Aneurisma cerebral: médico neurocirurgião explica o que é, quem corre maior risco, quais os sintomas, como prevenir e tratar

Aneurisma cerebral: médico neurocirurgião explica o que é, quem corre maior risco, quais os sintomas, como prevenir e tratar

Potencialmente fatal, o aneurisma cerebral assusta pela imprevisibilidade e potenciais sequelas. Com a ajuda de um médico neurocirurgião, procurámos perceber em que consiste, quais os sinais de alarme e como pode ser ou não prevenido.

  • PorBárbara BettencourtJornalista

  • ColaboraçãoDr. Manuel Cunha e SáMédico neurocirugião

Sabia que pode ser portador de um aneurisma cerebral sem qualquer sintoma ou danos associados? «Estima-se que cerca de cinco por cento da população esteja nestas condições, o que corresponde a um número bastante importante, mas a maior parte não chega a ser diagnosticada pois não desenvolve sintomas. Uma percentagem importante, porém, acaba por romper, com a taxa anual de rotura a rondar os dois por cento, o que corresponde a cerca de dez por 100 mil habitantes por ano», revela o médico neurocirurgião Manuel Cunha e Sá, coordenador do Centro de Neurociências no Hospital CUF Tejo. Em termos técnicos, o aneurisma cerebral consiste numa «dilatação das paredes das artérias, que ocorre por doença ou fraqueza das mesmas, e assume a forma de um pequeno saco ou balão preenchido com sangue», explica. Quando são de dimensões reduzidas, o risco de rutura é menor, permanecendo assintomáticos, mas se aumentarem de tamanho, «essa dilatação pode exercer pressão sobre nervos ou outras estruturas cerebrais adjacentes e eventualmente romper causando uma hemorragia que vai provocar danos locais e à distância».

Maior perigo a partir dos 40 anos

A prevalência deste tipo de aneurisma aumenta a partir da quarta década de vida, e as suas causas são múltiplas. «Grande parte tem origem em fraqueza, doença ou desgaste das paredes arteriais, habitualmente em zonas em que as artérias se bifurcam e que estão submetidas a um maior desgaste mecânico fruto do fluxo mais turbulento que se gera nestes pontos de cruzamento arterial. O próprio processo de envelhecimento da parede arterial contribui para o seu enfraquecimento e o eventual aparecimento destes aneurismas», indica o especialista. «Além dos aspetos relacionados com o fluxo arterial agravados por regimes elevados de pressão arterial, outras doenças podem promover o aparecimento e desenvolvimento de aneurismas. Por exemplo, as que decorrem do abuso do consumo de álcool, do uso do tabaco e de todas as condições que concorram para a doença da parede arterial, como a arterosclerose, com o aumento dos níveis de gorduras e colesterol sanguíneos», explica Manuel Cunha e Sá.

O que acontece quando o aneurisma cerebral rebenta

«Neste caso dá-se uma hemorragia que ocupa os espaços em redor do cérebro, sendo que pode mesmo ocorrer para dentro do cérebro. Existe um risco acrescido associado a algumas doenças congénitas, como a dos rins poliquísticos e doenças do tecido conjuntivo. E, caso se dê uma rutura de aneurisma, as pessoas que cronicamente tomam antiagregantes ou anticoagulantes estão também sujeitas a um risco mais elevado, que decorre do efeito da própria medicação, que contraria a capacidade de coagulação», explica o médico neurocirurgião. No entanto, o maior risco de rutura parece estar sobretudo associado «às características do aneurisma em si (tamanho, forma, localização) do que aos fatores de risco do indivíduo», esclarece. Se o aneurisma assintomático pode não causar problemas, já nos que rompem o prognóstico é mais reservado. Tal sucede «não só pelas consequências imediatas da própria rutura, como pela sequência de eventos nefastos que podem decorrer da hemorragia inicial e que, com frequência, danificam seriamente o cérebro nas duas semanas subsequentes à hemorragia. Este quadro, designado por vasospasmo, pode ocorrer mesmo após um tratamento bem-sucedido do aneurisma que rompeu, uma vez que é consequência do efeito inflamatório que o sangue da hemorragia desencadeia no cérebro em geral. A taxa de mortalidade dos aneurismas que rompem pode chegar aos 60 por cento, se levarmos em consideração todos estes fatores, e aumenta em idades mais avançadas, em especial acima dos 70 anos».

Tenho um aneurisma cerebral. E agora?

No caso de ser diagnosticado um aneurisma sem rutura, são várias as possibilidades de tratamento. «Em doentes com idades mais avançadas ou em aneurismas muito pequenos e localização particular podemos optar por uma atitude de vigilância. Em caso de tratamento, este deve ter como objetivo a exclusão do aneurisma da circulação cerebral, o que pode ser conseguido tanto através de uma cirurgia em que se coloca um clip a encerrar o aneurisma, como, em alternativa, através da introdução de pequenas espiras metálicas dentro do saco do aneurisma, obliterando o seu interior. Esta última técnica, designada por embolização, é efetuada utilizando um cateter levado até ao aneurisma a partir de um ponto de entrada numa artéria periférica da região inguinal, utilizando a técnica da angiografia.» No caso dos aneurismas que romperam, «há que tratar do aneurisma o mais precocemente possível, para evitar que volte a romper, e tratar das consequências da hemorragia que duram, na fase aguda, até duas semanas após a ocorrência. Daí para a frente poderá haver necessidade de estender o tratamento já no plano da recuperação de eventuais defeitos neurológicos que tenham permanecido, como consequência da rutura», esclarece Manuel Cunha e Sá. As sequelas «dependem da área do cérebro afetada e da sua importância. Podem existir alterações da expressão e compreensão verbais (linguagem), limitações de movimentos dos membros, alterações de humor e da personalidade ou estados permanentes de grave insulto cerebral, com total dependência de terceiros», esclarece Manuel Cunha e Sá.


Como prevenir o aneurisma cerebral?

De acordo com o médico neurocirurgião Manuel Cunha e Sá, «a prevenção passa pela adesão a hábitos saudáveis», nomeadamente:

  • Manter uma alimentação saudável.
  • Evitar abusos no consumo de álcool.
  • Não fumar.
  • Controlar a tensão arterial.
  • Verificar as análises com o médico assistente, mantendo um peso proporcional à estatura e um padrão de exercício físico regular.

Sinais de alarme do aneurisma

«A presença de um aneurisma cerebral é maioritariamente assintomática, mas alguns produzem sintomas antes de romperem», revela o médico neurocirurgião Manuel Cunha e Sá.

  • Visão dupla, ptose (descaimento) de uma pálpebra ou perda de visão. «Decorrem da compressão de estruturas vizinhas, pelo crescimento do saco, que exercem pressão sobre nervos cranianos, causando estes sintomas.»
  • Dor de cabeça explosiva. «A rutura de um aneurisma vem quase obrigatoriamente associada ao início abrupto de uma dor de cabeça muito intensa (a mais intensa que alguma vez se experimentou) e que pode ser acompanhada de náuseas, vómitos, perda de conhecimento, falta de mobilidade dos membros ou perturbações da linguagem, crise epilética, coma ou mesmo morte súbita. Na presença de uma dor de cabeça com estas características, deve procurar atenção médica em contexto urgente, recorrendo ao atendimento permanente de uma instituição hospitalar.»
Última revisão: Julho 2021

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