Como funcionam os tratamentos para a osteoporose

Como funcionam os tratamentos para a osteoporose

Dos suplementos aos principais medicamentos, conheça um a um os tratamentos para a osteoporose e as perspetivas da ciência para o futuro.

  • ColaboraçãoDra. Anabela BarcelosMédica reumatologista, diretora do Serviço de Reumatologia do Centro Hospitalar Baixo Vouga – Hospital de Aveiro
  • Dra. Carolina MazedaMédica interna da especialidade de reumatologia do Centro Hospitalar Baixo Vouga – Hospital de Aveiro

A osteoporose é uma doença cada vez mais prevalente devido ao envelhecimento da população e a estilos de vida pouco saudáveis (consumo excessivo de álcool, tabaco e falta de exercício físico frequente e adequado). No entanto, é uma doença sistémica silenciosa, ou seja, a dor e a incapacidade funcional surgem apenas quando ocorre a primeira fratura.

A partir dos 50 anos, o risco de ter uma fratura osteoporótica é de uma em cada duas fraturas para as mulheres e de uma em cada cinco para os homens. E, dizem os dados nacionais e internacionais, o número de admissões hospitalares e os custos associados a fraturas osteoporóticas já é comparável ao de patologias de grande impacto, como o enfarte agudo do miocárdio, as doenças hepáticas e a doença pulmonar obstrutiva crónica.

À osteoporose associa-se uma elevada morbilidade e mortalidade, pelo se deve estabelecer precocemente o diagnóstico e iniciar o tratamento médico

Tipos de tratamentos para a osteoporose

Existem duas principais classes de tratamentos para a osteoporose: os inibidores da reabsorção óssea e os estimuladores da formação óssea. Em cada uma delas existem várias opções de tratamentos com diferentes formas de administração. O tipo de tratamento deve ser uma escolha do paciente com o seu médico, tendo em conta o risco de fratura, as doenças concomitantes ou outros medicamentos que tome. A Sociedade Portuguesa de Reumatologia publicou, em 2018, as recomendações para a prevenção, diagnóstico e tratamento da osteoporose primária.
Saiba como funciona cada uma destas classes de tratamentos

1. Inibidores de reabsorção óssea

Bifosfonatos
São o tratamento de primeira linha. Os bifosfonatos de frequência semanal e anual demonstraram uma redução significativa na incidência de fraturas vertebrais, da anca e não vertebrais. Tal como em outras doenças crónicas, este medicamento tem de ser tomado durante vários anos e só por indicação médica se pode parar. Possuem várias formulações (endovenosa e oral) e são administrados com intervalos de tempo diferentes, em homens e mulheres.

  • Os bifosfonatos orais podem ser de toma semanal ou mensal e devem ser ingeridos em jejum, pelo menos 30 minutos antes dos primeiros alimentos, bebidas ou medicamentos do dia. Para tomar o comprimido, deve usar um copo cheio de água, sem gás, e não se deve voltar a deitar ou a inclinar o tronco para a frente nos 30 minutos após ter tomado o comprimido. Deve tomar a sua medicação sempre no mesmo dia da semana ou do mês, no caso de fazer o bifosfonato mensal. Pode colocar um lembrete no seu telemóvel ou utilizar um organizador de comprimidos para não se esquecer.
  • O bifosfonato endovenoso é o escolhido quando se verifica intolerância à solução oral, mal-absorção, demência. Este é administrado uma vez por ano numa das veias do braço. Febre baixa é um dos efeitos secundários muito frequente. As dores musculares podem ocorrer nos primeiros três dias após a injeção. Para evitar esses sintomas, o seu médico irá receitar-lhe os analgésicos e antipiréticos pouco tempo depois da administração.

Antes de iniciar o bifosfonato oral ou endovenoso, o médico irá verificar se tem alguma contraindicação para este medicamento e irá pedir-lhe para fazer análises para verificar o funcionamento dos seus rins, por exemplo. Irá também recomendar-lhe uma ingestão adequada de cálcio e de vitamina D e ter uma boa higiene oral antes e durante a toma destes medicamentos.

Se notar algum efeito com a toma da medicação, deve de imediato informar o seu médico antes de parar a medicação

Anticorpo IgG2 monoclonal humano
É utilizado no tratamento da osteoporose das mulheres e dos homens e consiste numa injeção subcutânea que é realizada de seis em seis meses na coxa, no abdómen ou na parte superior do braço.

Deve ser utilizado durante vários anos e demonstrou igualmente uma redução significativa na incidência de fraturas vertebrais, não vertebrais e da anca, especialmente em doentes com risco acrescido de fratura. Este tratamento, tal como os anteriores, só deve ser interrompido por indicação médica.

Se, por exemplo, notar algum efeito diferente com a toma da medicação, deve de imediato informar o seu médico assistente antes de parar a medicação. Também deve contactá-lo se notar alguma alteração na pele após a administração tal como inchaço, sensação quente e dolorosa e febre.

Antes de iniciar o tratamento, o seu médico irá verificar se tem alguma contraindicação e irá pedir-lhe análises. Também lhe recomendará uma ingestão adequada de cálcio e de vitamina D. Deve ter uma boa higiene oral antes e durante a toma deste medicamento.

2. Estimuladores de formação óssea

São aconselhados para os doentes com elevado risco para fraturas subsequentes. Utilizam-se numa solução injetável em caneta pré-cheia indicada para o tratamento da osteoporose em mulheres e homens. Trata-se de uma injeção subcutânea administrada uma vez por dia, sempre à mesma hora para o ajudar a não se esquecer de a tomar. A administração pode ser realizada na coxa ou no abdómen fazendo uma prega na pele.

A duração máxima do tratamento é de 2 anos (24 meses) e não deve ser repetido. Após terminar o tratamento com o estimulador de formação óssea, deve continuar com outras terapêuticas para a osteoporose. E, caso a sua dieta seja deficitária em cálcio e vitamina D, deve fazer suplementos.

Os efeitos secundários mais frequentes são dores nos membros, náuseas, tonturas e dores de cabeça – não pare a medicação e informe o seu médico caso surja algum destes efeitos secundários.

Cálcio e Vitamina D: o papel dos suplementos alimentares

O cálcio e a vitamina D são fundamentais para a manutenção da saúde óssea.

A vitamina D permite uma boa absorção de cálcio a nível intestinal. A melhor fonte desta vitamina é a exposição solar: recomenda-se a exposição solar da pele diariamente (face, mãos e braços), sem proteção, durante dez a 20 minutos fora das horas de calor (antes das 10h da manhã ou depois das 14h). Existem ainda algumas fontes alimentares, embora limitadas, de vitamina D: peixes ricos em gordura (como o salmão e cavala), cogumelos e gema de ovo.

O cálcio está presente em vários alimentos como produtos lácteos (leite, queijo, iogurte), alguns legumes de folha verde escura (couve-galega, brócolos, agrião), conservas com espinhas moles como sardinhas ou carapaus e alguns frutos secos e sementes (nozes, linhaça). Podem acrescentar-se queijos com baixo teor de gordura e sementes ou comer um iogurte regularmente como parte do pequeno-almoço ou lanche.

As necessidades nutricionais variam de acordo com a idade. Durante a gravidez, a alimentação materna é um importante determinante do desenvolvimento musculoesquelético futuro, tanto na infância como na idade adulta. Nos idosos, uma dieta equilibrada, rica em cálcio e vitamina D, é crucial para a preservação da função neuromuscular e para a redução da velocidade de perda de massa óssea.

Também existem outros fatores a justificar a prescrição destes suplementos, como a pigmentação da pele (a carência de vitamina D é muito maior em pessoas de pele escura), a idade avançada e a aplicação tópica de protetores solares ou cremes diários que possuem índices de proteção solar e reduzem a produção cutânea de vitamina D.


Tratamentos para a osteoporose: as regras

Tome de acordo com o que foi prescrito
Tal como ocorre com todos os medicamentos, o tratamento para a osteoporose só funciona se for tomado corretamente. É fundamental seguir as recomendações dadas pelo seu médico para que sejam alcançados os benefícios na densidade mineral óssea e redução do risco de fraturas. Num doente que esteja medicado para a osteoporose e ocorra uma fratura, deve verificar-se se está a fazer a medicação da forma correta e, se sim, deve ser ponderado alterar o medicamento – uma decisão que cabe apenas ao seu médico, não pare de tomar sem a sua recomendação.

Em caso de esquecimento da toma, tome logo que possível
Caso se tenha esquecido ou não possa tomar no horário habitual, tome assim que possível nesse mesmo dia. Não faça uma dose a dobrar para compensar aquela de que se esqueceu.

Adote um estilo de vida saudável
A adoção de um estilo de vida saudável ao longo de toda a vida é fundamental para se obter uma saúde óssea adequada. Este deve incluir:

  • Faça uma dieta equilibrada
    Deve incluir as quantidades adequadas de cálcio, vitamina D, proteínas e outros nutrientes benéficos.
  • Modere o consumo de álcool e não fume
    São ambos fatores de risco para a osteoporose uma vez que levam à perda de massa óssea e, consequentemente, à fratura.
  • Pratique atividade física
    Homens e as mulheres sedentários perdem mais massa óssea e têm mais fraturas do que aqueles que se mantêm fisicamente ativos.

Faça uma reavaliação da doença
A reavaliação da doença deve ser feita por densitometria óssea. No entanto, não deve ser feita antes dos 24 meses de tratamento bem instituído, caso não se modifiquem os factores de risco.


Tratamentos para a osteoporose: o que há de novo

A terapêutica sequencial ou a de moléculas emergentes é o tratamento mais recente para a osteoporose. Visa estimular a formação óssea, em vez de diminuir a reabsorção óssea. Desse modo, melhora-se a massa, a estrutura e, por fim, a resistência do esqueleto. No entanto, ainda não estão no espetro de tratamentos comuns porque são terapias mais caras e não demonstraram ser mais eficazes do que as existentes.

Última revisão: Outubro 2020

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