Luís Filipe Pereira: «Somos os gestores da nossa própria saúde»

Luís Filipe Pereira: «Somos os gestores da nossa própria saúde»

Quanto mais conhecimento tivermos sobre aquilo que nos ajuda a mantermo-nos saudáveis, melhor seremos capazes de «diminuir a prevalência de doenças como a insuficiência cardíaca», acredita Luís Filipe Pereira, presidente da Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca.

  • PorVanda OliveiraJornalista

  • Entrevista aDr. Luís Filipe PereiraPresidente da Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca (AADIC)

Já foi gestor de empresas, professor universitário e membro de vários governos, nomeadamente, como ministro da Saúde. Atualmente, Luís Filipe Pereira, formado em Economia, é presidente da Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca (AADIC). «Trabalhei em muitos sectores, mas a saúde tem este aspeto bastante apelativo de podermos contribuir para que as pessoas tenham melhor qualidade de vida e combatam a doença. Foi isso que me atraiu e que me fez aceitar o convite que me foi dirigido para presidir a AADIC», conta em entrevista à Revista Prevenir. O lançamento de uma nova campanha dedicada aos doentes com insuficiência cardíaca, uma doença crónica caracterizada por cansaço, falta de ar e inchaço nos membros inferiores, foi o mote para esta conversa.

A insuficiência cardíaca surge quando o coração não consegue bombear o sangue suficiente para o resto do corpo

Entrevista a Luís Filipe Pereira, presidente da AADIC

Para assinalar o Mês do Coração, a AADIC está a promover uma campanha (De Coração Cheio & Sem Reservas!) dirigida aos doentes com insuficiência cardíaca. Que mensagem pretendem transmitir-lhes?

Há um conjunto de informações que as pessoas que têm insuficiência cardíaca, que é uma doença para toda a vida, precisam de saber. Em primeiro lugar, a importância de adotarem um estilo de vida saudável, tanto ao nível da alimentação e prática de exercício físico, quanto do abandono de comportamentos de risco, como seja por exemplo algumas adicções como o álcool e o tabaco. Sendo certo que quem tem insuficiência cardíaca tem de ter estes cuidados, o leitmotiv da nossa campanha pretende passar a mensagem verdadeira de que é possível à pessoa com insuficiência cardíaca viver com qualidade de vida.

Que tipo de apoio presta a AADIC aos doentes com insuficiência cardíaca?

O trabalho da AADIC é fundamentalmente dirigido a dois públicos-alvo: pessoas com insuficiência cardíaca e população em geral. O trabalho dirigido às pessoas com insuficiência cardíaca passa por apoiar, dar informação, responder a dúvidas que nos são colocadas e dar resposta aos problemas que nos são apresentados pelos doentes e que podem implicar, por exemplo, fazer interlocução com entidades oficiais como o Infarmed. Por outro lado, procuramos esclarecer o público em geral, de forma a promover comportamentos saudáveis que permitam prevenir a insuficiência cardíaca ou detetá-la precocemente. Eu costumo dizer que nós somos os gestores da nossa própria saúde. Se tivermos conhecimento de que há comportamentos que podem potenciar o aparecimento de doenças e outros, que por sua vez, podem contribuir para que tenhamos uma vida mais saudável, isto é, com menos probabilidade de sermos afetados pela doença conseguiremos diminuir a prevalência de doenças como a insuficiência cardíaca (IC).

«Apesar do desconhecimento, a insuficiência cardíaca é uma doença frequente e que vai tornar-se ainda mais comum. Alguns especialistas já lhe chamam a nova epidemia», refere Luís Filipe Pereira

Apesar de ser uma doença que afeta quatro por cento da população, a IC não é ainda muito conhecida da população. Por que motivo acha que isso acontece?

Penso que há vários fatores que contribuem para esse desconhecimento. A insuficiência cardíaca atinge, sobretudo, as pessoas que têm mais de 65 anos. Os sintomas – cansaço, falta de ar, edema (inchaço) das pernas – são, muitas vezes, vistos como efeitos normais do envelhecimento e são desvalorizados. Como consequência, a doença é tardiamente diagnosticada. Apesar do desconhecimento, a insuficiência cardíaca é uma doença frequente e vai tornar-se ainda mais comum. Alguns especialistas já lhe chamam a nova epidemia.

Que projeções têm sido feitas?

A insuficiência cardíaca é a primeira causa de hospitalizações em pessoas com mais de 65 anos e tem uma elevada mortalidade – mata mais do que certos cancros como o do pulmão e o da próstata. Se não estou enganado, Portugal é o quinto país mais envelhecido do mundo. Se pensarmos que a IC está muito concentrada nas pessoas com mais de 65 anos e que os dados atuais têm por base um estudo com mais de dez anos e que, entretanto, a população envelheceu e vai continuar a envelhecer, a situação pode ser bem pior. Encontra-se neste momento em curso um novo estudo da Sociedade Portuguesa de Cardiologia e não me admiraria nada que nós tivéssemos hoje 500, 600 mil pessoas com IC. Tendo em conta que as previsões indicam um aumento de 50 a 70 por cento da prevalência da IC até 2030, no espaço de dez anos podemos subir dos atuais 500, 600 mil para 800 a um milhão de pessoas com insuficiência cardíaca. Daí a importância da divulgação de informação dirigida a toda a população. Não só em Portugal como em toda a Europa.

O que tem sido feito nos outros países europeus para travar a incidência da doença?

Tem havido várias ações a nível europeu. A organização europeia Heart Failure Policy Network, que envolve profissionais de saúde, instituições de saúde de toda a Europa e associações de doentes como é o caso da AADIC, vai emitir um documento ainda este mês que é aquilo a que se chama em inglês a call to action, isto é, um apelo à ação junto quer da Comissão Europeia, quer do Conselho da Europa quer do Parlamento Europeu para a importância de haver uma estratégia europeia e em cada estado-membro quanto à IC.

«A insuficiência cardíaca é a primeira causa de hospitalizações em pessoas com mais de 65 anos e tem uma elevada mortalidade – mata mais do que certos cancros como o do pulmão e o da próstata», refere Luís Filipe Pereira

Como é que tomou conhecimento desta doença?

Eu não tenho a doença, mas fui convidado pelas pessoas que estiveram na origem da associação para participar neste projeto. Achei interessante. Já trabalhei em muitos sectores, segurança social, ramo alimentar, banca, energia, ensino universitário, química, mas a saúde tem de facto este aspeto bastante apelativo de podermos contribuir para que haja pessoas que tenham melhor qualidade de vida e combatam a doença. E foi isso que me fez aceitar o convite que me foi dirigido para presidir a AADIC.

Do número de casos de insuficiência cardíaca que se estima existirem quantos portugueses terão a doença ainda por diagnosticar?

Não sabemos, mas há de facto um grande número de casos subdiagnosticados e que pode fazer com que os 400 mil casos subam para 500 ou 600 mil. O diagnóstico é muitas vezes feito tardiamente e em episódios de urgência. E isso é algo que queremos mudar. Temos de fazer com que este diagnóstico seja feito nos cuidados de saúde primários. Os centros de saúde têm obviamente um papel curativo importante. Mas também poderão e deverão ter um papel de prevenção. Depois, para quem já tem insuficiência cardíaca, deve haver uma integração entre os cuidados de saúde primários e os cuidados hospitalares para que haja um tratamento adequado que dê qualidade de vida às pessoas.

A AADIC está a pedir a todos os que se queiram juntar a esta ação que tirem uma fotografia com uma peça de roupa vermelha. Quer contar-nos como vai decorrer esta campanha?

A ideia é a de suscitar o apoio emocional às pessoas que vivem com insuficiência cardíaca. Nesse sentido, estamos a desafiar a sociedade civil, os sócios e os profissionais de saúde a vestirem uma camisola vermelha pela insuficiência cardíaca e depois tirarem uma fotografia e partilharem-na na página de Facebook da AADIC. No final, partilharemos na nossa página todas as pessoas que decidiram estar connosco, apoiar-nos e fazer parte desta campanha.

Última revisão: Maio 2021

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