Para engravidar é preciso, em primeiro lugar, haver «relações sexuais não protegidas na fase fértil de um ciclo ovulatório», como nos explicou Marcela Forjaz, médica ginecologista-obstetra, à Revista Prevenir. Existem várias aplicações gratuitas para smartphones que calculam o período fértil a cada mês. A app Clue é apenas uma delas. No entanto, conhecendo a duração habitual do ciclo menstrual também pode fazer o cálculo manualmente. «Se o ciclo for de 28 dias, subtraímos 14 dias ao 28º dia do ciclo (o dia em que espera a sua próxima menstruação) e temos o dia da ovulação. Porém, a maior parte das mulheres não tem um ciclo tão perfeito e nesse caso devem anotar durante algum tempo as datas das suas menstruações e a certa altura poderão perceber o intervalo de dias máximo e mínimo entre menstruações. Deverão subtrair 14 dias a esses dois limites e terão assim as datas prováveis de ovulação – todo o intervalo entre essas datas é considerado período fértil». Depois, temos ainda de ter em conta o tempo de sobrevivência do óvulo e do espermatozoide e, nesse caso, «deve alargar o período fértil acrescentando dois dias a cada extremo do intervalo», indica a especialista.
Será que o período está mesmo atrasado?
Para responder a esta questão terá de haver igualmente um autoconhecimento do ciclo menstrual. «Poder-se-á partir do ciclo ideal de 28 dias, em que se conta como primeiro dia do ciclo o primeiro dia de menstruação e desse forma espera-se menstruar de novo no 28º dia. Porém, muitas mulheres terão ciclos de 29 ou 32 dias, ou ciclos com alguma variação e só após alguns meses de observação perceberão qual é o “tamanho” habitual do seu ciclo, de forma que só a partir daí poderão prever a data da menstruação seguinte», refere Marcela Forjaz.
«Se ao atraso menstrual se somarem outros sintomas como náuseas, maior sonolência ou frequência urinária, o grau de suspeição de gravidez aumenta e torna-se mesmo mandatório fazer o teste de gravidez»
Quando fazer o teste
Deve fazer-se um teste de gravidez «sempre que haja atraso menstrual e se admita que, mesmo usando contraceção, poderá ter ocorrido uma falha do método (rotura de preservativo, esquecimento de uma pílula…)», indica Marcela Forjaz. «Se a este sintoma – atraso menstrual – se somarem outros como náuseas, maior sonolência ou frequência urinária, o grau de suspeição aumentará e torna-se mesmo mandatório fazer o teste de gravidez», afirma. «Também na presença de uma menstruação diferente das habituais (mais escassa, com menor duração ou mais acastanhada, mesmo que se arraste no tempo) deverá suspeitar que está grávida e por esse motivo fazer o teste», acrescenta. Se após um teste negativo os sintomas se mantiverem, «poderá repetir o teste com um intervalo mínimo de 48 horas».
Estarei grávida? Três formas de diagnóstico
A forma mais frequente e simples de se perceber se a falta de menstruação se deve a uma gravidez será «através de um teste de urina, em que se deteta uma hormona produzida pelos tecidos resultantes da gravidez. Quando subsistem dúvidas poder-se-á fazer o teste sanguíneo, mais fiável numa fase mais precoce. A partir de determinado tempo de amenorreia (falta da menstruação), a ecografia esclarecerá a situação», resume a médica ginecologista-obstetra.
Teste de urina: o mais comum
O teste mais comum, em que se utiliza a urina, «baseia-se numa reação que ocorre na presença de hormona coriónica humana (HcG), que faz aparecer a linha na “vareta” do teste. Esta hormona está presente na gravidez e quando atinge uma determinada concentração une-se a imunoglobulinas existentes no material do teste e ao precipitarem tornam a linha visível. O ideal será fazer este teste com a primeira urina da manhã, uma vez que, estando mais concentrada, terá também esta hormona menos diluída, logo, com maior possibilidade de reagir», explica Marcela Forjaz.
É possível estar grávida e ter um falso negativo se o teste for feito muito precocemente. Os falsos positivos são mais raros, mas também podem ocorrer
Falsos negativos, falsos positivos
«Alguns testes comerciais apontam para uma eficácia mesmo antes da falha da menstruação, até 4 dias antes da data em que se espera a menstruação. Porém, a sua sensibilidade nessa fase será menor, aumentando com o tempo de atraso», indica Marcela Forjaz. «É possível ter um falso negativo se o teste for feito muito precocemente. Os falsos positivos são mais raros, mas podem ocorrer, nomeadamente em situações de presença de tumores produtores dessa hormona, ou outras situações em que se produzem concentrações muito elevadas de outras hormonas que poderão reagir com os anticorpos do teste no que chamamos uma reação cruzada e ainda em alguns tratamentos que se realizam em casos de infertilidade», explica a especialista. «Para obviar esta situação alguns testes comerciais utilizam apenas uma porção da HcG – a fração beta – de forma a aumentar a especificidade do teste», acrescenta.
Teste sanguíneo: mais fiável
O teste de gravidez realizado com uma amostra de sangue «determina quantitativamente a fração beta da HcG circulante», explica a médica ginecologista-obstetra. «Este pode ser realizado a partir de poucos dias após a fecundação (quando se dá a nidação, isto é, a fixação do ovo), mas a conduta mais adequada será sempre fazer-se quando já existe um atraso menstrual», recomenda Marcela Forjaz.
«Terá de ter um motivo muito forte para suspeitar que está grávida estando a tomar a pílula (como ter-se esquecido de a tomar 2 ou 3 dias e ter tido relações não protegidas)»
Ecografia: quando é que a grávida deve fazer?
Se tiver feito um teste comercial, de farmácia, para verificar se está grávida, «deverá esperar até pelo menos às 7 semanas de gestação (contado a partir do primeiro dia da última menstruação) para realizar uma ecografia, se o seu médico assim o entender», recomenda Marcela Forjaz. O que está preconizado em termos de diretrizes da Direção-Geral da Saúde «é que se faça a primeira ecografia entre as 11 e as 13 semanas, mas é aceitável que se faça mais precocemente, se possível, para que se verifique se todos os parâmetros estão dentro do esperado: verificar-se o saco gestacional (e o número de sacos), se está implantado no local correto, se contém um embrião (ou mais) e se este tem batimentos cardíacos e, finalmente, verificar a que idade gestacional corresponde a medida do embrião. Numa primeira abordagem estes dados permitirão avaliar se tudo evolui dentro do esperado», assegura a médica ginecologista-obstetra.
Suspeito que estou grávida: devo parar de tomar a pílula?
Mesmo se suspeitar de gravidez poderá continuar a tomar a pílula até ter o teste positivo, indica Marcela Forjaz, médica ginecologista-obstetra. «Terá de ter um motivo muito forte para suspeitar de gravidez estando a tomar a pílula (como ter-se esquecido de a tomar 2 ou 3 dias e ter tido relações não protegidas) para parar a pílula mesmo antes de fazer um teste», defende.
Qual a probabilidade de o método contracetivo falhar?
«Quando se compara a segurança dos métodos contracetivos, faz-se assentando no pressuposto de que estes são utilizados nas condições ideais e, nesse caso, está definido um índice de falha (o índice de Pearl que se exprime em número de gravidezes por 100 mulheres por ano) que permite justamente essa comparação», explica Marcela Forjaz.
- Pílula oral combinada 0,03% a 0,5%
- Minipílula 0,4% a 4,3%
- DIU de cobre 0,5% a 1%
- SIU com levonorgestrel 0,09 a 0,2%
- Preservativo 7% a 14%
- Métodos naturais (abstinência periódica) 7% a 38%

Se não está grávida, o que se passa?
Há várias situações que podem atrasar a menstruação, «que vão desde disfunções hormonais, distúrbios alimentares, terapêutica com antidepressivos e outras situações que terão de ser esclarecidas pelo médico assistente. Sempre que acontecer uma ausência menstrual não habitual, deve consultar o médico», recomenda Marcela Forjaz.
Outras causas de atraso na menstruação incluem:
- Disfunções hormonais;
- Síndrome de ovário micropoliquístico;
- Distúrbios alimentares (anorexia, bulimia);
- Terapêutica com antidepressivos;
- Perda de peso súbita;
- Excesso de peso;
- Atividade física excessiva (como correr uma maratona);
- Stresse;
- Menopausa.
Fonte: Adaptado de dados fornecidos por Marcela Forjaz, médica ginecologista-obstetra e NHS e Cleveland Clinic