É produzida graças à exposição solar, mas, por cá, onde o sol brilha muitas vezes por ano, um terço da população tem déficit de vitamina D essencial na defesa contra a osteoporose, doença cardíaca, depressão e até alguns tipos de cancro.

  • Entrevista aProf. Vítor Hugo TeixeiraProfessor de Nutrição na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto

«Calcula-se que um em cada três adultos portugueses tenha déficit de vitamina D. Ainda não existe um estudo nacional, com uma amostra representativa de vários escalões da população, mas dados disponíveis de estudos realizados em Espanha (país com o qual partilhamos a mesma latitude) apontam nesse sentido.

«Produzimos muita vitamina D nos meses de sol, mas, durante um a três meses por ano, a nossa produção cutânea de vitamina D é escassa»

Um estudo nacional, por exemplo, constatou que apenas sete por cento dos doentes internados no serviço de Medicina Interna têm níveis adequados de vitamina D», revela Vítor Hugo Teixeira, professor de Nutrição na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP), à Revista Prevenir. Como se explicam estes números, tendo em conta o nosso clima? Na verdade, explica o especialista, «não somos um país tão soalheiro como pensamos. A nossa latitude é próxima de Nova Iorque e temos a ideia de que estamos colados ao Equador, mas, de facto, estamos muito afastados. Na prática, isto significa que produzimos muita vitamina D nos meses de sol, mas, durante um a três meses por ano, a nossa produção cutânea desta vitamina é escassa».

Quais são as fontes de vitamina D?

Pode ser produzida pela nossa pele graças à exposição solar (a maior parte da vitamina D presente no nosso organismo tem esta origem) ou pode ser ingerida através de alimentos ricos nesta vitamina, mas são poucos: peixe gordo, óleos de peixe (por exemplo, óleo de fígado de bacalhau), gema de ovo e alguns cogumelos, expostos ao sol. Há também alimentos que são fortificados com vitamina D. Existem dois tipos de vitamina: a D2 e a D3. A D2 tem origem, principalmente, nos produtos de origem vegetal e a D3 nos produtos de origem animal. A que produzimos na pele também é D3. Ambas exercem as mesmas funções, mas a vitamina D3 tem mais potência vitamínica do que a vitamina D2.

Qual é o papel desta vitamina?

Até agora pensava-se que a sua ação se focava apenas na calcificação do osso. Sempre que os nossos níveis de cálcio baixavam, a vitamina D era ativada e corrigia a descalcificação óssea. Mais recentemente, descobriu-se que esta vitamina pode ter muitos outros papéis, podendo influenciar o sistema cardiovascular, o sistema muscular, o sistema imunitário e estar ligada a alguns tipos de cancro.

«A vitamina D influencia a expressão de mais de dois mil genes em mais de 37 células diferentes»

Alguns trabalhos têm demonstrado que quanto menos vitamina D temos no nosso organismo, mais risco temos de cancro da mama, de cancro colorretal, de doença cardiovascular, de hipertensão, de doença coronária, de depressão, de diabetes e até da mortalidade. Esta vitamina influencia a expressão de mais de dois mil genes em mais de 37 células diferentes. A sua ação é generalizada no corpo e não centralizada apenas no osso e, ao promover a expressão de alguns genes, diminui o risco deste tipo de doenças.

Sol, alimentação e suplementação são fontes de vitamina D. Qual é a fonte mais eficaz?

Qualquer uma delas, desde que garantida em boas doses, consegue ter o seu efeito. No caso do sol, estamos dependentes que apareça e temos que nos expor em determinadas horas, quando a produção de vitamina D é mais elevada. No caso da alimentação, estamos restritos a meia dúzia de alimentos. Com a suplementação, temos uma forma conveniente de chegar a níveis adequados.

No caso da alimentação, devemos ter algum cuidado no seu consumo ou preparação para garantir a biodisponibilidade desta vitamina?

A vitamina D não é muito suscetível a influências da culinária. Como vitamina lipossolúvel é mais bem absorvida se for consumida com um bocadinho de gordura. Mas os peixes gordos já têm a gordura necessária para esse processo funcionar na perfeição.

A necessidade de uso de protetor solar, como estratégia de prevenção do cancro da pele, contribui para a carência desta vitamina?

O uso de protetor solar pode diminuir até 98 por cento a produção de vitamina D na pele, mas as recomendações para a diminuição do risco de cancro da pele justificam-se e devem ser aprendidas e seguidas. Não há qualquer recomendação que nos impeça de nos expormos ao sol (com braços ou pernas expostos), entre as 10h e as 16h, durante dez a 15 minutos, tempo suficiente para produzirmos a vitamina D que precisamos.


No outono e inverno, os cuidados devem ser acrescidos?

A quantidade de vitamina D que produzimos no verão é 100 vezes superior à que produzimos no inverno, mesmo que possamos andar com pernas e braços à mostra. No inverno, o nosso organismo recorre às reservas que produz no verão, que se acumulam no tecido adiposo e que vão sendo libertadas durante os meses do outono e inverno, mas mesmo essas reservas são insuficientes. Devemos, por isso, aumentar a ingestão de vitamina D, por via dos alimentos ou por via dos suplementos alimentares.

Quais são os sintomas de carência de vitamina D?

Podem surgir dores musculares generalizadas, mas na maior parte dos casos, sem sinais de alarme.

E é possível haver excesso desta vitamina no organismo?

Em teoria é possível, mas é muito difícil. Tinha que se ingerir durante muitos dias quantidades elevadíssimas de vitamina D. A toxicidade só acontece por sobredosagem alimentar ou de suplementos, nunca por excesso de produção desta vitamina na pele. Da mesma forma que produzimos vitamina D na pele, através de exposição solar, também temos a capacidade de a degradar.


O impacto na saúde

Conheça a relação da vitamina D com algumas doenças.

  • Doenças cardíacas
    «Há estudos que revelam que há uma associação entre carência de vitamina D, hipertensão, enfarte de miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC); e outros que indicam que a suplementação com esta vitamina parece reduzir a pressão arterial e diminuir a paratormona (ligada à pressão arterial elevada)», refere Vítor Hugo Teixeira, professor de Nutrição.
  • Cancro da mama e cancro colorretal
    «Parecem estar ligados à ausência de vitamina D. O mecanismo parece ser um efeito anti-inflamatório desta vitamina porque reduz a ciclo-oxigenase (envolvida na síntese de substâncias com atividade inflamatória) e, desta forma, pode diminuir o risco de cancro. Também parece inibir a proliferação e a diferenciação e aumentar a morte de células tumorais. Além de dminuir metástases, aumenta a atividade de enzimas antioxidantes», menciona o professor de Nutrição.
  • Osteoporose
    «A função clássica da vitamina D é regular a concentração de cálcio e fosfato no sangue para contribuir para a manutenção da saúde óssea. Se, por algum motivo, o cálcio no sangue baixa, a vitamina D age no sentido de regular essa descida e tentar aumentar o cálcio no plasma e melhorar a calcificação. Há uma série de trabalhos que mostram que uma suplementação de vitamina D e cálcio reduz o risco de fraturas e também de quedas», diz Vítor Hugo Teixeira.
  • Diabetes
    A falta de vitamina D interfere na acção da leptina, uma «hormona supressora do apetite que regula o peso do corpo. Conhecemos bem as consequências de um apetite desregulado: aumento de peso e maior risco de diabetes tipo 2. E, por falar nisso, foi demonstrado que a deficiência de vitamina D exacerba a diabetes tipo 2, afeta a produção de insulina no pâncreas e aumenta a resistência à insulina», pode ler-se no livro Vitamina D, da autoria de Michael F. Holick.

Grupos de risco: tem carência de vitamina D?

Pode apurar se os níveis de vitamina D do seu organismo são saudáveis através de uma triagem no sangue, solicitada junto do seu médico. Essa análise é, sobretudo, recomendada a quem se enquadra no grupo de risco, ou seja, pessoas com maior probabilidade de sofrer de déficit de vitamina D, nomeadamente:

  • Idosos com mais de 65 anos;
  • Grávidas;
  • Mulheres que estejam a amamentar;
  • Indivíduos que apanhem pouco sol;
  • Indivíduos com tom de pele mais escura;
  • Crianças com menos de 5 anos;
  • Indivíduos com excesso de peso e obesidade;
  • Quem tem problemas no fígado ou nos rins;
  • Quem tem problemas de absorção intestinal (doença celíaca ou doença de Crohn);
  • Quem toma fármacos que inibam a absorção de gordura ou antiepiléticos ou antifúngicos ou antirretrovirais.

Fonte: Adaptado de dados fornecidos por Vítor Hugo Teixeira, Professor de Nutrição na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP)


Suplementos alimentares: sim ou não?

Quem deve tomar?

«Os grupos de risco, com especial atenção para pessoas com mais de 65 anos, grávidas e mulheres que estejam a amamentar. Recomenda-se também a pessoas que não tem uma exposição solar significativa, que têm um tom de pele mais escuro e que não comem peixes gordos.»

Quando deve ser feita a toma?

«Especialmente, entre novembro a junho.»

Cuidados a ter na toma

«O suplemento deve ser tomado numa refeição com mais gordura. A toma pode ser diária, semanal ou mensal.»

Tipos de suplementos

«Se a toma for diária, não há grandes diferenças entre eles, mas se a toma for uma vez por semana ou uma vez por mês, a vitamina D3 é a mais eficaz.»

Quem não deve tomar

«Pessoas que tenham uma doença renal crónica, que tenham uma desordem genética muito característica ou que tenham granulomatose.»

Última revisão: Junho 2016

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