Segunda opinião médica: como, quando e a quem pedir

a quem pedir a segunda opinião médica

A segunda opinião médica é um direito do doente, ajuda a dissipar dúvidas, eventuais erros e a fazer opções mais esclarecidas e seguras. Se essa hipótese se colocar, sabe o que tem de fazer?

  • PorCarlos Eugénio AugustoJornalista

  • ColaboraçãoDr. Luís Campos Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e médico na Clínica Cuf Belém 
  • Dr. Luís Gouveia AndradeMédico oftalmologista 

O processo médico obedece, por norma, a uma série de passos: consulta médica, realização de exames, análise de resultados, diagnóstico e definição da terapêutica a seguir. Mas pode não terminar aqui. É possível, ainda, realizar-se uma reavaliação da situação, através de uma segunda opinião médica, um passo previsto na Carta dos Direitos do Doente e consagrado no Regulamento de Conduta da Ordem dos Médicos, que pode partir do paciente ou do profissional de saúde.

Os tipos

Essencialmente, a segunda opinião médica é «a ação de consultar outro médico para que este confirme, ou não, o parecer de um médico consultado em primeiro lugar sobre um diagnóstico, um exame ou um tratamento proposto», descreve Luís Campos, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e médico na Clínica Cuf Belém.

Os pedidos de uma segunda opinião médica em oncologia, cirurgia geral, ortopedia, oftalmologia e infertilidade são significativos

Existem dois tipos de segunda opinião médica: a clínica e a documental. A primeira refere-se a uma consulta com outro profissional; a segunda entra no domínio das chamadas Consultas de Decisão Médica, em que um conjunto de vários especialistas debate um processo clínico, e, geralmente, está associada a terapêuticas controversas, mais intensas e/ou experimentais.

O que está na sua origem

Atualmente, são cada vez mais as pessoas que procuram uma segunda opinião médica, existindo seguros de saúde que contemplam esta situação. «A constante evolução dos conhecimentos médicos e a sua especialização, tornaram pertinente a reavaliação do diagnóstico ou tratamentos prescritos», indica Luís Campos à Revista Prevenir. Além de dissipar dúvidas, os cada vez mais recorrentes pedidos de segunda opinião médica são motivados por vários fatores, como revela o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna: «A incerteza inerente à medicina faz com que certas doenças se apresentem de forma indiferenciada, o que torna difícil ou mesmo impossível o seu diagnóstico numa fase inicial e há exames pouco fiáveis que dão muitos falsos positivos ou negativos», sendo em diversos casos a sua realização «muito importante e decisiva».

«O seu propósito deverá ser não avaliar ou criticar o médico, mas sim permitir uma decisão mais informada e, essencialmente, proporcionar um tratamento mais adequado e dirigido»

Outros fatores podem ainda motivar o seu pedido: «a falta de empatia de alguns médicos com os doentes e a incapacidadede lhes transmitir informações de forma adequada, ou mesmo de os envolver nas opções de exames ou tratamentos»; ou no caso de «o doente não ficar satisfeito com as opções que lhe foram apresentadas. Isto é particularmente relevante quando existe a suspeita de conflito de interesses, como seja um cirurgião aconselhar uma cirurgia». A segunda opinião médica é também «comum quando existe acordo entre médico e doente de que a opinião de um outro médico mais experiente, numa determinada área, seria útil para consolidar ou não a opinião do médico assistente», descreve Luís Campos.

Casos frequentes

Os pedidos de uma segunda opinião médica em oncologia, cirurgia geral, ortopedia, oftalmologia e infertilidade são significativos. Em situações de decisão mais difícil, «particularmente as que exigem uma conjugação de saberes, como é o caso do tratamento de cancro, em que as opções podem passar por quimioterapia, mais do domínio dos oncologistas, por cirurgia ou por radioterapia, a prática mais recomendável são consultas de grupo, em que especialistas tomam decisões em conjunto», exemplifica Luís Campos. Outro exemplo «é o das doenças autoimunes, com envolvimento multissistémico, cujas decisões podem exigir a opinião de vários especialistas».

A quem pedir?

Uma vez tomada a decisão de pedir uma segunda opinião médica, existem duas possibilidades: o doente tomar a iniciativa de procurar um outro especialista ou aconselhar-se junto do médico que acompanha o caso desde o início. No primeiro caso, Luís Campos refere que «muitos doentes recorrem a associações de doentes e essa é uma boa forma de encontrar médicos peritos em determinadas áreas. Outra opção é recorrer a organizações de saúde com informação sobre o perfil dos médicos e as suas áreas de diferenciação.» Caso o paciente opte por pedir ao seu médico que indique outro especialista, «essa referência deverá ser facultada sempre que possível, devendo privilegiar um médico com reconhecida experiência na condição em causa», acrescenta Luís Gouveia Andrade.


Como pedir?

«O pedido de uma segunda opinião médica é válido e legítimo e deve ser realizado com o máximo de transparência. O seu propósito deverá ser não avaliar ou criticar o médico, mas sim permitir uma decisão mais informada e, essencialmente, proporcionar um tratamento mais adequado e dirigido», sublinha Luís Gouveia Andrade, médico oftalmologista. Ao solicitar uma segunda opinião, o especialista considera ser «preferível não referir, de imediato, qual foi a primeira opinião, de modo a não enviesar esta nova avaliação. No final, por uma questão de transparência e de reforço de confiança mútua, é sempre vantajoso partilhar o que foi dito na primeira consulta para se poderem confrontar as duas e delas retirar o máximo benefício». Para Luís Campos, «o doente deve claramente assumir que vem procurar uma segunda opinião».

Perante um impasse, é essencial validar um dos diagnósticos e, para isso, Luís Gouveia Andrade sugere o recurso a «uma terceira opinião», devendo o paciente «partilhar essa diferença com os dois médicos, o que obriga a um estudo adicional»

Depois de uma segunda opinião médica, o paciente pode deparar-se com resultados diferentes. Nesse caso, Luís Campos sublinha que «a clareza e a persuasão dos argumentos de ambas as opiniões deve ser tida em conta, assim como se deve integrar essas informações ao que se apurou noutras fontes». Um dos fatores decisivos é a «confiança que o doente estabelece com o médico». Perante um impasse, é essencial validar um dos diagnósticos e, para isso, Luís Gouveia Andrade sugere «uma terceira opinião», devendo o paciente «partilhar essa diferença com os dois médicos, o que obriga a um estudo adicional que poderá fazer com que um dos profissionais concorde com a opinião emitida pelo outro».


Segunda opinião médica online: prós e contras

Alguns sites possibilitam a sua realização, mediante a apresentação do primeiro diagnóstico e exames associados, e sem a presença do doente. Para o oftalmologista Luís Gouveia Andrade, uma segunda opinião médica deve ser, sempre que possível, «suportada por uma consulta presencial de modo a obter-se o máximo de informação clínica relevante, pois uma análise meramente baseada em exames estará, logo à partida, limitada e condicionada. Apenas a observação do paciente permitirá perceber se os exames feitos são suficientes ou se é necessário algo mais». Luís Campos também põe de parte a hipótese de uma segunda opinião médica online, considerando que o recurso à Internet só se justifica para a consulta de informação em «sites que permitem obter opiniões de peritos de renome internacional que poderão ser fontes interessantes (por exemplo, www.uptodate.com), assim como páginas de sociedades científicas ou das associações de doentes».


Que documentos levar?

Para que a reavaliação seja o mais completa possível, leve para a consulta.

  • Todos os exames já realizados;
  • O registo dos tratamentos efetuados e os efeitos que tiveram;
  • O relatório com todas as hipóteses diagnosticadas.

Fonte: Dr. Luís Campos, Presidente da Sociedade Portuguesa e Médico na Clínica CUF Belém

Última revisão: Julho 2016

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