Cuidador informal: como cuidar de quem não pode cuidar de si

Cuidador informal: cuidar de quem não pode cuidar de si

Ser cuidador «é um processo difícil, desgastante e, muitas vezes, o sucesso passa por sermos capazes de cuidar melhor de nós, reconhecer as dificuldades do que estamos a fazer e, se necessário, pedir ajuda, sem constrangimentos», escrevem as autoras do guia Do Hospital para Casa. E Agora?

  • PorCarlos Eugénio AugustoJornalista

  • Entrevista aAna Catarina Ribeiro, Ana Isabel Temudo e Diana MaiaEnfermeiras e autoras do livro Do Hospital para Casa. E Agora? (Oficina do Livro)

A maior parte dos cuidadores informais vive em dois tempos: o seu e o de quem depende de si. Numa sociedade envelhecida, são aliados indispensáveis dos serviços de saúde. Dão tudo sem nada receber em troca. Estima-se que em Portugal existam cerca de 90 mil e que 80 por cento sejam familiares, na sua maioria mulheres e de idade avançada. Falamos de pessoas sem preparação nem qualificação, um fator que fragiliza o próprio cuidador, o expõe a situações complicadas e pode mesmo levar a cenários de rutura e exaustão.

«Cuidar de alguém é um ato de coragem e é importante que se saiba que há quem possa ajudar e que pedir apoio é uma atitude sensata»

Foi a pensar nestas questões, e pessoas, que surgiu Do Hospital para Casa. E Agora?, um guia prático, assinado por três enfermeiras, que ensina a cuidar de pessoas dependentes, mas que também olha para quem cuida, fornecendo estratégias para que essa tarefa se torne mais efetiva e afetiva. A Revista Prevenir falou com as autoras e reuniu informações importantes para quem é cuidador.

O que é exatamente um cuidador informal?

Um cuidador informal é um familiar, vizinho ou amigo que cuida do doente quando este retorna ao seu contexto familiar com algum tipo de dependência, assegurando, na maior parte das vezes, a totalidade das necessidades específicas do doente, que vão desde a alimentação, higiene pessoal, vestuário, posicionamentos e gestão de medicação ao acompanhamento a consultas.

Quais os principais desafios que se colocam a um cuidador?

Uma situação de dependência reflete uma mudança na vida do doente e de quem o acompanha, momentos de verdadeiro stresse e angústia, em que surgem sentimentos de tristeza, ansiedade e medo “de não ser capaz”. É essencial uma restruturação a vários níveis: físico (aprender a viver com a incapacidade alheia e encontrar estratégias e motivação para superar as dificuldades); emocional (nunca deixar de cuidar de si e evitar cair em estados depressivos); familiar (reorganização de papéis, em que, por exemplo, o filho passa a cuidar do pai); social (evitar o isolamento); profissional (o cuidador vê-se forçado a reduzir o horário de trabalho ou despedir-se); e financeiro (contratar técnicos especializados, restruturação do domicílio, entre outros).


Qual o primeiro passo para gerir estes desafios?

Procurar a ajuda certa: enfermeiros, médico de família, técnicos de serviço social. São estes profissionais, que se encontram nas unidades de saúde (centro de saúde, hospital, centro social), que poderão esclarecer dúvidas e dar aconselhamento técnico (manipulação de dispositivos, higiene, posicionamentos, alimentação, entre outros).

Quais as dúvidas mais frequentes dos cuidadores informais?

São principalmente ao nível da deslocação do doente. Por exemplo, como levantar alguém da cama para um cadeirão ou como posicioná-lo corretamente no leito. Estas questões surgem em vários contextos e à medida que o nível de dependência vai aumentando. Idealmente, as equipas de saúde que prestam apoio domiciliário deveriam ajudar neste sentido, mas essa é uma realidade que não existe pela escassez de recursos.

No contexto europeu, Portugal tem a maior taxa de cuidados continuados e paliativos prestados por pessoas sem preparação nem qualificação e uma das mais baixas taxas de cobertura de cuidados prestados por profissionais

Qual a importância de o cuidador não se esquecer de cuidar de si?

É determinante. O cuidador informal apenas consegue fazer um bom trabalho se estiver bem física e psicologicamente, pois todo este processo é desgastante e, muitas vezes, desesperante. Cuidar de alguém é um ato de coragem e é importante que se saiba que há quem possa ajudar e que pedir apoio é uma atitude sensata. Cada vez mais, os técnicos de saúde estão sensibilizados e capacitados para prestar um apoio que, muitas vezes, passa por ouvir e aconselhar. No entanto, existem locais que podemos recomendar, tais como grupos informais de apoio, associações de familiares e doentes, profissionais especializados em psicologia.

No caso de uma pessoa que tem de receber cuidados paliativos, é recomendável que seja o cuidador informal a ocupar-se da situação?

Nessa situação, terá de ser uma equipa multidisciplinar a cuidar do doente pois o cuidador informal pode até dar resposta a algumas necessidades, mas provavelmente não será suficiente. Assim, deve procurar-se apoio de uma equipa especializada, sendo o ideal o acesso a uma unidade de cuidados paliativos.


Cuidar do cuidador: O que deve fazer por si

«Apenas se consegue cuidar devidamente de alguém se quem cuida estiver bem», sublinham as autoras de Do Hospital para Casa. E Agora? Percorra a galeria de imagens e siga os seus conselhos.

Durma bem
Durma bem

É fundamental que tenha um sono reparador e durma um número de horas que lhe permita descansar.

É fundamental que tenha um sono reparador e durma um número de horas que lhe permita descansar.

Descontraia
Descontraia

Enquanto o seu familiar descansa ou executa atividades mais simples, faça outras coisas. Planeie momentos de descontração para fazer o que lhe apetece, nem que seja não fazer nada.

Enquanto o seu familiar descansa ou executa atividades mais simples, faça outras coisas. Planeie momentos de descontração para fazer o que lhe apetece, nem que seja não fazer nada.

Seja criativo
Seja criativo

Procure fazer novas atividades e entusiasme-se com a sua vida. Lembre-se de que é alguém único e que tem muito para descobrir acerca de si.

Procure fazer novas atividades e entusiasme-se com a sua vida. Lembre-se de que é alguém único e que tem muito para descobrir acerca de si.

Socialize
Socialize

Desabafe os seus problemas com alguém de confiança e evite isolar-se nas dificuldades. Mantenha o mais possível as suas relações sociais.

Desabafe os seus problemas com alguém de confiança e evite isolar-se nas dificuldades. Mantenha o mais possível as suas relações sociais.

Proteja a coluna
Proteja a coluna

Ao executar tarefas que implicam força, mantenha a coluna alinhada, os joelhos ligeiramente fletidos e os pés afastados e bem assentes no chão. Faça movimentos únicos, sem hesitar.

Ao executar tarefas que implicam força, mantenha a coluna alinhada, os joelhos ligeiramente fletidos e os pés afastados e bem assentes no chão. Faça movimentos únicos, sem hesitar.

Faça exercício físico
Faça exercício físico

Não se esqueça de proteger a sua forma física e faça exercício diariamente, por exemplo, uma caminhada de 30 minutos.

Não se esqueça de proteger a sua forma física e faça exercício diariamente, por exemplo, uma caminhada de 30 minutos.

Cuide da sua aparência
Cuide da sua aparência

Aproveite alguns momentos de relaxamento para cuidar de si. Esses momentos positivos aliviam o stresse e ajudam a superar os obstáculos.

Aproveite alguns momentos de relaxamento para cuidar de si. Esses momentos positivos aliviam o stresse e ajudam a superar os obstáculos.


Serviços de apoio na comunidade

Seja em casos de cuidados continuados, paliativos ou para melhorar o bem-estar do doente e dar-lhe uma melhor qualidade de vida, existem serviços de apoio na comunidade para esses fins.

  1. Serviço de apoio domiciliário Geralmente ligados a entidades sem fins lucrativos, prestam apoio à pessoa dependente no seu domicílio, ao nível da higiene pessoal e doméstica, supervisão terapêutica, fornecimento de refeições, acompanhamento a consultas/tratamentos e atividades de animação e socialização.
  2. Empresas de apoio domiciliário Resposta complementar ou alternativa aos serviços de apoio domiciliário, mas a título privado.
  3. Cuidador formal Equipas profissionais de empresas privadas ou centros de convívio, centros de dia, casas de repouso/lares de idosos, instituições que podem funcionar em regime de internato.
  4. Teleassistência Resposta imediata, segura e confortável, para situações de urgência, segurança ou solidão. Funciona 24 horas por dia, 365 dias por ano. Baseia-se em equipamentos disponibilizados ao utente, em formatos simples e práticos (pulseira/ colar/telefone), com atendimento imediato por profissionais.
  5. Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados Unidades e equipas de saúde, apoio social, cuidados e ações paliativas que garantem a prestação de cuidados continuados integrados a pessoas com dependência.

Fonte: Dados adaptados a partir do livro Do Hospital Para Casa. E Agora?


Eurocarers: A voz europeia para os cuidadores informais

A Eurocarers é uma rede multidisciplinar e independente de profissionais com serviços de apoio para a promoção da saúde e qualidade de vida do cuidador. Entre a informação disponível, destacam-se estratégias para cuidar de alguém, técnicas de relaxamento para lidar com o stresse ou relatos de outros cuidadores.

Última revisão: Janeiro 2017

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