Implantes dentários: o que deve saber antes do tratamento

implantes dentários: tipos, como escolher

Graças aos avanços tecnológicos, há procedimentos médicos cada vez mais precisos que permitem, em poucas horas, recuperar os dentes perdidos. Conheça o passo a passo da colocação de implantes dentários, os cuidados e os riscos destas técnicas inovadoras.

  • PorCarmen SilvaJornalista

  • ColaboraçãoProf. Dr. João Caramês
    Professor catedrático da Faculdade de Medicina Dentária e diretor do Instituto de Implantologia

Os implantes dentários são uma alternativa para corrigir a ausência de um ou mais dentes naturais. «Definem-se como dispositivos médicos que podem ser comparados à raiz artificial do dente ausente. Servem de suporte a uma coroa, habitualmente composta por cerâmica e que é o elemento protético que o paciente reconhece como o dente ausente», descreve João Caramês, professor catedrático da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa e diretor do Instituto de Implantologia. Ao “substituir” dentes perdidos, este tipo de reabilitação permite melhorar «a função mastigatória e fonética, preservar os níveis ósseos do maxilar e da mandíbula e melhorar a estética do sorriso, quase sempre comprometido na sequência da ausência dentária». Ao restituir função e estética, a reabilitação oral com implantes dentários atribui «um maior conforto social e psicológico ao paciente, fundamental para o seu bem-estar», refere João Caramês.

«É fundamental adequar a técnica cirúrgica às características individuais do paciente, e não o paciente a uma técnica cirúrgica como, tantas vezes, é erradamente publicitado»

Tipos de implantes dentários

Existe uma enorme variedade de implantes dentários, contudo, alerta João Caramês, apenas alguns «apresentam estudos clínicos no médio e longo prazo que sustentam a sua aplicação clínica com taxas de sucesso elevada». João Caramês explica que, «consoante a natureza do material, podemos distinguir implantes metálicos (em titânio) e implantes cerâmicos (em zircónia). Por apresentar elevada biocompatibilidade com os tecidos do organismo humano, favoráveis características mecânicas e, acima de tudo, resultados satisfatórios, no médio e longo prazo, o titânio tem sido o material gold standard», indica. Contudo, assiste-se à emergência dos implantes cerâmicos, «um conceito metal-free, procurado cada vez mais pelos pacientes», com «características estéticas favoráveis, pela sua aparência branca, e biológicas, promovendo uma favorável saúde peri-implantar». Somente após o diagnóstico clínico e radiográfico, feito pelo médico dentista, poderá ser definido o tipo de reabilitação e o número de implantes dentários a colocar, que não é necessariamente igual ao número de dentes a substituir. Este planeamento está dependente, entre outros fatores, da quantidade e qualidade do osso dos maxilares. Como reforça João Caramês, «é fundamental planear corretamente o caso clínico e adequar a técnica cirúrgica de colocação dos implantes dentários às características individuais do paciente, e não o paciente a uma técnica cirúrgica como, tantas vezes, é erradamente publicitado».

«O surgimento de equipamentos, como scanners intraorais de alta resolução que captam a imagem das arcadas dentárias levou a que os convencionais moldes em silicone, muitas vezes, geradores de desconforto, começassem a ser usados com menor frequência», diz João Caramês

Qualidade e quantidade óssea

Se a quantidade e a qualidade do osso do maxilar ou da mandíbula forem insuficientes, podem ser consideradas várias opções. João Caramês especifica que poderá «recorrer-se a zonas do maxilar ou a áreas ósseas envolventes com maior densidade e disponibilidade óssea para ancorar os implantes dentários» ou «abordar estas zonas promovendo regeneração óssea, isto é, aplicando técnicas cirúrgicas que estimulam a formação de novo osso nos maxilares». Para conseguir um menor desconforto para o paciente, «recorrem-se a biomateriais que reproduzem a componente inorgânica do nosso osso natural», descreve. Quando a quantidade e qualidade óssea são suficientes, a cirurgia é feita com procedimentos minimamente invasivos, que evoluíram bastante nos últimos anos, graças aos avanços tecnológicos. Neste contexto, João Caramês destaca «o advento de uma nova geração de “ferramentas” digitais, que torna possível planificar, com elevada precisão, a cirurgia de um ou mais implantes dentários, recorrendo a scanners intra-orais de alta resolução (câmaras que captam a imagem das arcadas dentárias) ou a uma aquisição volumétrica, com mínima distorção óssea, através de radiografias pela técnica de CBCT (tomografia por feixe cónico com menor exposição a radiação). Um dos resultados deste fluxo de planeamento poderá ser a produção de uma guia cirúrgica que assegura a colocação controlada do implante com elevada precisão e possibilita realizar a cirurgia num período de tempo mais curto, sem descolamento da gengiva, com menor inflamação e desconforto para o paciente», refere.

Desde o início do processo até ao final, com a colocação das coroas definitivas, pode decorrer entre 8 a 12 semanas. Se houver necessidade de regeneração óssea, o processo pode ser um pouco mais longo

O tempo da aplicação

«A expressão “dentes num dia” significa que após a colocação do implante é possível reabilitá-lo no imediato com uma ou várias coroas provisórias consoante o caso clínico. Em zona estética, opta-se sempre que possível por esta estratégia», explica João Caramês. De acordo com a sua experiência, «mais de 90 por cento dos casos de pacientes desdentados totais são realizados com recurso a este protocolo, que tecnicamente e designa por “carga imediata”. Nestes casos, a intervenção dura aproximadamente uma hora, existindo situações mais simples, em que o tempo cirúrgico pode ser reduzido, ou outras mais complexas, geralmente associadas a procedimentos de regeneração óssea, em que o tempo cirúrgico pode estender-se um pouco além de uma hora». Após a consolidação óssea do implante (processo conhecido por osteointegração), o passo seguinte passa pela aplicação das coroas. «Regra geral, são realizadas duas a três até à colocação da reabilitação definitiva», descreve João Caramês. Na generalidade dos casos, desde o início do processo até ao final, com a colocação das coroas definitivas, pode decorrer entre 8 a 12 semanas. Se houver necessidade de regeneração óssea, o processo pode ser um pouco mais longo.

«A ocorrência de acidente isquémico transitório (AIT), acidente vascular cerebral (AVC) e enfarte agudo do miocárdio num período inferior a seis meses contraindicam qualquer intervenção»

Implantes dentários: casos contraindicados

Há situações em que os implantes dentários não podem ser aplicados: «Ao nível da doença cardíaca e vascular, a ocorrência de acidente isquémico transitório (AIT), acidente vascular cerebral (AVC) e enfarte agudo do miocárdio num período inferior a seis meses contraindicam qualquer intervenção». Também são desaconselhados na «doença oncológica não controlada ou em fase de tratamento com quimioterapia e/ou radioterapia ou no tratamento endovenoso com bisfosfonatos ou com medicamentos potenciadores de osteonecrose (doença óssea que leva à destruição do osso e à formação de sequestros ósseos)», explica o médico dentista. Nestes casos, «a reabilitação removível (próteses) deverá ser a primeira indicação para, pelo menos, numa fase transitória melhorar a função mastigatória destes pacientes», indica.

Recorrendo a implantes dentários, «é possível recuperar até aproximadamente 95 por cento da função mastigatória perdida»

A taxa de sucesso

A taxa de sucesso dos implantes dentários «é muito alta. Dados provenientes de vários estudos clínicos perspetivam resultados de sobrevivência e sucesso no longo prazo com valores acima dos 95 por cento», revela o médico dentista. Contudo, acrescenta, «devem salientar-se fragilidades associadas ao implante quando comparado com o dente natural. Ao contrário do dente, o implante não tem os mesmos mecanismos de defesa ou imunidade, pelo que o desenho da coroa ou coroas a colocar deve facilitar a higiene diária, reduzindo a formação de placa bacteriana e o risco de inflamação». João Caramês salienta ainda que «os cuidados de higiene oral e o cumprimento do protocolo de manutenção proposto pela equipa clínica são fundamentais para o sucesso a longo prazo dos implantes dentários. Cabe ao médico dentista motivar e consciencializar o paciente para esta importância, acompanhando-o em consultas habitualmente com a periodicidade de seis meses».

Para um bom planeamento e concretização da reabilitação oral com implantes dentários, procure um médico dentista especialista em Cirurgia Oral ou Periodontologia ou com formação pós-graduada em Implantologia

A fase do pós-operatório

Durante a preparação cirúrgica, além do «controlo eficaz da anestesia», segundo João Caramês, há a preocupação de «usar uma medicação pré-cirúrgica para reduzir o risco de infeção, controlar os níveis de inflamação e utilizar analgesia pós-cirúrgica. Deste modo, o período pós-operatório (muitas vezes receado pelo paciente) decorre quase sempre dentro da normalidade».


Quem (não) pode colocar implantes dentários

  • Crianças e jovens. Até aos 18 anos, a sua colocação não está indicada porque o crescimento craniofacial não está concluído.
  • Idosos. São candidatos, se não existirem contraindicações sistémicas à colocação de implantes dentários. Apresentam normalmente graves problemas na função mastigatória, pelo que a reabilitação destes pacientes é uma prioridade.
  • Fumadores e pessoas com diabetes. Podem colocar implantes dentários, mas devem ser alertados para os riscos existentes. Fumar mais de dez cigarros por dia ou ser diabético tipo II não controlado ou tipo I poderá diminuir 6 a 10 por cento a taxa de sobrevivência dos implantes.
  • Doentes com osteoporose. Não são contraindicação para a colocação de implantes dentários. Doentes a fazerem medicação incluída no grupo dos bisfosfonatos requerem cuidados especiais.

Fonte: João Caramês, professor catedrático da Faculdade de Medicina Dentária e diretor do Instituto de Implantologia


Prolongar a “vida” do implante

João Caramês, professor catedrático da Faculdade de Medicina Dentária, indica as principais estratégias para eliminar a placa bacteriana, que pode causar inflamação gengival ou dos tecidos moles ao redor dos implantes dentários:

  1. Escove adequadamente as coroas sobre implantes e os restantes dentes;
  2. Utilize fio e escovilhão dentários nos espaços entre dentes, bem como entre dentes e implantes.
  3. Em reabilitações com vários implantes dentários e múltiplas coroas, a higiene deve-se fazer também com recurso a irrigadores orais e fios dentários com características apropriadas (designados por implant floss ou super floss) e/ou escovilhões.
  4. Se se observar inflamação nas gengivas e esta se mantiver por mais de duas semanas (geralmente associada a sangramento gengival), devera antecipar-se a ida ao médico dentista responsável pela reabilitação ou higienista oral.
Última revisão: Maio 2019

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