Vale a pena fazer um curso de preparação para o parto?

Vale a pena fazer um curso de preparação para o parto?

As dúvidas e ansiedades sobre a gravidez, o parto e os primeiros meses de vida do bebé assaltam os futuros pais desde cedo. Os cursos de preparação para o parto podem dar mais confiança e tranquilidade, mas é preciso ter disponibilidade e capacidade de seleção entre uma oferta cada vez mais vasta.

  • PorSofia TeixeiraJornaista

  • ColaboraçãoMaria João Alvito
    Fisioterapeuta e formadora na área da Educação Parental

Para os pais – sobretudo os de primeira viagem –, a gravidez, o parto e os primeiros meses do bebé são um gigante ponto de interrogação. Eles sabem intuitivamente que vêm grandes mudanças a caminho e querem estar preparados. Assim, encontram nos cursos de preparação para o parto um espaço de descoberta e aprendizagem único. Para Maria João Alvito, fisioterapeuta e formadora na área da Educação Parental, estes cursos permitem «criar um espaço e um tempo onde pai e mãe se podem encontrar para dedicar alguma atenção às transformações que estão a ocorrer na vida deles como família». Esta necessidade de criar um espaço e um tempo próprios para a reflexão e aprendizagem, com apoio de um profissional de saúde, não é alheia às transformações sociais e familiares que aconteceram nas últimas décadas. As estatísticas mostram alterações que transformaram a família, algumas com impacto na forma como os casais vivem a parentalidade: o aumento da idade da reforma faz com que os avós trabalhem até mais tarde, estando menos disponíveis para tomar conta dos netos; noutros casos, o aumento da idade da mulher aquando do nascimento do primeiro filho faz com que os avós sejam mais velhos e tenham menos saúde. Por outro lado, as relações conjugais são mais instáveis, o que aumenta as situações de monoparentalidade. E apesar de haver mais informação acessível, nem sempre e de qualidade. «Na Internet em geral, e nas redes sociais em particular, há muita desinformação e são veiculadas ideias sem fundamentação científica. O curso de preparação para o parto é um espaço onde os casais podem validar junto do profissional de saúde o que leem online», explica a educadora parental.

Hoje, os nomes mudaram e os conteúdos dos cursos de preparação para o parto alargaram-se: incluem questões como sexualidade, amamentação, cuidados ao bebé, questões de segurança e recuperação pós-parto

Os novos cursos de preparação para o parto

As mudanças sociais das últimas décadas ditaram alterações na estrutura e foco dos cursos, que antes estavam quase exclusivamente focados nas mulheres e na sua “hora H”. Apesar de se continuar a usar a expressão “curso de preparação para o parto”, a terminologia não é considerada a mais correta. «Dá a sensação de que são cursos para ensinar as mulheres a terem os seus filhos. Antigamente, eram efetivamente cursos de preparação para o parto, e não para a parentalidade», explica Maria João Alvito. «Serviam meramente para fazer o condicionamento do trabalho de parto e, portanto, as mulheres faziam-nos nas últimas semanas da gestação.» Hoje, os nomes mudaram e os conteúdos alargaram-se: incluem questões como sexualidade, amamentação, cuidados ao bebé, questões de segurança e recuperação pós-parto. É aqui que pais e mães experimentam, muitas vezes pela primeira vez, trocar uma fralda ou dar banho a um boneco do tamanho de um recém-nascido.

É importante que o pai esteja presente no curso de preparação para o parto, mas quem diz o pai diz a outra mãe ou pessoa próxima da grávida, já que hoje em dia são muitos os modelos de família

O papel do pai

A importância da participação do pai é justificada por duas razões: por um lado, como refere o Programa Nacional para a Vigilância da Gravidez de Baixo Risco (2015), da Direção-Geral da Saúde, «os homens têm necessidades psicológicas, emocionais e físicas específicas, relacionadas com a preparação e adaptação à paternidade, que é necessário ter em conta, escutando-os, esclarecendo-os e apoiando-os». Por outro lado, estudos têm mostrado nas últimas décadas que o seu apoio e envolvimento precoce é determinante na própria adaptação da mãe, no sucesso da amamentação e no estabelecimento de um vínculo e ligação emocional precoce com o bebé. É importante que o pai esteja presente no curso de preparação para o parto, mas quem diz o pai diz a outra mãe ou pessoa próxima da grávida, já que hoje em dia são muitos os modelos de família. «Há muitas situações em que a família não se encaixa no modelo tradicional. Temos casais lésbicos e casos em que há uma monoparentalidade intencional. Nestes últimos casos, a mãe pode fazer o curso sozinha, mas convidamo-la a trazer um elemento emocional significativo para ela», explica a fisioterapeuta à Revista Prevenir.

«Apesar de a indicação para iniciar o curso ser a partir das 28 ou 31 semanas, aceitamos casais em qualquer altura. O período ideal para fazer o curso é quando o pai e a mãe quiserem, precisarem e se sentirem disponíveis para isso»

Abordagem personalizada

Apesar de haver um programa abrangente estruturado, Maria João Alvito defende que faz sentido que haja flexibilidade: o casal deve poder escolher um curso mais personalizado, só com módulos adaptados às suas necessidades, e faz sentido que o possam fazer em qualquer altura da gravidez. «Apesar de, tradicionalmente, a indicação para iniciar o curso de preparação para o parto ser a partir das 28 ou 31 semanas, aceitamos casais em qualquer altura. O período ideal para fazer o curso é quando o pai e a mãe quiserem, precisarem e se sentirem disponíveis para isso», refere. O papel do profissional de saúde passa por adaptar os conteúdos às opções parentais, sem doutrinar. E exemplifica: um dos conteúdos típicos é o aleitamento materno, as estratégias de sucesso e a resolução de problemas, mas há mães que não querem amamentar. «Nesse caso, não me cabe julgar os estilos parentais, nem as decisões, mas dar-lhes as melhores estratégias para levarem a cabo a decisão que tomaram. Por exemplo, enumerar o material que vão precisar de comprar, explicar as regras de uma boa higienização e preparação do leite artificial ou como facilitar o transporte do que é preciso para a alimentação durante uma viagem.»

«Um casal mais informado, e com uma consciência mais profunda de todo o processo, vai conseguir ter uma participação mais ativa, fazer uma melhor adaptação e sentir-se mais tranquilo, exatamente porque está mais esclarecido»

Fazer o curso de preparação para o parto e repetir

A transição para a maternidade e paternidade pode gerar sentimentos de falta de preparação e ansiedade durante a gravidez e primeiros tempos do bebé. Por essa razão, o apoio da equipa multidisciplinar de profissionais de saúde e os cursos de preparação para o parto podem fazer a diferença na tranquilidade com que o casal encara as mudanças. «Um casal mais informado, e com uma consciência mais profunda de todo o processo, vai conseguir ter uma participação mais ativa, fazer uma melhor adaptação e sentir-se mais tranquilo, exatamente porque está mais esclarecido», defende Maria João Alvito. E não só vale a pena fazer o curso de preparação para o parto, como pode fazer sentido repeti-lo mais tarde, noutra gravidez, para relembrar informações ou conhecer orientações mais recentes. Nessa situação, porém, «é importante que o curso possa ser adaptado para as pessoas selecionarem os módulos que mais lhes interessam», defende a educadora parental. No entanto, a repetição do curso pode surgir noutro contexto. O aumento de famílias reconstituídas faz com que, frequentemente, o novo casal seja constituído por um elemento que já experimentou a parentalidade e outro não, explica Maria João Alvito. «Com os divórcios, separação e construção de novas famílias, muitas vezes um dos elementos ainda não foi pai ou mãe, apesar de o outro já ter sido. Acontece imenso já terem feito o curso há dez anos com um marido ou mulher e agora querem fazer com o outro parceiro.»


Curso de preparação para o parto: o que vai aprender

Segundo o Programa Nacional para a Vigilância da Gravidez de Baixo Risco (2015), da Direção-Geral da Saúde, estes são alguns dos temas que devem ser abordados nos cursos de educação pré-natal.

Gravidez

  • Transformações físicas e psicológicas da gravidez e parentalidade
  • Desconfortos e sinais de alerta
  • Sexualidade durante a gravidez
  • Crescimento e desenvolvimento fetal
  • Saúde oral
  • Informação sobre células estaminais
  • Massagem ao períneo

Trabalho de parto

  • Tipos de parto
  • Técnicas de respiração, relaxamento e posicionamento
  • Analgesia no parto
  • O papel do acompanhante

Pós-parto (puerpério)

  • Cuidados da mãe
  • Cuidados ao recém-nascido (alimentação, banho, roupa, vacinas)
  • Prevenção de acidentes, incluindo a “alta segura”
  • Aleitamento materno
  • Massagem infantil
  • Direitos e deveres parentais

Experimente: 3 exercícios para fazer durante a gravidez

Maria João Alvito, fisioterapeuta e formadora na área da Educação Parental, deixa alguns exemplos de exercícios que podem ajudar a sentir-se melhor durante a gestação e que ensina nos cursos de preparação para o parto.

  1. Dance
    A bacia é um ‘berço móvel’ que deve ser mobilizado em todas as direções e rotações desde o início até ao fim da gestação, incluindo, quando possível, a fase de trabalho de parto.
  2. Espreguice-se
    Com o aumento de peso, podem surgir queixas de dor ou desconforto nas costas. Espreguiçar-se várias vezes ao dia, após ter estado muito tempo numa posição, é importante para ajudar a descomprimir a coluna, aliviando a pressão na lombar.
  3. Faça exercícios de Kegel
    Consistem em contrair e relaxar os músculos à volta do ânus e da vagina. Devem ser realizados três vezes por dia, com séries de repetições de oito a 12 contrações, durante os segundos que conseguir contrair, relaxando depois. Na gravidez, a posição mais fácil para realizá-los é deitada de lado, no sofá ou na cama, progredindo para posições mais verticais, como sentada e a caminhar. Evite contrair os músculos das nádegas, abdominais ou internos da coxa.
Última revisão: Novembro 2019

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