Guia de sobrevivência financeira para proteger o seu dinheiro

Guia de sobrevivência financeira

Seja porque está numa situação difícil ou quer ser mais próspero, organizar as finanças é o primeiro passo. Com a ajuda de dois especialistas, revelamos as principais estratégias para começar.

  • Por
    Bárbara BettencourtJornalista

  • Colaboração
    Dra. Eduarda AlvesNutricionista 
  • Pedro AnderssonJornalista e especialista em finanças pessoais

A crise económica potenciada pela COVID-19 deixou muitos numa situação financeira complicada ficando clara a importância de ter as finanças em ordem. O tema não é novidade para o jornalista Pedro Andersson, autor do programa Contas-Poupança, na SIC, e do livro Contas Poupança – Vença a Crise com Inteligência (Contraponto). «Esta crise ensinou-nos que a nossa situação financeira é muito frágil. Pessoas que nunca tiveram problemas ficaram sem rendimentos ou com uma quebra muito grande. Os nossos pais nunca nos ensinaram a gerir as finanças pessoais e o melhor conselho que davam era “grão a grão enche a galinha o papo”. Esse conceito de poupança, como mera acumulação do dinheiro que sobra, assenta no sacrifício e é “pobrezinho”. O que defendo é poupar, pagando sempre o menos possível por o que precisa ou quer e depois usar essa poupança em produtos financeiros que a transformem em rendimento.» Para tal, deve seguir vários passos fundamentais.

Evite fazer as contas ao orçamento mensal de cabeça. «A ideia é assustar-se com a conta que fizer. Apanhar esse susto é o ponto de partida para mudar a sua vida para melhor. Pelo menos foi assim comigo», confessa o jornalista Pedro Andersson

Estratégias para gerir melhor as suas finanças pessoais

1. Crie um fundo de emergência

«Se hoje perdesse o emprego ou tivesse de deixar de trabalhar tinha dinheiro para pagar as despesas durante quantos meses? O fundo de emergência deve cobrir de seis meses a um ano todas as despesas fixas e variáveis essenciais. Este dinheiro deve estar numa conta à parte (intocável) e permite manter a qualidade de vida enquanto procura outra fonte de rendimento.»

  • Faça assim: «Reserve 20 ou 30 por cento dos subsídios de férias e Natal. Além disso, faça uma transferência mensal de 25 euros para essa conta.»

2. Estabeleça um orçamento mensal
«Saber quanto ganhamos e gastamos todos os meses é o primeiro passo para ter controlo do dinheiro que entra e sai. Achar que isto não vale a pena equivale a ficar na “corrida dos ratos”, em que anda às voltas e não sai do mesmo sítio. É o que sucede às famílias que estão sempre à espera do salário seguinte para pagar as contas do mês anterior.»

  • Faça assim: «Elabore uma lista de todas as despesas mensais. Se, depois de pagar tudo, não lhe sobra dez por cento dos rendimentos, tem de cortar as despesas até atingir esse objetivo. Na realidade, tem de “aumentar” os rendimentos, mas só você sabe se consegue fazê-lo. Use caneta e papel, uma folha de Excel ou apps no telemóvel.»

3. Pague as dívidas
«Depois de ter um fundo de emergência de pelo menos mil euros (montante simbólico), divida as poupanças entre o reforço desse fundo e a amortização antecipada de todos os créditos/dívidas, exceto o crédito à habitação. Não antes, porque se tentar acabar com as dívidas primeiro (antes de atingir o Fundo de Emergência), se surgir um imprevisto vai ter de recorrer novamente ao cartão de crédito ou a empréstimos e piorar a situação. Isso exige esforço, mas vai valer a pena quando perceber que o valor que gasta mensalmente a pagar despesas com juros está finalmente a descer.»

  • Faça assim: «Amortize os créditos com os juros mais elevados. Primeiro, acabe com a dívida dos cartões de crédito e só depois o crédito automóvel, e assim sucessivamente. Pode recorrer a instrumentos como a consolidação de créditos, renegociação de créditos ou a redução da taxa de cartão de crédito. Também pode pedir um crédito que cubra menos juros para pagar as dívidas com juros mais altos.»

4. (Re)negoceie periodicamente os contratos de serviços
«De seis em seis meses faço uma pesquisa para ver se alguma empresa está a fazer melhores preços do que aqueles que estou a pagar, seja eletricidade, gás, telecomunicações, ginásio ou seguros. Com isto poupa dezenas de euros em poucos meses.»

  • Faça assim: «Por exemplo, na eletricidade há uma app chamada Payper, em que faz o upload das faturas e a app diz qual é a empresa mais barata no seu caso. Carrega num botão e muda de empresa. Mas pode simplesmente contactar os serviços e renegociar porque encontrou ofertas melhores.»

5. Peça fatura de tudo
«Peço sempre fatura com NIF, até do café. Há quem ache absurdo, mas por isso recebo todos os anos mais cerca de 150 euros de reembolso no IRS. Fiz as contas e já “ganhei” mais de 600 euros ao longo dos últimos anos.»

  • Faça assim: Mostre o cartão que pode imprimir no portal das Finanças.»

6. Faça um plano poupança reforma
«Comece o mais cedo possível. Com 25 euros por mês, começando aos 25 anos, pode chegar à idade de reforma com quase 150 mil euros. E em situações difíceis também pode ser útil. Poucos sabem que podem resgatar dinheiro do Plano Poupança Reforma (PPR) para pagar a prestação do crédito habitação, por exemplo. Basta que tenha o PPR há cinco anos e o montante das entregas dos primeiros dois anos e meio represente, pelo menos, 35 por cento do total das entregas. O PPR também pode ser um investimento com vantagens sobre os depósitos a prazo. A tributação das mais-valias em caso de resgate é muito inferior: no PPR, ao fim de oito anos, só paga 8,6 por cento, em vez de 28 por cento nos depósitos a prazo. É verdade que existe penalização pelo fisco em caso de resgate antecipado, mas só se usarmos o benefício fiscal da dedução no IRS. Para o evitar, podemos ter dois PPR, um para a reforma, usando as deduções no IRS, e outro para investimento.»

  • Faça assim: «Para pagar a prestação da casa com o PPR peça no banco uma declaração com o valor da prestação do mês seguinte e o IBAN do banco para onde a instituição onde está o PPR deve enviar o valor. Para usar como fundo de investimento, subscreva um Seguro PPR com capital garantido, e escolha um que renda mais do que os depósitos a prazo atuais (dois ou três por cento). Pode procurar na página da Autoridade de Supervisão dos Seguros e Fundos de Pensões.»

«Se quiser uma sobremesa fácil e económica, faça um puré de pera ou maçã com flocos de aveia, um fio de mel e raspa de limão», sugere a nutricionista Eduarda Alves

O que cozinhar?

A nutricionista Eduarda Alves apresenta sugestões saudáveis e económicas para cada dia da semana.

  • Segunda-feira
    Arroz de grão com peixinhos da horta e salada.
  • Terça-feira
    Pataniscas de legumes com puré de batata e esparregado de nabiças.
  • Quarta-feira
    Feijão encarnado estufado com esparguete integral e brócolos a vapor com molho vinagrete e folhas de manjericão.
  • Quinta-feira
    Salada de favas, atum, ovo cozido, azeitonas, tomate, alface e cebola doce.
  • Sexta-feira
    Jardineira de vaca e salada de alface, tomate, pepino e cebolinho

Como poupar no supermercado

É uma das maiores despesas mensais das famílias, mas será possível diminuir os gastos sem prejudicar a qualidade de vida? A nutricionista Eduarda Alves garante que sim.

  1. Substitua a carne, «no mínimo duas vezes por semana, por leguminosas, ricas em proteínas e fibras, ovos ou queijo magro».
  2. Não compre «refrigerantes, bolachas, bolos, batatas fritas e outros alimentos processados e de baixo valor nutricional».
  3. Faça a sua lista de compras. «e depois ajuste-a de acordo com as promoções».
  4. Aproveite as marcas brancas. «A sua qualidade, por norma, é ótima.»
  5. Prefira alface a granel. «Além de mais barato do que as embaladas, pode lavá-la de uma vez, secar bem as folhas e guardar numa caixa com folhas de papel de cozinha para absorver a humidade. Aguenta até cinco dias no frigorífico.»
  6. Comparare os preços «e veja sempre o valor por quilo».
  7. Opte por embalagens de leguminosas secas. «Além de render o dobro ou triplo das já cozidas, pode cozer tudo de uma vez e congelar em porções.»
  8. Combata o desperdício alimentar. «Congele talos de agrião, brócolos e nabiças para usar em sopas. Seque cascas de citrinos para chás e guarde as raspas para aromatizar flocos de aveia.»
  9. Faça refeições num só tacho. «Guisados, caldeiradas e estufados poupam gás/eletricidade e permitem aproveitar as vitaminas hidrossolúveis que ficam no molho.»

 

Última revisão: Novembro 2020

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