A veia perfeccionista de Isabela Valadeiro não a deixa deslumbrar-se com as luzes da ribalta. Isa, ou Bela, como era conhecida na sua pequena aldeia do Alentejo, considera os atores “atletas emocionais” e “treina” com entusiasmo o corpo e a mente para estar à altura desta nobre “corrida”.
Grande entrevista Isabela Valadeiro, atriz
Aos 18 anos, deixou o Alentejo rumo a Lisboa atrás do sonho de ser atriz. O que recorda da infância?
O sossego, a calma, viver numa aldeia onde todos se conhecem, as amizades, as experiências. Éramos muito amigos e como vivíamos numa aldeia pequena – Santo Amaro, no distrito de Portalegre – brincávamos juntos. Havia muito contacto com a Natureza.
Ser atriz já era um sonho nesse tempo?
Sim. Lembro-me de, aos 6 anos, ter feito a peça de teatro Branca de Neve e os Sete Anões. Amei a experiência e tanto colegas como professores diziam que tinha imenso jeito.
«Deixo surpreender-me e deixo que as coisas aconteçam. Não fico a remoer nos assuntos, só penso que tenho de encontrar uma forma de resolver», Isabela Valadeiro
Como foi a experiência de vir viver sozinha para Lisboa?
Na verdade, não vinha com grandes expectativas e isso acontece várias vezes na minha vida. Deixo surpreender-me e deixo que as coisas aconteçam. Não fico a remoer nos assuntos, só penso que tenho de encontrar uma forma de resolver. Tento fazer o melhor naquilo a que me proponho, mas neste caso não pensei muito. Era o que queria e assim que me vi sozinha sabia que tinha de me desenrascar. Não foi fácil. No início sentia falta da família e de casa. Sempre tive independência, mas neste caso era outro tipo de independência. Estava sozinha.
Sempre teve independência em que sentido?
Sempre fui independente, com liberdade para escolher o que realmente queria. Os meus pais sempre me deram essa liberdade e confiança, sempre fui livre. Acho que se não tivesse essa independência teria sido mais difícil. A minha mãe disse-me: «Agora já és mulherzinha, desenrasca-te». Claro que custou um pouco, mas correu bem.
«Sou muito exigente, mas tenho de me consciencializar que estou mais do que a tempo de falhar», Isabela Valadeiro
Que características descrevem melhor a sua personalidade?
Diria superperfecionista! Não com os outros, mas comigo e com tudo o que faço. Sou muito exigente, mas tenho de me consciencializar que estou mais do que a tempo de falhar. É possível que falhe, não posso querer ser perfeita.
Como se sente quando falha?
Tento nunca falhar, mas há coisas que não controlo. Falo sobretudo do trabalho como atriz. Trabalho diariamente para fazer mais e melhor, mas há coisas que não gosto de ver. Tenho um sentido crítico muito apurado e qualquer crítica que me apontem já a apontei antes. Sou sempre a primeira a apontar-me o dedo e faço muito aquele jogo: “E se fosse comigo?” Sou muito dura comigo.
Com 21 anos ganhou o concurso Face Model of the Year e começou a carreira de modelo. O que aprendeu com a experiência?
Ganhei maturidade e mais independência porque fui viver para fora de Portugal. Em Milão, vivi com jovens mais novas, mais velhas e percebi que as mulheres ganham maturidade muito cedo. Somos bastante diferentes dos homens. Aprendi a ouvir “não” e a relativizar. Não tem a ver com ser-se mais ou menos bonita, mas com a energia que o cliente procura e se nos adequamos ou não ao que previu para a campanha.
Como perfeccionista foi fácil ouvir “não”?
Tive a sorte de encaixar em muitas visões dos clientes. Às tantas já dizia “não quero trabalhar mais, já estou a encaixar em muita coisa” (risos). Chegava aos sítios e percebia que era uma entre 500 jovens de todo o mundo, lindas, portanto não se tratava de beleza.
«Como muitos vegetais, muita fruta, bebo muita água, mas também como pão. Isso nunca vou tirar da minha alimentação, como boa alentejana que sou», Isabela Valadeiro
Essa experiência levou-a a seguir regras com a alimentação e exercício?
As modelos que conheci não tinham uma alimentação saudável e eu era das que tinha mais consciência alimentar. Como várias vezes ao dia e faço exercício físico com muita regularidade, não só por questões estéticas, mas até numa vertente emocional e psicológica. O exercício físico faz-me muita falta.
Quais as regras de alimentação saudável que não dispensa?
Como muitos vegetais, muita fruta, bebo muita água, mas também como pão. Isso nunca vou tirar da minha alimentação, como boa alentejana que sou.
O que gosta de cozinhar?
Peixe grelhado ou peixe no forno, por ser mais fácil. Depois acompanho com salada de tomate ou brócolos ou grelos cozidos. É muito mais simples.
Como é um dia normal na sua vida?
Na última semana, por exemplo, acordei entre as 6h30 e as 7h00. Tomo o pequeno-almoço em casa, vou para o estúdio gravar até às 19h00 e chego a casa para estudar as cenas para o dia seguinte. Sobra tempo para jantar e no meio tento estar com amigos, mas é muito difícil. Tenho a sorte de conseguir trabalhar na minha área, é muito gratificante e é o melhor reconhecimento: ter mais oportunidades para melhorar todos os dias o desempenho como atriz.
O que tem melhorado nestes últimos meses?
Venho de uma escola de teatro e de repente estou na minha primeira novela e tenho uma série de câmaras apontadas para mim. Não sabia como trabalhar com elas e para elas. Hoje em dia, vou aprendendo, ganhando confiança e ritmo porque fazemos muitas cenas diariamente. É tudo muito rápido e chegamos a emoções muito rapidamente.
Foi fácil trabalhar essas emoções?
Incrivelmente, sim, mas nem sei como cheguei a elas. Sou muito sensível e coloco-me sempre no lugar da personagem, das experiências que viveu, do que sente. Gosto de gostar de pessoas e de as conhecer, gosto que me contem histórias e vou guardar sempre essas memórias. Fiz uma Aisha libanesa que sofria com a morte do pai e coloco-me no lugar dessa pessoa. Deixo de ser a Isabela Valadeiro, sou a Aisha. Não choro a brincar, é a sério.
É por isso que diz que “os atores são atletas emocionais”?
Sem dúvida. Estamos constantemente numa corrida e fazer novela é isso mesmo. Por vezes, ficamos com a sensação que podíamos ter feito mais ou melhor. Trabalhamos emoções diariamente. Estamos sempre a correr, a passar metas e, quando conseguimos, é muito gratificante.
Como gere o stresse?
Estou a aprender. Sou muito nova e estou numa fase em que questiono muita coisa. Estamos num meio intenso e tento manter o meu lado social ativo: preciso de falar com pessoas, ouvi-las, abraçá-las. É a melhor forma de me acalmar. E ler. Entrar noutra dimensão é muito bom para acalmar.
O desporto também ajuda?
Sim, sem dúvida. Quando não tenho tempo para fazer desporto, noto que fico mais stressada. Faço exercícios de força, cardio, kickboxing e ultimamente comecei a ser acompanhada por uma personal trainer. Ainda assim, dançar é o meu desporto preferido. Dá-me confiança e liberta-me.
Sonha com uma carreira internacional?
Sim, mas step by step. Ainda tenho muito a aprender. Acima de tudo, gostava de fazer uma carreira nacional. Tenho muito para melhorar e tenho plena consciência disso. Todos os dias faço o meu melhor. Apesar de ser uma corrida, corro por gosto.
Tem planos para o futuro?
Um dia de cada vez, não sei pensar num futuro longínquo. Tenho os meus planos e há coisas que já tenho planeadas que vão ter de acontecer, como ter a minha casa o mais depressa possível. E um dia gostava de ter um negócio no Alentejo, para ajudar a promover o interior do País, que é uma região que está cada vez mais deserta. Acho que muitas pessoas, sobretudo da cidade e estrangeiros, procuram aquela calma e gostava de promover isso. Que as pessoas conhecessem o paraíso que é o Alentejo.
Que conselhos dá às jovens que querem seguir a carreira de atriz?
Que trabalhem, acreditem que é possível e se esforcem todos os dias. Não achem que é apenas um talento que está dentro de nós. Esse talento só cresce consoante o trabalho que aplicarmos. É bom trabalhar, ler, conhecermos outras experiências, olhar para as pessoas, abraçá-las, conhecer as suas histórias, acreditar que é possível. E acreditar alberga uma centena de verbos, como lutar, fazer por isso. Sim, acreditar dá trabalho.
Os hábitos saudáveis da atriz
Isabela Valadeiro partilha com a Revista Prevenir os seus rituais de vida saudável.
- É vegetariana
«Não como carne desde novembro de 2017 por uma questão ambiental. E porque não sou muito dedicada à cozinha, acho que as refeições vegetarianas são mais fáceis. Há alternativas bastante saudáveis e a digestão é muito mais fácil.» - Tem sempre em casa
«Tomate, grelos, brócolos, alface, espinafres. Gosto muito de vegetais e legumes.» - Nunca come
«Além da carne, tento evitar os doces ao máximo, bem como pratos muito condimentados ou com muitos molhos. Gosto dos alimentos a saber aos alimentos.» - Pequeno-almoço preferido
«Papas de aveia com granola e banana. É muito rico e consistente, deixa-me satisfeita.» - Hidratação
«Bebo muita água. Atualmente bebo menos, mas cheguei a beber três litros por dia.» - Sorriso perfeito
«Sempre cuidei da saúde oral e usei aparelho dentário durante um ano e sete meses. Adoro sorrir. Acho fundamental ter um sorriso bonito, mas os portugueses descuram muito a higiene oral.»
Os rituais de beleza de Isabela Valadeiro
- Cabelo
«Gosto de aplicar máscara uma vez por semana e tento cortá-lo antes de estar com aspeto pouco saudável. Uso creme hidratante quando o cabelo está seco.» - Rosto
«Jamais me esqueço de retirar a maquilhagem ao fim do dia e, a seguir, aplico sempre creme hidratante. Ocasionalmente, também faço esfoliação.» - Corpo
«Aplico creme hidratante diariamente.»
