Uma qualquer doença transmissível, isto é, cujo agente seja um microrganismo (vírus, bactérias, fungos), só pode disseminar-se se houver pessoas que estejam em risco de poder ser contagiadas, por não terem tido contacto com o agente microbiano e, portanto, não terem desenvolvido defesas imunológicas (JAMA 2020;324:2113). A imunidade de grupo ocorre quando uma percentagem significativa da população em risco se torna imune à infeção e a probabilidade de transmissão diminui entre os ainda não infetados (a chamada proteção indireta).
«A obtenção de imunidade de grupo pela vacinação é muito mais previsível e, de uma determinada forma, muito mais eficaz: as vacinas disponíveis no mercado têm eficácias que oscilam entre 66 e 95 por cento»
Imunidade de grupo: o conceito
É este fenómeno que explica a tão conhecida curva epidemiológica com três segmentos: um braço descendente (os suscetíveis, a azul no gráfico, que vão diminuindo conforme o agente infeccioso se transmite e se adquire imunidade de grupo), seguido de uma curva em forma de sino (os infetados, a vermelho) e, finalmente, um braço ascendente (os recuperados, a verde). Esta é a representação gráfica clássica do modelo SIR (Suscetíveis, Infetados, Recuperados). A imunidade de grupo pode conseguir-se por infeção natural e subsequente recuperação ou por vacinação de massas. Por infeção natural está dependente da existência de um número suficiente de pessoas em recuperação da infeção (por produção de anticorpos e/ou células específicas do sangue), que induzem uma taxa de transmissão muito baixa, já que apenas são suscetíveis os poucos indivíduos não vacinados. Mas, por vezes, mesmo que a maioria da comunidade esteja imunizada, a infeção pode circular em crianças, grávidas e imunocomprometidos.
«As complicações trombóticas verificam-se uma vez em cada meio milhão de inoculações (um risco semelhante a morrer de um tremor de terra)»
Em conclusão
A obtenção de imunidade de grupo pela vacinação é muito mais previsível e, de uma determinada forma, muito mais eficaz: as vacinas disponíveis no mercado têm eficácias que oscilam entre 66 e 95 por cento, isto é, após a vacinação, entre dois terços e mais de nove décimos das pessoas vacinadas deixam de ter doença (e de a transmitir). Estas vacinas são também muito eficazes contra as variantes mais comuns: Reino Unido (B.1.1.7), Africa do Sul (B.1.351) e Brasil (P.1). Dado que a segurança das vacinas é excelente – as complicações trombóticas verificam-se uma vez em cada meio milhão de inoculações (um risco semelhante a morrer de um tremor de terra) ‒ a recomendação é inequívoca: vacine-se.