O que é a imunidade de grupo de uma doença transmissível?

Imunidade de grupo: o que é?

A imunidade de grupo ocorre quando uma percentagem significativa da população em risco se torna imune à infeção, como explica António Vaz Carneiro, neste artigo.

  • PorProfessor Doutor António Vaz CarneiroMédico especialista em Medicina Interna, Nefrologia e Farmacologia Clínica, Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, diretor do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência (CEMBE), presidente do Conselho Científico do Instituto de Saúde Baseada na Evidência das Faculdades de Medicina e Farmácia da Universidade de Lisboa e diretor da Cochrane Portugal

Uma qualquer doença transmissível, isto é, cujo agente seja um microrganismo (vírus, bactérias, fungos), só pode disseminar-se se houver pessoas que estejam em risco de poder ser contagiadas, por não terem tido contacto com o agente microbiano e, portanto, não terem desenvolvido defesas imunológicas (JAMA 2020;324:2113). A imunidade de grupo ocorre quando uma percentagem significativa da população em risco se torna imune à infeção e a probabilidade de transmissão diminui entre os ainda não infetados (a chamada proteção indireta).

«A obtenção de imunidade de grupo pela vacinação é muito mais previsível e, de uma determinada forma, muito mais eficaz: as vacinas disponíveis no mercado têm eficácias que oscilam entre 66 e 95 por cento»

Imunidade de grupo: o conceito

É este fenómeno que explica a tão conhecida curva epidemiológica com três segmentos: um braço descendente (os suscetíveis, a azul no gráfico, que vão diminuindo conforme o agente infeccioso se transmite e se adquire imunidade de grupo), seguido de uma curva em forma de sino (os infetados, a vermelho) e, finalmente, um braço ascendente (os recuperados, a verde). Esta é a representação gráfica clássica do modelo SIR (Suscetíveis, Infetados, Recuperados). A imunidade de grupo pode conseguir-se por infeção natural e subsequente recuperação ou por vacinação de massas. Por infeção natural está dependente da existência de um número suficiente de pessoas em recuperação da infeção (por produção de anticorpos e/ou células específicas do sangue), que induzem uma taxa de transmissão muito baixa, já que apenas são suscetíveis os poucos indivíduos não vacinados. Mas, por vezes, mesmo que a maioria da comunidade esteja imunizada, a infeção pode circular em crianças, grávidas e imunocomprometidos.

«As complicações trombóticas verificam-se uma vez em cada meio milhão de inoculações (um risco semelhante a morrer de um tremor de terra)»

Em conclusão

A obtenção de imunidade de grupo pela vacinação é muito mais previsível e, de uma determinada forma, muito mais eficaz: as vacinas disponíveis no mercado têm eficácias que oscilam entre 66 e 95 por cento, isto é, após a vacinação, entre dois terços e mais de nove décimos das pessoas vacinadas deixam de ter doença (e de a transmitir). Estas vacinas são também muito eficazes contra as variantes mais comuns: Reino Unido (B.1.1.7), Africa do Sul (B.1.351) e Brasil (P.1). Dado que a segurança das vacinas é excelente – as complicações trombóticas verificam-se uma vez em cada meio milhão de inoculações (um risco semelhante a morrer de um tremor de terra) ‒ a recomendação é inequívoca: vacine-se.

Última revisão: Junho 2021

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