Existem vários fatores que podem levar à toma da pílula do dia seguinte. Por exemplo, quando a contraceção habitual falha, por esquecimento na toma da pílula ou porque o preservativo se rompeu. Também pode acontecer que, por diversas razões, a eficácia do método contracetivo que está a usar tenha sido afetada. Nestes casos, existe um recurso de emergência que pode evitar uma gravidez indesejada: a chamada pílula do dia seguinte.
«Se já tiver ocorrido a ovulação e a mulher já estiver grávida, a pílula de emergência não tem efeito nem aumenta o risco de aborto»
A pílula do dia seguinte encontra-se à venda em farmácias e não necessita de receita médica. Também está disponível gratuitamente nos centros de saúde e nos serviços de urgência de ginecologia dos hospitais. É tomada numa dose única após uma relação sexual desprotegida, idealmente nas primeiras 72 horas e, no máximo, até ao quinto dia. Mas, afinal, como atua este comprimido? E quais os riscos para a saúde?
Tudo sore a pílula do dia seguinte
Em entrevista à Revista Prevenir, Teresa Bombas, médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia, esclarece as principais dúvidas.
O que é exatamente a pílula do dia seguinte?
«É um medicamento de base hormonal que bloqueia temporariamente a ovulação, impedindo que a fecundação aconteça, podendo assim prevenir uma gravidez não desejada.»
Em que situações devo considerar recorrer a este contracetivo de emergência?
«As situações mais frequentes são ter tido relações sexuais não protegidas ou não protegidas eficazmente. Ter-se esquecido de tomar a pílula dois dias consecutivos; ter começado a tomar a pílula, colocado o anel ou o adesivo dois dias mais tarde; ter tomado medicamentos que interfiram com a contraceção hormonal (como antiepiléticos, alguns antibióticos, antiretrovíricos ou erva-de-são-joão); ter vómitos ou diarreia mais de dois dias seguidos; ou, ainda, ter havido rotura de preservativo ou retenção do preservativo na vagina.»
Como se usa?
«Após uma relação sexual desprotegida e caso não pretenda engravidar, a pílula do dia seguinte deve ser tomada o mais rapidamente possível. A pílula de levonogestrel é mais eficaz se tomada nas primeiras 72 horas (três dias). A que contém acetato de ulipristal é eficaz até 120 horas ou cinco dias depois da relação sexual. A menstruação deverá aparecer na altura esperada. Contudo, em algumas mulheres, pode surgir um pouco antes. Nesse caso, e se a menstruação tiver as características habituais, não é preciso ficar preocupada. Quando há um atraso superior a uma semana, deverá ser feito um teste de gravidez.
E se eu já estiver grávida?
«Se já tiver ocorrido a ovulação e a mulher já estiver grávida, a pílula de emergência não tem efeito nem aumenta o risco de aborto.»
As pílulas de emergência que se encontram à venda são todas iguais?
«Não. Existem dois tipos de pílulas do dia seguinte à venda no mercado. Uma contém acetato de ulipristal; a outra inclui levonorgestrel, sendo que a primeira é globalmente mais eficaz.»
Em que casos a pílula do dia seguinte está contraindicada?
«As contraindicações são raras e relacionam-se sobretudo com a alergia aos compostos da pílula. Assim, deve haver algumas precauções com a pílula com acetato de ulipristal durante a amamentação. Por ausência de estudos clínicos detalhados é prudente evitar a amamentação por um período de três dias se tomar esta pílula».
As mulheres com contraindicações para a pílula convencional podem recorrer à pílula de emergência?
«Sim, mesmo as mulheres com contraindicações (como doenças cardiovasculares e tromboembólicas, dislipideminas ou cancros hormonodependentes) para a pílula combinada (que é a convencional, contendo estrogénios e progesterona) podem recorrer à pílula do dia seguinte. Isto porque esta pílula não contém estrogénios, responsáveis pela maioria dos eventos tromboembólicos associados à pílula.
«O efeito secundário mais frequente é uma variação no ciclo menstrual de, mais ou menos, dois dias»
Existem contraindicações específicas para esta pílula?
«Não existem contraindicações para o uso de levonorgestrel. Recomenda-se precaução no uso de acetato de ulipristal para mulheres com asma grave que estejam a ser tratadas com glucocorticoides orais; também para mulheres com disfunção hepática grave, intolerância à lactose ou hipersensibilidade conhecida ao acetato de ulipristal.»
Após a toma da pílula do dia seguinte podem surgir efeitos secundários?
«O efeito secundário mais frequente é uma variação no ciclo menstrual de, mais ou menos, dois dias. Se não menstruar no espaço de quatro dias após a data prevista, deve realizar um teste de gravidez. Os restantes efeitos secundários são leves e em geral transitórios. Por exemplo, podem ocorrer náuseas, dor abdominal e cefaleias.»
Quantas vezes por ano posso recorrer a este contracetivo?
«O uso repetido da contraceção de emergência não se associa a qualquer tipo de problema para a saúde. Assim, não existe uma dose máxima nem limite de utilização. No entanto, o recurso frequente a este tipo de contraceção indica que o método de contraceção que está a usar não é o mais adaptado.»
A pílula de emergência é tão eficaz como a de toma diária?
«Não. A contraceção de emergência é menos eficaz do que a contraceção regular (com uma eficácia de 99 por cento se for tomada de forma correta, regular e continuada) e por isso há risco de gravidez. Uma em duas mulheres engravidam com a toma de acetato de ulipristal após uma relação sexual não protegida e duas em três mulheres engravidam com a toma de levonorgestrel.»
Que fatores podem condicionar a eficácia da pílula do dia seguinte?
«Na pílula com levonorgestrel, a eficácia da contraceção é tanto maior quanto mais cedo for tomada, diminuindo gradualmente. Esta parece também ser menos eficaz nas mulheres obesas, mas não é motivo para que estas não a utilizem se estiverem perante o risco de uma gravidez. Aliás, esta é a recomendação da Organização Mundial da Saúde. Independentemente do índice de massa corporal, a pílula com acetato de ulipristal é mais eficaz do que a pílula com levonorgestrel».
«Se não menstruar na altura prevista, deve fazer um teste de gravidez»
É conveniente ir ao médico antes ou após a toma?
«É importante consultar o médico para se escolher o método de contraceção mais adequado se não usa nenhum ou se frequentemente recorre à contraceção de emergência. De resto, o farmacêutico tem formação para aconselhar e informar de todos os detalhes para o bom uso de uma pílula de emergência».
A contraceção de emergência previne a gravidez até ao final do ciclo menstrual?
«Não. Após o período de inibição da ovulação provocado pela pílula de emergência, o retorno à fertilidade pode ser imediato, pelo que deverá utilizar-se sempre um método barreira (preservativo) até ao período menstrual seguinte.»

Pílula do dia seguinte: qual escolher?
Existem dois tipos de pílulas do dia seguinte:
Pílula de emergência com acetato de ulipristal 30 mg
- Atua na fase pré-ovulatória precoce e tardia (entre o 8.º ao 13.º dia do ciclo).
- Bloqueia a ovulação durante cinco dias (o tempo que o espermatozoide se mantém fértil no organismo feminino).
- A eficácia no bloqueio da ovulação é independente do intervalo entre a relação sexual não protegida e a toma.
Pílula de emergência com levonorgestrel 1,5 mg
- Atua na fase pré-ovulatória precoce (até ao 11.º dia do ciclo).
- Bloqueia a ovulação durante três dias.
- A eficácia da contraceção é tanto maior quanto mais cedo for tomada, diminuindo gradualmente.
Fonte: Dra. Teresa Bombas, médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia
Mitos sobre a pílula do dia seguinte
“É um comprimido para abortar”
«A pílula de emergência atua atrasando temporariamente a ovulação. Ao atrasar a libertação do óvulo, os espermatozoides não podem fecundá-lo, por isso não chega a existir a fecundação do óvulo ou gravidez. Já os medicamentos abortivos atuam interferindo na fixação do óvulo fecundado à parede uterina. Se já tiver ocorrido a ovulação e a mulher já estiver grávida, a pílula de emergência não vai atuar nem há risco de aborto», esclarece Teresa Bombas, médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia.
“Se tomar a pílula de emergência não engravido”
«A pílula do dia seguinte não é completamente eficaz, pelo que, apesar da sua toma, a mulher pode engravidar. Se não menstruar na altura prevista, deve fazer um teste de gravidez», esclarece Teresa Bombas, médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia.
Relação sexual desprotegida: Qual o risco de gravidez?
Depende da altura do mês em que ocorre a relação sexual desprotegida e da regularidade do ciclo menstrual:
- Se o ciclo menstrual é regular (e não toma a pílula), o seu período fértil (de ovulação) ocorre por volta do 14º dia do ciclo, pelo que se a relação sexual desprotegida ocorrer nesta fase, ou seja, entre o 10º e o 18º dia, a pílula de emergência está particularmente indicada para evitar uma gravidez.
- Se toma a pílula em caso de esquecimento ou toma de medicamentos que interfiram com a sua absorção, há risco de gravidez, sobretudo na primeira semana da pílula.
- Se o ciclo menstrual é irregular deve recorrer sempre à contraceção de emergência nas situações de relação sexual não protegida já que não é fácil prever o período da ovulação.