. Segundo a American Cancer Society, mulheres que ingerem uma bebida alcoólica por dia têm um ligeiro aumento do risco de desencadear a doença quando comparadas com outras que não o consomem. Entre as que bebem duas a três bebidas alcoólicas por dia, o risco aumenta 1,5 vezes em comparação com quem não bebe.

Faça exercício físico regularmente

Dados da ACS revelam que praticar marcha rápida durante uma hora e meia a duas horas e meia por semana reduz o risco de cancro da mama em 18 por cento. Segundo a mesma fonte, caminhar 10 horas semanalmente (cerca de 1h30/dia) diminui ainda mais esse risco. Um estudo francês realizado pelo Institut Gustave Roussy concluiu que a atividade física regular reduz a probabilidade de se desenvolver cancro da mama na pós-menopausa. Esse “escudo” deixa de funcionar se as mulheres pararem de se exercitar. Os investigadores realçaram ainda o facto de não ser necessário uma atividade física muito frequente ou vigorosa. Uma caminhada diária de 30 minutos já traz benefícios.

Amamentação e cancro da mama

Pensa-se que, por reduzir o número de ciclos menstruais (e, por esta via, a exposição do organismo ao estrogénio), contribui para a redução do risco de cancro da mama, embora o impacto não seja elevado e aconteça, sobretudo, se a mulher amamentar durante um ano e meio a dois anos, refere a American Cancer Society.

À noite… durma

«Estudos recentes sugerem que as mulheres que fazem turnos noturnos podem ter um risco mais elevado de desenvolver cancro da mama», revela a ACS. Segundo este organismo, trata-se de uma descoberta recente que implicará mais investigação. Uma das hipóteses é que este ritmo de vida possa provocar alterações na produção da hormona melatonina (essencial no mecanismo do sono), que é afetada pela exposição do organismo à luz

Deixe de fumar

«Estudos têm verificado uma relação entre o tabagismo elevado e o aumento do risco de cancro da mama. Alguns constataram que o risco é mais elevado em certos grupos, como mulheres que começaram a fumar antes de ter o primeiro filho», refere a ACS. Ainda assim, as conclusões são consideradas “sugestivas”, mas insuficientes para estabelecer uma relação causa/efeito.

«Ter um ou vários fatores de risco para o aparecimento de cancro da mama não significa que se venha a ter a doença»

Num estudo em roedores, verificou-se que quer o fumo inalado diretamente quer o inalado de forma passiva continham substâncias químicas que, em altas concentrações, causavam cancro da mama. Os mesmos químicos encontrados no fumo do tabaco foram detetados nos tecidos mamários e no leite materno dos ratos. Mas as certezas em relação ao tabaco existem sobretudo em relação a mulheres já vítimas da doença. «Estudos interessantes demonstraram que, após o diagnóstico de cancro da mama, as mulheres que fumam têm mais recidivas. E quando o deixam de o fazer, o risco diminui», adianta Fátima Cardoso.

Coma a pensar no coração

Há estudos que indicam que o cancro da mama é menos comum nos países onde a dieta é parca em gordura polinsaturada e saturada. Outras investigações não encontraram essa relação. Segundo a ACS, serão necessárias mais investigações para «compreender o efeito do consumo dos tipos de gordura no risco de cancro da mama». Certo é que, avança esse organismo, «as calorias contam e a gordura é a maior fonte de calorias». «Na globalidade, uma dieta demasiado rica em gordura está associada a um maior desenvolvimento de células malignas, sobretudo do cancro colo-rectal», explica Fátima Cardoso.A especialista recomenda às suas pacientes que façam «uma alimentação saudável para o coração, porque estarão também a diminuir o risco de cancro». Na prática, isto significa o consumo equilibrado de gordura vegetal saudável, como o azeite ou frutos secos; dar primazia a carnes brancas, peixe, vegetais, cereais integrais e fruta; reduzir o sal, fumados, carnes vermelhas e gordura de origem animal.

Terapia Hormonal de Substituição, no máximo, durante 5 anos

A terapia hormonal de substituição (THS) é uma hormona sintética, tomada pela mulher aquando da menopausa. Segundo Fátima Cardoso, existe uma relação a THS «e o risco de cancro da mama, pois envolve a toma de uma dose elevada de estrogénios». A decisão de fazer esta terapêutica deve ser tomada com o médico ginecologista. Mas, em termos gerais, mulheres saudáveis não devem fazer este tipo de terapêutica durante mais de 5 anos. No caso de quem já teve cancro da mama, na grande maioria dos casos, a THS «está desaconselhada».

Pílula contracetiva também tem risco associado

É também outro caso de hormona sintética, mas, ao contrário da THS, é tomada durante a idade fértil da mulher. «A sua toma está associada a um ligeiro aumento do risco de cancro da mama, que não é suficiente para contraindicar a sua toma só por este motivo. Inversamente, em relação ao cancro do ovário, verifica-se uma ligeira diminuição do risco. Quem teve cancro da mama tem de usar outros métodos contracetivos, especialmente se tiver tido um tumor com recetores hormonais positivos», diz a especialista. A decisão sobre a toma da pílula, considera a American Cancer Society, deve ser ponderada com o médico, tendo em conta os fatores de risco da mulher.

Última revisão: Outubro 2015

artigos recomendados

Previous Next
Close
Test Caption
Test Description goes like this