Prepare-se para a menopausa: o que precisa de saber

Menopausa: idade, sintomas, o que fazer

O corpo muda, a capacidade reprodutiva cessa, a autoestima é beliscada e a vida conjugal é afetada, mas a menopausa — uma etapa natural da vida da mulher — pode ser o marco de um novo capítulo feliz. Este artigo é um ponto de partida para que possa mesmo ser assim.

  • PorCarmen SilvaJornalista

  • ColaboraçãoDra. Marcela ForjazMédica ginecologista

A menopausa «é a data da última menstruação e ocorre, em média, pelos 53 anos. Sendo uma média, pode ocorrer alguns anos antes ou depois dessa idade. De forma incorreta, chamamos “menopausa” a toda a fase da vida da mulher que ocorre após essa data, quando deveria ser chamada período pós- -menopausa», explica Marcela Forjaz, médica ginecologista. Segundo a especialista, o diagnóstico ocorre «a posteriori (porque nunca se sabe que a menstruação que está a decorrer será a última) quando se constata ter passado um ano sobre a última menstruação ou recorrendo a análises clínicas em mulheres que refiram não menstruar há algum tempo e tenham sintomas característicos» [ver caixa]. O processo que culmina na cessação da menstruação começa alguns anos antes e prolonga-se no tempo, existindo três fases: a pré, a peri e a pós-menopausa [ver caixa]. São estas etapas que compõem a parte do período de vida da mulher chamado climatério em que acontece «a transição entre o pleno potencial e a incapacidade reprodutiva, ao longo do qual ocorre um declínio progressivo da função ovárica», como descreve o Consenso Nacional sobre Menopausa 2016 (CNM), da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG).

Como em outras etapas-chave da vida da mulher, como o início da menstruação, a programação da gravidez ou gestação, por exemplo, também na menopausa o acompanhamento médico é um cuidado essencial

O que acontece no organismo

A menopausa ocorre quando há a «falência do ovário, que esgota a sua capacidade de ovular e de produzir as hormonas inerentes a este processo», explica a médica ginecologista Marcela Forjaz à Revista Prevenir. Com a redução da produção dessas hormonas (estrogénio e progesterona), não há «crescimento da camada interna do útero (endométrio) nem a sua descamação posterior, logo não há menstruação», indica a especialista. Esse processo pode acontecer «naturalmente, sem interferência externa» ou ser «causada por atuação médica, por via cirúrgica (extração dos ovários ainda durante a vida fértil) ou provocada por medicamentos como os utilizados em quimioterapias ou em tratamentos em que se pretenda inibir o funcionamento do ovário no contexto de, por exemplo, tratamento de tumores hormonodependentes», como o cancro da mama, acrescenta Marcela Forjaz.

Ir ao médico é essencial

Como em outras etapas-chave da vida da mulher, como o início da menstruação, a programação da gravidez ou gestação, por exemplo, também na menopausa o acompanhamento médico é um cuidado essencial. A visita anual «ao médico ginecologista ou ao médico de Medicina Geral e Familiar», como aconselha Marcela Forjaz, torna mais «fácil acompanhar as alterações ou até antecipar algumas, oferecendo o suporte necessário, num contexto de medicina preventiva». A terapêutica hormonal de substituição – que permite repor no organismo a hormonas cuja carência dá origem a queixas – destaca-se entre as opções de tratamento, cujo objetivo é «fazer diminuir ou desaparecer sintomas, prevenir ou melhorar a osteoporose (perda de densidade óssea) e terá também um efeito protetor cardiovascular», descreve Marcela Forjaz.

«A toma da pílula durante vários anos não tem qualquer influência na menopausa ou no atenuar das suas manifestações», refere a médica ginecologista Marcela Forjaz

O papel da terapêutica hormonal de substituição

Este tratamento consiste na administração de «hormonas bioidênticas ou hormonas sintéticas, escolhidas de acordo com os antecedentes clínicos da mulher, podendo consistir, em alguns casos, em estrogénios isolados ou esquemas de estrogénios e progestativos que poderão ser dados de forma cíclica, sequencial, ou contínua, de acordo também com o desejo da mulher de voltar a ter (ou não) “menstruações”», explica especialista. Num futuro, «que se calhar não se adivinha tão próximo, poderemos esperar uma substituição hormonal ad eternum, sem riscos, mas atualmente, se for continuada por mais de dez anos, há um aumento do risco de cancro do endométrio e da mama», refere Marcela Forjaz que sublinha a importância de «uma vigilância regular e a manutenção de um estilo de vida saudável, fatores-chave para a prevenção ou diagnóstico precoce».

«Além das opções medicamentosas e dos produtos naturais, um estilo de vida saudável também tem um impacto muito positivo, tanto a nível físico como psicológico»

Outras opções de tratamento

Existem ainda suplementos naturais «com atuação semelhante às hormonas que poderão ser prescritos, dependendo do tempo que terá mediado entre a menopausa e a necessidade de terapêutica», esclarece a médica ginecologista. São os chamados fitoestrogénios, ou seja, «estrogénios provenientes de plantas, que, contudo, têm uma potência terapêutica muito inferior à dos estrogénios sintéticos». Pode-se ainda optar, segundo a especialista, por «tratar “as partes em vez do todo”, ou seja, procurar resolver cada sintoma como uma entidade independente, recorrendo-se, por exemplo, a medicação para melhorar o sono ou o humor», conclui a especialista. Além das opções medicamentosas e dos produtos naturais, um estilo de vida saudável também tem um impacto muito positivo, tanto a nível físico como psicológico. Segundo Marcela Forjaz, «todas as abordagens que tragam bem-estar e que atenuem os sintomas característicos, como a prática de yoga ou a caminhada ao ar livre, são desejáveis pois têm repercussão física, direta e indireta, na libertação de endorfinas [neurotransmissor associado ao bem-estar], levando a um melhor bem-estar afetivo, emocional e cognitivo».

A prevalência de cefaleias, segundo o Consenso Nacional de Menopausa, «diminui após a menopausa, no entanto as mulheres sob terapia hormonal de substituição podem voltar a referir este sintoma», refere Marcela Forjaz

Menopausa: em que fase está?

Entre o pleno potencial reprodutivo até a cessação desta capacidade, existem as seguintes etapas:

  • Pré-menopausa
    Antecede a última menstruação e pode ser «completamente silenciosa, não provocando qualquer alteração na vida da mulher ou, pelo contrário, pode manifestar-se com ciclos menstruais irregulares, afrontamentos, alterações do humor, aumento de peso com dificuldade crescente no retorno ao peso habitual e alterações do sono», descreve Marcela Forjaz, médica ginecologista.
  • Perimenopausa ou transição menopáusica
    Intervalo de tempo, segundo o Consenso Nacional de Menopausa 2016 (CNM), «variável, entre quatro e oito anos, que engloba até um ano após a menopausa» e durante o qual há uma maior variedade de sintomas.
  • Menopausa
    «É a data da última menstruação e ocorre, em média, pelos 53 anos. É um diagnóstico a posteriori porque nunca se sabe que a menstruação que está a decorrer será a última. De forma incorreta, chamamos “menopausa” a toda a fase da vida da mulher que ocorre após essa data, quando deveria ser chamada período pós-menopausa», refere a especialista.
  • Período de pós-menopausa
    Período que se inicia com a última menstruação, dividindo-se «em precoce, até seis anos após a última menstruação, e tardio, os restantes anos», como especificado no CNM. De forma «incorreta, chamamos “menopausa” a toda a fase da vida da mulher que ocorre após essa data, mas deveríamos chamar-lhe período pós-menopausa», esclarece Marcela Forjaz.

Mulheres com epilepsia em idade reprodutiva «têm crises variáveis com o ciclo menstrual e constata-se diminuição das crises após a menopausa», porém a terapia hormonal de substituição pode «aumentar a frequência de convulsões», lê-se no Consenso Nacional de Menopausa

Pós-menopausa: doença cardiovascular é a principal causa de morte das mulheres

A incidência de doença cardiovascular aumenta entre as mulheres, «sendo a principal causa de morte na pós-menopausa», indica o Consenso Nacional de Menopausa 2016. Esse risco aumentado é causado por uma maior incidência da síndrome metabólica, um conjunto de fatores como a obesidade visceral (as alterações hormonais levam ao aumento da circunferência abdominal), a dislipidemia (alterações nos níveis de colesterol), a hipertensão arterial (cujo aparecimento e dificuldade no seu controlo é mais frequente nesta etapa) e alterações do metabolismo glicídico (muitas vezes, surgem diabetes tipo 2). Para preservar a saúde cardiovascular, é preciso, portanto, prevenir ou combater estes fatores de risco, o que pode ser conseguido, segundo Marcela Forjaz, com a ajuda da terapêutica hormonal de substituição e através da prática de exercício físico e de «uma dieta equilibrada», em que o sal, o açúcar e as gorduras saturadas devem ser limitadas.

A idade da menopausa

53 anos
Idade média em que ocorre a menopausa.
40 anos
Idade em que a menopausa é considerada prematura.
45 anos
Idade em que a menopausa é considerada precoce.
55 anos
Idade a partir da qual a menopausa é considerada tardia

Fonte: Consenso Nacional de Menopausa 2016 e Marcela Forjaz, médica ginecologista


Como lidar com as irregularidades menstruais?

Podem iniciar-se quatro a oito anos antes da menopausa, existindo variações da duração e quantidade de fluxo. Mais tarde, como é indicado no Consenso Nacional sobre Menopausa 2016 (CNM), «a maior frequência de ciclos anovulatório [quando não há libertação de óvulos] introduz uma tendência para aumento da duração dos ciclos e ausência de menstruação». Durante esta fase, segundo a mesma fonte, «apesar de diminuída, a fertilidade das mulheres mantém-se, até 25 por cento dos ciclos podem ser ovulatórios», o que significa que a mulher ainda pode engravidar, sendo, por isso, importante ter o cuidado de manter «uma contraceção adequada». Falar sobre o tema com o médico ginecologista é importante. «Poderá ser necessário prescrever medicação mais convencional, recorrendo a progesterona, de forma a evitar consequências das alterações do ciclo menstrual, como a anemia», especifica Marcela Forjaz.


Menopausa: como lidar com as queixas

São «variáveis em intensidade, frequência, podendo até ser inexistentes» para algumas mulheres, refere a médica ginecologista Marcela Forjaz. Saiba como lidar com elas, se ocorrerem.

Afrontamentos e suores noturnos
Estes sintomas afetam mais de 70 por cento das mulheres e estão relacionados com os níveis de estrogénios. Segundo o CNM, «começam tipicamente por uma sensação súbita de calor durante cerca de dois a quatro minutos, associada frequentemente a suores e profusa e ocasionalmente a palpitações; seguida por vezes de calafrios, tremores e sensação de ansiedade». Podem surgir «até cerca de 20 vezes por dia», sendo mais frequentes durante a noite.

  • Isto pode ajudar
    A «terapêutica hormonal de substituição (THS) continua a ser o tratamento mais eficaz» para dar resposta a estes sintomas, conta Marcela Forjaz. De acordo com a especialista, se existirem contraindicações para a realização da THS, a toma de antidepressivos é uma possibilidade que deve ser ponderada com cuidado em conjunto com o médico. Do ponto de vista do estilo e vida, Marcela Forjaz aconselha «a prática de exercício físico e de mindfulness e manter uma alimentação equilibrada».

Alterações vaginais e urinárias
A síndrome geniturinária da menopausa, associada ao decréscimo dos estrogénios e de outras hormonas sexuais, caracteriza-se pelas «alterações dos grandes e pequenos lábios, clitóris, vestíbulo/introito, vagina, uretra e bexiga» e inclui ainda, de acordo com o CNM, queixas de «secura, ardor e irritação local; sintomas sexuais como ausência de lubrificação, desconforto ou dor dificultando o ato sexual; e sintomatologia urinária como urgência, disúria [dificuldade em urinar] e infeções urinárias recorrentes».

  • Isto pode ajudar
    «A terapêutica hormonal de substituição permite colmatar estes sintomas», refere Marcela Forjaz. Além disso, «existem várias fórmulas hidratantes vaginais e complementos hormonais que permitem dar resposta a problemas como secura, ardor e irritação local. Para prevenir e resolver os sintomas urinários, as mucosas devem estar em bom estado, podendo-se usar para isso suplementos hormonais locais», refere a especialista. Os sintomas sexuais podem ser prevenidos ou atenuados com a manutenção de «uma flora vaginal equilibrada, podendo-se recorrer a suplementos de lactobacilos hidratantes e complementos hormonais», acrescenta a médica ginecologista.

Dores articulares
A osteoartrite é um processo inflamatório e degenerativo das articulações que evolui de maneira progressiva. Apesar de «não existir associação clara entre os níveis de estrogénios e risco de osteoartrite, são frequentes as queixas de dores articulares após a menopausa e há maior prevalência e incidência de osteoartrites nas mulheres do que nos homens», indica CNM.

  • Isto pode ajudar
    Numa ótica de prevenção, ainda antes da menopausa, «deve-se apostar num estilo de vida saudável, nomeadamente na prática de exercício físico», específica Marcela Forjaz. Se existirem dores articulares, «compostos como a glucosamina e a condroitina, que têm um valor discutível, podem ser uma ajuda em alguns casos. Na pós-menopausa, «a terapêutica hormonal de substituição volta a ser a solução», indica a médica ginecologista.

Diminuição do desejo
Embora a maioria das mulheres seja sexualmente ativa durante o climatério, cerca de 60 por cento «referem um decréscimo na atividade sexual», menos desejo e fantasias sexuais, assim como «evitamento sexual», indica o CNM.

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    «É necessária uma abordagem mais global, que passa pela terapêutica hormonal de substituição», considera Marcela Forjaz. Pode ser uma ajuda o acompanhamento do casal por um «psicólogo para explorar a relação que se tem no momento». É ainda importante «o casal cultivar interesses comuns e que o parceiro tenha a capacidade de compreender as limitações da mulher nesta altura».

Perda de massa óssea
Caracteriza-se pela diminuição da massa óssea e deterioração dos tecidos, resultando num aumento da fragilidade dos ossos e do risco de fratura. «Os estrogénios têm um papel na renovação do tecido ósseo, equilibrando a perda e a reconstrução do osso», indica Marcela Forjaz.

  • Isto pode ajudar
    «Fazer exercício, como caminhar, é fundamental para a preservação do osso», bem como uma alimentação «rica em cálcio (lacticínios e vegetais de folha verde)» e a exposição ao sol (até às 11h00 e depois das 16h00). «É importante para a ativação da vitamina D, que, em conjunto com o cálcio, está envolvida na renovação óssea».

Sono alterado
Os afrontamentos, as alterações de humor, anomalias do ritmo circadiano, problemas de saúde associados à menopausa e o estilo de vida tendem a afetar a qualidade do sono. Na pós-menopausa, de acordo com o CNM, a insónia, por exemplo, é referida por quase metade das mulheres.

  • Isto pode ajudar
    Marcela Forjaz recomenda a prática de exercício físico como um dos principais aliados para noites de sono reparadoras.

Pele mais fina e flácida
Após a menopausa, há uma diminuição da produção de colagénio. A pele fica «mais fina» e perde «viscoelasticidade», podendo «surgir uma aceleração no envelhecimento da pele, com aumento das rugas», lê-se no CNM.

  • Isto pode ajudar
    Marcela Forjaz recomenda «boa ingestão hídrica e massagens com óleos ou cremes hidratantes».

Falta de memória
Na peri-menopausa e na pós-menopausa, pode ocorrer «a diminuição da memória verbal, dificuldade na concentração e da fluência verbal fonémica», descreve o CNM.

  • Isto pode ajudar
    Abrace «novas aprendizagens para estimular a capacidade cognitiva», aconselha Marcela Forjaz.

Sintomas de depressão
«Os estrogénios medeiam as funções cognitivas dependentes do hipocampo e córtex pré-frontal, o que pode explicar que, apesar da incidência de depressão major ser similar nas mulheres pré e pós-menopausa», como é explicado no CNM, «sejam mais frequentes os sintomas depressivos na transição menopáusica e menopausa precoce».

  • Isto pode ajudar
    Para Marcela Forjaz, «a prática de yoga, meditação, caminhar ao ar livre e atividades em conjunto estimulam uma vida de relação mais rica».
Última revisão: Setembro 2019

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