Pílula do dia seguinte: o que deve saber

A pílula do dia seguinte é um recurso de emergência que pode evitar uma gravidez. Saiba como funciona e quais os riscos para a saúde.

A chamada pílula do dia seguinte, ou contraceção de emergência, pode prevenir uma gravidez indesejada em caso de relação sexual desprotegida. No entanto, não é cem por cento eficaz.

  • PorBárbara BettencourtJornalista

  • ColaboraçãoDra. Teresa BombasMédica especialista em Ginecologia e Obstetrícia 

Existem vários fatores que podem levar à toma da pílula do dia seguinte. Por exemplo, quando a contraceção habitual falha, por esquecimento na toma da pílula ou porque o preservativo se rompeu. Também pode acontecer que, por diversas razões, a eficácia do método contracetivo que está a usar tenha sido afetada. Nestes casos, existe um recurso de emergência que pode evitar uma gravidez indesejada: a chamada pílula do dia seguinte.

«Se já tiver ocorrido a ovulação e a mulher já estiver grávida, a pílula de emergência não tem efeito nem aumenta o risco de aborto»

A pílula do dia seguinte encontra-se à venda em farmácias e não necessita de receita médica. Também está disponível gratuitamente nos centros de saúde e nos serviços de urgência de ginecologia dos hospitais. É tomada numa dose única após uma relação sexual desprotegida, idealmente nas primeiras 72 horas e, no máximo, até ao quinto dia. Mas, afinal, como atua este comprimido? E quais os riscos para a saúde?

Tudo sore a pílula do dia seguinte

Em entrevista à Revista Prevenir, Teresa Bombas, médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia, esclarece as principais dúvidas.

O que é exatamente a pílula do dia seguinte?

«É um medicamento de base hormonal que bloqueia temporariamente a ovulação, impedindo que a fecundação aconteça, podendo assim prevenir uma gravidez não desejada.»

Em que situações devo considerar recorrer a este contracetivo de emergência?

«As situações mais frequentes são ter tido relações sexuais não protegidas ou não protegidas eficazmente. Ter-se esquecido de tomar a pílula dois dias consecutivos; ter começado a tomar a pílula, colocado o anel ou o adesivo dois dias mais tarde; ter tomado medicamentos que interfiram com a contraceção hormonal (como antiepiléticos, alguns antibióticos, antiretrovíricos ou erva-de-são-joão); ter vómitos ou diarreia mais de dois dias seguidos; ou, ainda, ter havido rotura de preservativo ou retenção do preservativo na vagina.»

Como se usa?

«Após uma relação sexual desprotegida e caso não pretenda engravidar, a pílula do dia seguinte deve ser tomada o mais rapidamente possível. A pílula de levonogestrel é mais eficaz se tomada nas primeiras 72 horas (três dias). A que contém acetato de ulipristal é eficaz até 120 horas ou cinco dias depois da relação sexual. A menstruação deverá aparecer na altura esperada. Contudo, em algumas mulheres, pode surgir um pouco antes. Nesse caso, e se a menstruação tiver as características habituais, não é preciso ficar preocupada. Quando há um atraso superior a uma semana, deverá ser feito um teste de gravidez.

E se eu já estiver grávida?

«Se já tiver ocorrido a ovulação e a mulher já estiver grávida, a pílula de emergência não tem efeito nem aumenta o risco de aborto.»

As pílulas de emergência que se encontram à venda são todas iguais?

«Não. Existem dois tipos de pílulas do dia seguinte à venda no mercado. Uma contém acetato de ulipristal; a outra inclui levonorgestrel, sendo que a primeira é globalmente mais eficaz.»

Em que casos a pílula do dia seguinte está contraindicada?

«As contraindicações são raras e relacionam-se sobretudo com a alergia aos compostos da pílula. Assim, deve haver algumas precauções com a pílula com acetato de ulipristal durante a amamentação.  Por ausência de estudos clínicos detalhados é prudente evitar a amamentação por um período de três dias se tomar esta pílula».

As mulheres com contraindicações para a pílula convencional podem recorrer à pílula de emergência?

«Sim, mesmo as mulheres com contraindicações (como doenças cardiovasculares e tromboembólicas, dislipideminas ou cancros hormonodependentes) para a pílula combinada (que é a convencional, contendo estrogénios e progesterona) podem recorrer à pílula do dia seguinte. Isto porque esta pílula não contém estrogénios, responsáveis pela maioria dos eventos tromboembólicos associados à pílula.

«O efeito secundário mais frequente é uma variação no ciclo menstrual de, mais ou menos, dois dias»

Existem contraindicações específicas para esta pílula?

«Não existem contraindicações para o uso de levonorgestrel. Recomenda-se precaução no uso de acetato de ulipristal para mulheres com asma grave que estejam a ser tratadas com glucocorticoides orais; também para mulheres com disfunção hepática grave, intolerância à lactose ou hipersensibilidade conhecida ao acetato de ulipristal.»

Após a toma da pílula do dia seguinte podem surgir efeitos secundários?

«O efeito secundário mais frequente é uma variação no ciclo menstrual de, mais ou menos, dois dias. Se não menstruar no espaço de quatro dias após a data prevista, deve realizar um teste de gravidez. Os restantes efeitos secundários são leves e em geral transitórios. Por exemplo, podem ocorrer náuseas, dor abdominal e cefaleias.»

Quantas vezes por ano posso recorrer a este contracetivo?

«O uso repetido da contraceção de emergência não se associa a qualquer tipo de problema para a saúde. Assim, não existe uma dose máxima nem limite de utilização. No entanto, o recurso frequente a este tipo de contraceção indica que o método de contraceção que está a usar não é o mais adaptado.»

A pílula de emergência é tão eficaz como a de toma diária?

«Não. A contraceção de emergência é menos eficaz do que a contraceção regular (com uma eficácia de 99 por cento se for tomada de forma correta, regular e continuada) e por isso há risco de gravidez. Uma em duas mulheres engravidam com a toma de acetato de ulipristal após uma relação sexual não protegida e duas em três mulheres engravidam com a toma de levonorgestrel.»

Que fatores podem condicionar a eficácia da pílula do dia seguinte?

«Na pílula com levonorgestrel, a eficácia da contraceção é tanto maior quanto mais cedo for tomada, diminuindo gradualmente. Esta parece também ser menos eficaz nas mulheres obesas, mas não é motivo para que estas não a utilizem se estiverem perante o risco de uma gravidez. Aliás, esta é a recomendação da Organização Mundial da Saúde. Independentemente do índice de massa corporal, a pílula com acetato de ulipristal é mais eficaz do que a pílula com levonorgestrel».

«Se não menstruar na altura prevista, deve fazer um teste de gravidez»

É conveniente ir ao médico antes ou após a toma?

«É importante consultar o médico para se escolher o método de contraceção mais adequado se não usa nenhum ou se frequentemente recorre à contraceção de emergência. De resto, o farmacêutico tem formação para aconselhar e informar de todos os detalhes para o bom uso de uma pílula de emergência».

A contraceção de emergência previne a gravidez até ao final do ciclo menstrual?

«Não. Após o período de inibição da ovulação provocado pela pílula de emergência, o retorno à fertilidade pode ser imediato, pelo que deverá utilizar-se sempre um método barreira (preservativo) até ao período menstrual seguinte.»


Pílula do dia seguinte: qual escolher?

Existem dois tipos de pílulas do dia seguinte:

Pílula de emergência com acetato de ulipristal 30 mg

  • Atua na fase pré-ovulatória precoce e tardia (entre o 8.º ao 13.º dia do ciclo).
  • Bloqueia a ovulação durante cinco dias (o tempo que o espermatozoide se mantém fértil no organismo feminino).
  • A eficácia no bloqueio da ovulação é independente do intervalo entre a relação sexual não protegida e a toma.

Pílula de emergência com levonorgestrel 1,5 mg

  • Atua na fase pré-ovulatória precoce (até ao 11.º dia do ciclo).
  • Bloqueia a ovulação durante três dias.
  • A eficácia da contraceção é tanto maior quanto mais cedo for tomada, diminuindo gradualmente.

Fonte: Dra. Teresa Bombas, médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia


Mitos sobre a pílula do dia seguinte

“É um comprimido para abortar”

«A pílula de emergência atua atrasando temporariamente a ovulação. Ao atrasar a libertação do óvulo, os espermatozoides não podem fecundá-lo, por isso não chega a existir a fecundação do óvulo ou gravidez. Já os medicamentos abortivos atuam interferindo na fixação do óvulo fecundado à parede uterina. Se já tiver ocorrido a ovulação e a mulher já estiver grávida, a pílula de emergência não vai atuar nem há risco de aborto», esclarece Teresa Bombas, médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia.

“Se tomar a pílula de emergência não engravido”

«A pílula do dia seguinte não é completamente eficaz, pelo que, apesar da sua toma, a mulher pode engravidar. Se não menstruar na altura prevista, deve fazer um teste de gravidez», esclarece Teresa Bombas, médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia.


Relação sexual desprotegida: Qual o risco de gravidez?

Depende da altura do mês em que ocorre a relação sexual desprotegida e da regularidade do ciclo menstrual:

  • Se o ciclo menstrual é regular (e não toma a pílula), o seu período fértil (de ovulação) ocorre por volta do 14º dia do ciclo, pelo que se a relação sexual desprotegida ocorrer nesta fase, ou seja, entre o 10º e o 18º dia, a pílula de emergência está particularmente indicada para evitar uma gravidez.
  • Se toma a pílula em caso de esquecimento ou toma de medicamentos que interfiram com a sua absorção, há risco de gravidez, sobretudo na primeira semana da pílula.
  • Se o ciclo menstrual é irregular deve recorrer sempre à contraceção de emergência nas situações de relação sexual não protegida já que não é fácil prever o período da ovulação.
Última revisão: Setembro 2019

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