Usa bem as suas lentes de contacto?

Lentes de contacto: tipos, como usar

Melhoram o dia a dia de quem as usa, mas a utilização indevida das lentes de contacto pode prejudicar gravemente a saúde dos olhos. Aprenda a usá-las bem.

  • Por
    Carlos Eugénio AugustoJornalista

  • Colaboração
    Dr. Walter RodriguesMédico oftalmologista

As lentes de contacto permitem corrigir uma série de problemas visuais, «desde defeitos refrativos como miopia e hipermetropia a astigmatismo, tendo ainda finalidades terapêuticas como redução da dor, proteção da córnea, recuperação de lesões, aumento da eficácia da cicatrização de tecidos oculares ou libertação de medicamentos na superfície ocular», enumera Walter Rodrigues, médico oftalmologista e coordenador do Grupo de Superfície Ocular, Córnea e Contactologia da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia. Têm uma multiplicidade de funções e existem várias tipologias, mas todas têm um aspeto em comum: «É essencial respeitar as suas normas de utilização e manutenção. Só assim se evitam problemas como lesões traumáticas, alergias e infeções causadas por fungos, bactérias e parasitas, que podem levar à diminuição ou mesmo perda de visão», alerta o especialista.

«Devem usar-se as lentes de contacto o menos tempo possível, no máximo oito horas por dia»

Tipos de lentes de contacto

«Feitas maioritariamente de silicone-hidrogel, variam entre as mais flexíveis hidrófilas, também chamadas “moles” ou “gelatinosas”, e as semirrígidas ou rígidas, que não se deformam», explica Walter Rodrigues à Revista Prevenir. «Dentro do primeiro grupo, e de acordo com os problemas visuais que corrigem, existem as esféricas, aconselhadas para combater a miopia e hipermetropia, e as tóricas, que reabilitam casos de astigmatismo. Já as semirrígidas ou rígidas, que mantêm a curvatura, são aconselhadas em casos de astigmatismo elevados ou ceratocone, uma doença não inflamatória progressiva que provoca mudanças estruturais na córnea, tornando-a cónica, e variam consoante o tamanho da córnea e da curvatura do olho».

Quem não pode usar

Ainda que se trate de uma prática cada vez mais usual, nem todos podem usar lentes de contacto, especialmente «quem tem patologias da córnea ou conjuntiva (membrana mucosa que reveste a parte interna da pálpebra e a superfície exposta da córnea), quem tem uma profissão que implique o uso diário e prolongado de computador (prática que diminui o pestanejar e impede a lubrificação ideal do olho), profissionais cujo trabalho envolva risco de infeções e pessoas com blefarite, uma patologia também conhecida como “olho seco”, que provoca a redução da produção de lágrima», informa o médico oftalmologista.

«Como a presença da lente de contacto vai reduzir a oxigenação em mais de 50 por cento, quanto mais tempo se usar, menos oxigénio recebe, podendo até levar à asfixia da córnea»

Tempo máximo de utilização

As lentes de contactos podem ser diárias, semanais, quinzenais e mensais. «Excetuando as primeiras, que são descartáveis, todas as outras são colocadas e retiradas todos os dias, sendo guardadas no estojo», indica Walter Rodrigues. Independentemente dessas características, «devem usar-se as lentes de contacto o menos tempo possível, no máximo oito horas por dia», aconselha o especialista. «Sendo a nossa córnea um meio transparente e sem vasos sanguíneos, necessita de oxigénio para sobreviver. E como a presença da lente de contacto vai reduzir a oxigenação em mais de 50 por cento, quanto mais tempo se usar, menos oxigénio recebe, podendo até levar à asfixia da córnea», elucida o especialista, que recomenda que se «retirem as lentes de contacto assim que se chegue a casa e se coloque os óculos».

Não durma com as lentes de contacto

«É expressamente proibido usar as lentes durante o sono, período em que a produção de lágrima diminui cerca de 70 por cento e não existe oxigenação. É um erro crasso e pode dar origem a quadros gravíssimos, sendo a úlcera de córnea um dos problemas mais comuns», alerta Walter Rodrigues. «É fundamental ter consciência desse risco e entender que, com a pálpebra fechada, a lente de contacto está no olho como numa “estufa”, elevando a possibilidade da proliferação de bactérias (que habitualmente vivem na superfície ocular). Mais, sem oxigénio e lágrima, a lente pode enrolar-se dentro do olho e provocar lesões da córnea».

Lubrificar o olho é importante. «Trabalhar em locais com aquecimento artificial ou ar condicionado aumenta a probabilidade de “olho seco”. Nesses casos, aconselha-se a aplicação de um lubrificante ocular», recomenda Walter Rodrigues

Ir ao oftalmologista

«Ainda que o defeito refrativo seja dinâmico, por princípio, recomenda-se apenas uma ida anual ao oftalmologista», refere o especialista. «No entanto, sempre que se sentir algum desconforto, deve procurar-se ajuda, pois as lentes de contacto podem estar danificadas e causar lesões na córnea. Os sinais de alerta mais comuns são olhos vermelhos, dor, sensibilidade à luz, visão turva ou sensação de corpo estranho. Neste último caso, pode mesmo indiciar casos de úlcera córnea e evoluir para outro tipo de lesões apos 24 e 48 horas», alerta Walter Rodrigues.


Passo a passo: como colocar e retirar as lentes de contacto

«Aplicar e retirar as lentes de contacto são tarefas intuitivas e, rapidamente, com a rotina, se domina a técnica. No entanto, algumas distrações podem colocar em causa a saúde das lentes e dos olhos», alerta Walter Rodrigues, médico oftalmologista.

  1. Abra o estojo
    Este deve ser sempre o primeiro passo. Muitas vezes, erradamente, lava-se as mãos e só depois se abre o estojo. Dado que esse objeto é um foco de bactérias, pode contaminar as mãos e, por arrasto, as lentes.
  2. Lave as mãos
    Sempre depois de abrir o estojo. Esse cuidado impede a contaminação das lentes.
  3. Coloque as lentes
    Siga sempre as regras de utilização indicadas pelo oftalmologista. É indiferente o olho em que as coloca em primeiro lugar, mas esteja atenta para não as trocar, até porque as graduações, normalmente, diferem. Por norma, o estojo tem a indicação da posição da lente: L/E – esquerda; R/D – direita.
  4. Retire as lentes
    De preferência, assim que chega a casa e depois de lavar as mãos. Tenha o cuidado de colocar cada lente na posição correta do estojo.

Cuidados de uso e manutenção

Os conselhos de Walter Rodrigues, médico oftalmologista, para salvaguardar a eficácia das lentes de contacto:

  • Processo de adaptação
    «No caso de nunca ter usado lentes de contacto, exige-se um período de adaptação. Por norma, no primeiro dia, não se devem utilizar mais de duas horas; no segundo, três ou quatro. Ao fim de menos de uma semana, a adaptação estará completa.»
  • Higiene das lentes
    «Utilize apenas as soluções de limpeza adequadas. Nunca recorra a soro fisiológico ou água, pois contaminam a lente. É também determinante mudar todos os dias a solução de limpeza. Faça-o mesmo que não use as lentes.»
  • Mudança do estojo
    «Faça-o regularmente, no máximo, de três em três meses. As próprias caixas das soluções de limpeza já trazem um estojo novo.»
  • Na piscina ou na praia
    «Retire as lentes antes de entrar na água, pois é um potencial foco de infeções e pode danificá-las.»
  • No avião
    «Evite usar lentes de contacto caso faça uma viagem superior a três horas. Acima desse período, a rarefação do ar na cabina provoca secura ocular.»
  • Se vai usar maquilhagem
    «Coloque sempre as lentes de contacto em primeiro lugar. Caso contrário, arrisca-se a colocar a lente por cima de restos de maquilhagem que, quando em contacto com a córnea, podem infetá-la. Quanto ao tipo de maquilhagem, use apenas do tipo antialérgico e resistente à água.»

Última revisão: Janeiro 2019

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