Erradamente, referimo-nos às hemorroidas como uma patologia. Na realidade, todos as temos. Aquilo que queremos evitar é a doença hemorroidária. Comichão, prurido ou ardência, corrimento e dor são possíveis sintomas da doença. Mas não se assuste: de acordo com José Pedro Azevedo, médico-cirurgião, especialista em proctologia (área da medicina que trata as doenças do reto e do ânus) no Hospital CUF Porto, existem vários tratamentos para as hemorroidas, dependendo do grau da doença hemorroidária.
Doença hemorroidária
As hemorroidas são um tecido constituinte normal do canal anal e reto, muito rico em vasos sanguíneos, com a função de facilitar a evacuação e manter o ânus fechado. Quando as veias deste tecido se dilatam em excesso, ele fica comprometido, surgindo, então, a doença hemorroidária. Sangramento, prolapso ou até a formação de coágulos são algumas das consequências que podem surgir. Sobretudo a partir dos 40 anos, altura em que a incidência desta doença aumenta devido à perda de tónus do tecido hemorroidário provocada pelo envelhecimento. Dependendo da gravidade, a doença pode ser classificada em diferentes graus, explica José Pedro Azevedo à Revista Prevenir.
- Grau I
As veias, apesar de inchadas, estão no sítio e, mesmo que haja sangramento durante a evacuação, o ânus está normal e as hemorroidas não são visíveis. - Grau II
As veias inchadas saem durante a evacuação, mas entram de novo naturalmente ao limparmos a zona no fim da evacuação.
É sobretudo a partir dos 40 anos que a incidência desta doença aumenta, devido à perda de tónus do tecido hemorroidário provocada pelo envelhecimento
- Grau III
As veias inchadas saem durante a evacuação e já não entram se não forem empurradas. - Grau IV
As veias inchadas estão sempre para fora, causando escorrência e até alguma incontinência.
Diferentes tratamentos para as hemorroidas
Dependendo do grau, existem diferentes tipos de tratamentos para a hemorroidas. A de grau I «pode ser tratada com a mudança de dieta e outros hábitos», como beber muita água, evitar estar muito tempo na sanita, fazer uma higiene adequada ou, no caso de obstipação, usar «um banquinho para elevar os pés» para «ajudar a fazer menos força na altura da evacuação», explica o especialista. No grau II e III, podem ser receitados «laxantes em SOS, supositórios para lubrificar o reto, assim como pomadas emolientes e analgésicas. Comprimidos à base de flavonoides, como os receitados para as varizes podem ajudar.
Embora não seja líquida a sua eficácia, sugere-se que têm uma ação tónica sobre a parede das veias, facilitando a circulação. A ideia é sempre procurar diminuir o incómodo que as hemorroidas possam causar. No grau IV, o tratamento é cirúrgico», conclui.
A cirurgia
Quando os tratamentos não resolvem a situação das hemorroidas, deixando as pessoas em sofrimento, recorre-se à cirurgia para as eliminar. Regra geral, este método aplica-se nas hemorroidas de grau IV. «Se for bem-feita, é eficaz e são raros os casos que obrigam a nova cirurgia», explica José Pedro Azevedo à Revista Prevenir. «Além da cirurgia clássica, têm surgido outras técnicas, quase todas feitas em ambulatório e sem necessidade de internamento ou com internamento de um dia», adianta. A opção vai depender da indicação e preferência do médico.
Tipos de tratamentos cirúrgicos
José Pedro Azevedo, especialista em proctologia, explica cada tipo de cirurgia existente para o tratamento das hemorroidas, indicando em que caso são adequados.
- Escleroterapia
«Injetamos uma substância (polidoicanol) nas veias que causa a sua esclerose: as veias secam. Faz-se em várias sessões e tem indicação nas hemorroidas de grau II. Tem o risco de causar irritação nas veias adjacentes causando dor.» - Cirurgia clássica
«Remove-se o tecido hemorroidal, cortando o excesso. Pode resultar bem, mas tem de ser bem feito, para evitar cortar-se tecido a mais. Inclui anestesia e internamento de um dia, sendo esta técnica recomendada nas hemorroidas de grau III e IV.»
«Além da cirurgia clássica, têm surgido outras técnicas, quase todas feitas em ambulatório e sem necessidade de internamento ou com internamento de um dia»
- Ligadura elástica das hemorroidas
«Com a ajuda de um ânuscópio, um aparelho que entra no ânus, aspira-se a hemorroida para dentro de uma campânula e dispara-se uma anilha que a estrangula. O tecido fica desvitalizado e sai passados dez dias de forma natural. Faz-se em várias sessões. Tem indicação nas hemorroidas de grau II e só será doloroso se a aplicação não for bem feita.» - Laqueamento com doppler
«Nesta técnica, também conhecida por HAL (Hemorroidal Arterial Ligation), usamos um anuscópio com um sensor doppler para identificar as artérias com um sinal arterial forte e laqueiam-se essas artérias. Tem indicação nas hemorroidas de grau III e IV.» - Tratamento de Longo
«Também conhecida por PPH – Procedimento para Prolapso Hemorroidário –, esta técnica usa um aparelho que corta um cilindro de mucosa e o “agrafa”, sugando para dentro o tecido hemorroidal. A vantagem é não haver corte nem bisturi. É uma técnica menos dolorosa porque não corta a pele da mucosa anal. Tem indicação nas hemorroidas de grau III e IV.» - Laser
«É a forma mais recente de tratar esta doença. Requer anestesia, mas por fazer incisões mais pequenas é menos dolorosa. Usa a energia ótica e o calor. É um tratamento promissor a ser usado quando não há muitas hemorroidas ou não muito graves como as de grau II e III.»