Os jovens devem vacinar-se contra a COVID-19?

Vacinação contra a COVID-19 nos jovens

«A resposta deverá basear-se na existência ou não de vacinas para toda a população (numa perspetiva de equidade)», defende António Vaz Carneiro, neste artigo.

  • PorProfessor Doutor António Vaz CarneiroMédico especialista em Medicina Interna, Nefrologia e Farmacologia Clínica, Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, diretor do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência (CEMBE), presidente do Conselho Científico do Instituto de Saúde Baseada na Evidência das Faculdades de Medicina e Farmácia da Universidade de Lisboa e diretor da Cochrane Portugal

Uma vez concluídas as vacinações anti-COVID em grupos de maior risco (por exemplo nos idosos), parece natural querermos vacinar o resto da população. Nesse sentido, a Agência Americana do Medicamento (FDA) recomendou recentemente a vacinação de jovens com idades compreendidas entre os 12 e os 15 anos de idade. Deve-se colocar a questão: devemos vacinar os jovens?

«A vacinação juvenil dificilmente terá impacto significativo no controlo global da pandemia»

Jovens e COVID-19: grupo de baixo risco

Para poder responder à questão devem levar-se em linha de conta três fatores (BMJ 2021;373:n1197 doi: 10.1136/bmj. n1197): em primeiro lugar, o risco de morte pela COVID-19 nos jovens – incluindo as variantes – é muito baixo (<0,2%). Deste modo, o benefício da vacinação é também residual, e isto porque é sabido que, quanto mais baixo é o risco, menos eficazes são as medidas de prevenção, sejam elas quais forem. Isto faz com que, no início de um programa de prevenção, se devam guardar as vacinas para grupos de risco mais elevado. Em segundo lugar, a vacinação diminui a doença neste grupo etário, um fator positivo. Mas acontece que, no geral, as crianças parecem ser menos suscetíveis à infeção pelo SARS-CoV-2 e às suas consequências clínicas, representando um fator minor nas cadeias de transmissão, pondo em questão a vacinação maciça. Em terceiro lugar, há o facto paradoxal de uma diminuição de circulação viral poder aumentar a mortalidade global, por infecções primárias em grupos etários mais avançados (os mais novos estão protegidos), com maior taxa de mortalidade dos casos (por a idade ser um fator de risco major).

«O risco de morte pela COVID-19 nos jovens é muito baixo (<0,2%). O benefício da vacinação é também residual, e isto porque, quanto mais baixo é o risco, menos eficazes são as medidas de prevenção»

O papel da infeção primária

A resposta deverá basear-se na existência, ou não, de vacinas para toda a população (numa perspetiva de equidade), já que a vacinação juvenil dificilmente terá impacto significativo no controlo global da pandemia. Acresce o facto de que, uma vez vacinada a maior parte dos adultos, a circulação do coronavírus ser até desejável para que a infecção primária aconteça em idades mais jovens, com muito melhor prognóstico. É importante alertar que estas considerações podem sofrer alterações com novas informações que, entretanto, venham a estar disponíveis. A monitorização contínua da doença é vital para se decidir quais as melhores decisões a cada passo da pandemia.

Última revisão: Julho 2021

Mais sobre:

COVID-19

artigos recomendados

Previous Next
Close
Test Caption
Test Description goes like this