Aprenda a defender-se do herpes

Aprenda a defender-se do herpes

Apesar de o herpes não ter cura, é possível prevenir os sintomas destes vírus altamente contagiosos e que afetam a maioria da população. Jaime Nina, médico especialista em Infecciologia, explica como.

  • PorCarlos Eugénio AugustoJornaista

  • ColaboraçãoProf. Dr. Jaime Nina
    Médico especialista em Infecciologia e Medicina Tropical no Hospital Egas Moniz e docente no Instituto de Higiene e Medicina Tropical

Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 67 por cento da população mundial abaixo dos 50 anos é afetada pelos vírus humanos da família Herpesviridae. A elevada prevalência está diretamente relacionada com «a facilidade com que estes vírus se propagam, em especial na espécie mais comum, conhecida por HSV1 ou herpes oral, e que atinge a maioria dos adultos, ou na expressão mais complexa, definida por vírus varicela zoster ou VZV . Em ambos os casos, a transmissão é realizada por contacto direto durante a infância, pois nessa altura é habitual que as crianças partilhem brincadeiras e objetos como fraldas, ou troquem beijos e abraços, facilitando o contágio», explica Jaime Nina, médico especialista em Infecciologia, à Revista Prevenir. «Menos frequente, existe ainda outro vírus desta família, o HSV2, ou herpes genital, que resulta, na maioria das vezes, por transmissão sexual, principalmente depois da adolescência, e afeta entre 30 e 40 por cento das pessoas, em ambos os sexos. Esse contágio não implica obrigatoriamente penetração e pode resultar do simples contacto de pele com pele», alerta o especialista.

«Estes vírus instalam-se dentro de neurónios e acompanham a sua sobrevivência, o que os torna incuráveis, manifestando-se quando os índices de imunidade do organismo não estão a funcionar em pleno»

Herpes: vírus oportunistas

Independentemente da altura e forma da transmissão, «o período de incubação dos HSV1 e HSV2, definidos como vírus simplex, é relativamente rápido e, entre o contágio e as primeiras manifestações, passam entre uma e duas semanas, sendo que as crises podem ser muito frequentes. Isso está relacionado com o facto de serem vírus que “despertam” com relativa facilidade», refere Jaime Nina. «No caso do varicela zoster, o processo é mais complexo, sendo comum a pessoa ter uma primoinfeção [primeira infeção], que se manifesta com uma varicela na infância, e depois não voltar a ter qualquer surto ou estar 30, 40 ou 50 anos sem qualquer sinal até que, caso não cumpra nenhuma estratégia de prevenção, tem uma “zona” na terceira idade. Estes longos intervalos devem-se ao facto de, aquando da infeção, estes vírus se instalarem dentro de neurónios e acompanharem a sua sobrevivência, o que os torna incuráveis, manifestando-se quando os índices de imunidade do organismo não estão a funcionar em pleno. No herpes oral, isso acontece na sequência de estados febris, excesso de exposição solar ou stresse emocional (na véspera de um exame ou em situações de divórcio ou morte de um familiar). No caso do herpes genital, a incidência de surtos pode estar relacionada com as fases do ciclo menstrual e gravidez. O envelhecimento, ser portador de uma doença que interfere com o sistema imunitário (HIV, linfoma ou leucemia), estar sujeito a um tratamento oncológico prolongado ou com cortisona, ou ter sido sujeito a um transplante são os fatores de risco mais associados ao varicela zoster».

Os principais sintomas

«Normalmente, e quando devidamente tratados, o herpes oral e genital são mais incómodos do que perigosos», diz Jaime Nina. «Os primeiros sintomas associados ao herpes oral incluem febre e dores de cabeça ligeiras, uma sensação de ardor, comichão ou mesmo dor, ainda que não muito frequente, que evoluem para uma ulceração que, na fase final, dá origem a uma “crosta”. As zonas de maior incidência são lábios, bochecha, parte externa e interna, e nariz», enumera o especialista. «O vírus genital manifesta-se de forma semelhante, mas, devido à zona afetada, torna-se mais incómodo e doloroso, sendo, por vezes, confundido com candidíase, uma infeção originada por um fungo. Não sendo problemas graves, devem ser devidamente tratados, em especial o HSV1, pois, em casos extremos, a sua evolução pode afetar o sistema nervoso central e dar origem a uma encefalite herpética (que provoca uma inflamação cerebral)», avisa Jaime Nina. «No caso do vírus zoster, a primeira manifestação assume a forma de varicela, incluindo febre e vesículas (conjuntos de “bolhas”) pelo corpo, principalmente no couro cabeludo, face e tronco. Mais tarde, a evolução deste vírus origina o que popularmente se designa por “zona” e afeta normalmente um dos lados do corpo, entre a coluna até meio da barriga ou tórax, assumindo a forma de uma “mancha” que provoca comichão e dor».

Riscos associados

Além desses efeitos, «os vírus herpes podem afetar outros órgãos e com consequências graves, em particular nos casos de HSV2 e varicela zoster», indica Jaime Nina. «Os surtos mais intensos de herpes vaginal aumentam a possibilidade de infeções na vagina e pénis, assim como da bexiga, bem como o risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis, incluindo o HIV. Por sua vez, uma crise de “zona”, por exemplo na nádega, pode possibilitar o alojamento do vírus no interior da vagina ou do reto e também dar origem a uma infeção. Além disso, a varicela diagnosticada ou não pode evoluir para uma pneumonia viral», acrescenta o especialista. «Outra questão relevante é que se a transmissão de qualquer um destes vírus, em particular no caso do herpes genital, for de mãe para filho, via canal de parto, pode afetar o recém-nascido e os problemas serem muito graves, incluindo danos a nível cerebral, cegueira e, em situações agudas, provocar a morte do bebé».

A gravidez eleva probabilidade de infeção. Esta é a conclusão de um estudo publicado no The New England Journal of Medicine que revela que 30 por cento das grávidas são infetadas pelo herpes genital devido à fragilidade do sistema imunitário.

Diagnóstico e tratamento

«Uma simples observação por parte de um médico especialista permite fazer um diagnóstico preciso em qualquer um destes três vírus», garante Jaime Nina. No entanto, «pode também pedir-se uma confirmação laboratorial, através de análises ao sangue por “esfregaço” da lesão, mas raramente é solicitado, com exceção da suspeita de um caso de encefalite herpética, que, a confirmar-se, implica uma terapêutica específica». Quanto ao tratamento, que nunca implica a cura, mas sim o controlo do surto, nos casos do herpes oral e genital, e se se tratar de um doente reincidente, o infecciologista indica, «para os casos menos graves, o recurso às vulgares pomadas, que podem ser adquiridas na farmácia. Numa primeira manifestação deve procurar-se ajuda especializada. Essa também deve ser a opção no caso de surtos mais agressivos, vírus zoster incluído, pois pode ser necessário prescrever um tratamento antivírico e sistémico. Até porque, uma “zona” mal curada, pode resultar numa pneumonia, ou, se afetar uma vista, dar origem a úlceras na córnea e cegar», alerta o especialista.


Como prevenir os vírus do herpes

Jaime Nina, médico especialista em infecciologia, explica como evitar a infeção dos vírus da família herpesviridae.

  • Herpes oral (HSV1)
    «Ainda que seja complicado prevenir a transmissão deste vírus, uma vez que está muito relacionada com o comportamento das crianças, é fundamental ter noção que se deve evitar o contacto pele com pele, em especial quando já existirem ulcerações, e que o vírus se espalha mais facilmente quando as “bolhas” estão húmidas. É também essencial não partilhar objetos pessoais e ter as mãos sempre limpas.»
  • Herpes genital (HSV2)
    «Deve-se usar sempre preservativo durante qualquer tipo de contacto sexual, mesmo que não exista penetração. A par disso, é importante ter em atenção que o risco de contágio aumenta com o número de parceiros sexuais, sendo de evitar contactos íntimos durante um surto de herpes, seja qual for o vírus.»
  • Varicela zoster
    «A melhor estratégia é a toma da vacina na infância, que se realiza em duas doses: a primeira entre os 12 e os 15 meses; a segunda entre os 4 e os 6 anos. Recomenda-se também a toma pós-zoster, o que reduz muitíssimo a possibilidade de apanhar a doença numa fase mais tardia da vida.»
Última revisão: Setembro 2019

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