Margarida Marques de Almeida: «Nunca deixei de acreditar que iria engravidar»

Margarida Marques de Almeida: «Nunca deixei de acreditar que iria engravidar»

Durante sete anos, Margarida Marques de Almeida, empresária, travou uma longa batalha contra a infertilidade, mas nunca desistiu. Finalmente, após vários tratamentos, conseguiu engravidar.

  • Recolha de testemunho e ediçãoCarlos Eugénio AugustoJornalista
  • FotografiaArtur

  • Testemunho deMargarida Marques de AlmeidaEmpresária na área do marketing digital

«Sempre adorei crianças e a vontade de ser mãe era algo natural. O meu marido partilha essa perspetiva, pois também sempre sonhou ser pai. No início da nossa relação, até brincávamos com o número de filhos que íamos ter. Ele dizia três, eu era mais ambiciosa», conta Margarida Marques de Almeida à Revista Prevenir.

O testemunho de Margarida Marques de Almeida

Margarida Marques de Almeida: «Nunca deixei de acreditar que iria engravidar»

«Casámo-nos em 2008, e a ideia era, nos primeiros tempos, aproveitar a vida a dois. Os filhos, claro, viriam depois. Além disso, a fase inicial do nosso casamento coincidiu com a minha promoção profissional e achámos que deveríamos esperar um pouco para me adaptar. Depois, em 2010, uma mudança de trabalho levou-nos novamente a adiar o projeto de ter um filho. Pensamos que podemos planear uma gravidez, que temos esse controlo, mas, por vezes, a vida ensina-nos que não…»

A altura “certa”

«Em 2013, com a vida mais estabilizada, decidimos que estava na altura, curiosamente numa fase em que muitas das minhas amigas estavam grávidas. Portanto, “faltava” eu. Como tínhamos muito cuidado com a saúde e íamos ao médico regularmente, começámos a tentar. No entanto, os meses foram passando e nada. Perante isso, numa consulta de rotina, confessei à minha médica ginecologista o que se passava e decidimos que deveria começar a tomar medicação para estimular a ovulação. Pensei que seria dessa, mas não foi.»

Margarida Marques de Almeida: «Nunca deixei de acreditar que iria engravidar»

«Quando se vai a uma clínica de fertilidade, procura-se o “milagre”, mas aquilo de que não temos consciência é que a taxa de sucesso dos tratamentos se situa entre os dez e os 30 por cento», conta Margarida Marques de Almeida

Infertilidade inexplorada

«Falei com amigas que tinham tido dificuldade em engravidar e decidi ir à clínica onde fizeram os bem-sucedidos tratamentos. Fizemos todos os testes e tratamentos recomendados, e, à medida que não tínhamos sucesso, tentávamos outras alternativas e analisávamos possíveis problemas. Na verdade, nunca nos foi diagnosticado nada. Os médicos simplesmente diziam que ainda não tinha acontecido, ainda que chegassem a falar de sermos um caso de “infertilidade inexplicável”.»

Lutar contra a estatística

«Isso abalou-nos emocionalmente, e, confesso, ficámos descrentes na própria medicina. Quando se vai a uma clínica de fertilidade, procura-se o “milagre”, mas aquilo de que não temos consciência é que a taxa de sucesso dos tratamentos se situa entre os dez e os 30 por cento. Como sou muito positiva, nunca deixei de acreditar que iria engravidar e prossegui os tratamentos. No final de 2013, fiz duas inseminações, sem resultado. A apreensão tomou conta de nós, pois cada teste negativo é sinónimo de tristeza, com a agravante de serem tratamentos dispendiosos. Mas, sem perder tempo, em 2014, avançámos para a fertilização in vitro (FIV), um processo mais complexo.»

Tentar, insistir, conseguir

«Fiz duas FIV no total. Entre as tentativas, fiz uma pausa. Levar injeções diárias na barriga para estimular a ovulação condicionava-me, pois não podia carregar pesos, fazer movimentos bruscos ou exercício físico. Além disso, fiquei “inchada” e isso estava a abalar a minha autoestima. O tão ansiado resultado positivo chegou na segunda FIV. Até tínhamos menos esperança pois, segundo a médica, os óvulos usados na primeira tentativa eram de qualidade superior. Mas, tinha de ser assim, sem grandes explicações. Por isso, quando recebi o teste de sangue positivo, nem estava a acreditar.»

Uma boa surpresa

«Para saber o resultado da segunda FIV, fiz o teste numa clínica perto de casa, e achei por bem não dizer a ninguém, pois não queria gerar expectativas. Logo se via. E, ao contrário das outras vezes em que estava muito ansiosa, o facto de estar tão ocupada com trabalho fez-me “esquecer” o assunto durante o dia. Só em casa, já noite, consultei o email. Para minha surpresa, os valores do teste indicavam que estaria grávida, mas ainda assim tinha dúvidas. Nem estava a raciocinar bem.»

Assumir a felicidade

«Passo seguinte, ligar ao meu marido, aos meus pais, à minha irmã. Mas uns não atenderam, outros estavam noutro país com um fuso horário diferente, outros estavam a conduzir e tive medo que a emoção os atrapalhasse. Conclusão, aos que me atenderam, mudei de assunto e adiei a surpresa. Consegui falar com uma amiga, mas a conversa não foi conclusiva, pois também ela, emocionada, dizia-se baralhada. Só tive a certeza quando falei com a médica. Tinha de fazer outros exames para confirmar pormenores, pois a gravidez podia não ser evolutiva, mas tinha razões para me sentir, finalmente, mais feliz.»

Uma gravidez normal

«Duas semanas depois, fui vista na clínica e, a partir daí, passei a ver acompanhada apenas pela minha médica ginecologista, que me confirmou estar tudo bem. A gravidez correu bem e a única questão que me preocupava é que tinha a placenta baixa e isso implicou um maior cuidado. Isso fez com que o parto tivesse de ser por cesariana, mas, felizmente, tudo correu muito bem e o nosso filho nasceu, com 38 semanas, em julho de 2017.»

Margarida Marques de Almeida: «Nunca deixei de acreditar que iria engravidar»

«Sinto que este processo me tornou mais paciente e tranquila, alguém que aprendeu que tem de aceitar o que está a acontecer, mesmo que isso seja a incapacidade de engravidar», conta Margarida Marques de Almeida

Pensar (sempre) positivo

«Esta experiência ajudou-me a entender que, por vezes, as coisas não correm como planeamos e que é impossível controlar tudo. Isso foi particularmente importante para quem, como eu, achava poder fazê-lo. Além disso, sinto que este processo me tornou mais paciente e tranquila, alguém que aprendeu que tem de aceitar o que está a acontecer, mesmo que isso seja a incapacidade de engravidar. No entanto, independentemente do problema, temos de pensar positivo, acreditar que as coisas vão acontecer, na altura que tiver de ser, estar preparado para enfrentar momentos menos bons e, claro, nunca desistir.»


Procriação medicamente assistida: as técnicas

Em Portugal estão disponíveis vários tratamentos que ajudam a combater a infertilidade, sendo os mais frequentes a inseminação intrauterina e a fecundação in vitro. Saiba em que consiste cada uma dessas técnicas.

  • Inseminação intrauterina
    Aconselhada quando existem problemas de ovulação, alterações do número e motilidade dos espermatozoides, na presença de disfunções sexuais ou casos de infertilidade inexplicada. A taxa de sucesso varia entre dez e 15 por cento.
    Como é feita: Inicia-se após o período menstrual, com a administração de fármacos por via oral ou injetável para estimular a ovulação. Implica a introdução de espermatozoides preparados laboratorialmente no útero através de um cateter.
  • Fertilização in vitro
    Técnica recomendada na obstrução ou ausência bilateral das trompas uterinas, em mulheres com endometriose e casos de insucesso dos tratamentos como a inseminação intrauterina. A taxa de sucesso varia entre 25 e 30 por cento.
    Como é feita: Após o período menstrual, estimulam-se os ovários através de medicação injetável e recolhem-se os ovócitos por punção folicular. Depois de colhidos e preparados em laboratório, os espermatozoides são colocados em incubação com os ovócitos. Após fertilizados, os óvulos são transferidos para o útero.

Fonte: Adaptado de dados do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA)

Última revisão: Agosto 2020

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