Gravidez aos 40 é gestação de risco?

Gravidez aos 40, quais os riscos?

Enquanto houver ovulação, a mulher pode engravidar, no entanto, à medida que a idade avança, as mulheres têm mais dificuldade em engravidar e, quando conseguem, correm mais risco. É por isso que numa gravidez aos 40, o acompanhamento médico é ainda mais importante.

  • Por
    Sónia Ramalho
    Jornalista

  • ColaboraçãoDr. Jorge LimaMédico obstetra, coordenador da Unidade de Alto Risco Obstétrico, Hospital CUF Descobertas

São cada vez mais as mulheres que apostam na carreira adiando a maternidade. E quando é demasiado tarde? O médico obstetra Jorge Lima, coordenador da Unidade de Alto Risco Obstétrico, do Hospital CUF Descobertas, revela quais os cuidados a ter antes de engravidar quando se passa a barreira dos 40, os riscos para a mãe e para o bebé e o que está nas suas mãos para ter uma gravidez e parto bem-sucedidos.

«A grávida com mais idade que acompanhei tinha 53 anos e, no mês passado, tivemos outra com a mesma idade. Correu tudo bem às duas»

Gravidez aos 40 cada vez mais comum

O mais recente relatório do Instituto Nacional de Estatística revela que 29,8 anos é a idade média em que as mulheres portuguesas são mães pela primeira vez. Os números são de 2018 e representam uma subida de 2,1 anos face a 2008. Numa altura em que cada vez mais mulheres adiam a gravidez, até quando é seguro engravidar? Jorge Lima, médico obstetra e coordenador da Unidade de Alto Risco Obstétrico, do Hospital CUF Descobertas, refere que «enquanto houver ovulação, a mulher pode engravidar», no entanto, à medida que a idade avança, as mulheres «têm mais dificuldade em ficar grávidas e, quando engravidam, têm mais risco de perda gestacional e patologia (diabetes gestacional, hipertensão…)». Mas há também muitos casos de sucesso, especialmente quando existe um acompanhamento multidisciplinar da gravidez, como o que é dado na Unidade de Alto Risco Obstétrico: «A nossa unidade foi criada em 2015 e engloba várias consultas especializadas (diabetes, hipertensão, patologia tromboembólica e autoimune, além de medicina obstétrica) de forma a dar um acompanhamento transversal a estas mulheres. A grávida com mais idade que acompanhei tinha 53 anos e, no mês passado, tivemos outra com a mesma idade. Correu tudo bem às duas».

O limite ideal

Jorge Lima traça nos 35 anos o limite ideal para engravidar. A partir daí «há uma redução significativa da fertilidade devido à qualidade ovocitária [qualidade dos ovócitos], que diminui consideravelmente, pois as mulheres nascem com um capital ovárico de um milhão de ovócitos, que se vai perdendo e envelhecendo ao longo da vida». No passado, a Organização Mundial da Saúde colocava a fasquia da gravidez em idade avançada a partir dos 35 anos, mas, hoje em dia, «se assim fosse, muitas das gravidezes eram consideradas de risco», refere o médico obstetra. Por isso, atualmente, «na maior parte das escalas, considera-se uma gravidez de risco a partir dos 40 anos».

A consulta pré-concecional (que avalia o estado de saúde da mulher antes de engravidar) assume ainda mais importância a partir dos 40 anos e pode ser o fator diferenciador para que tudo corra bem

A importância da consulta pré-concecional

Importante para todas as grávidas em qualquer idade, a consulta pré-concecional (que avalia o estado de saúde da mulher antes de engravidar) assume ainda mais importância a partir dos 40 anos e pode ser o fator diferenciador para que tudo corra bem. «É importante partir com um bom estado de saúde, controlar a doença base, ter um índice de massa corporal adequado e uma vida saudável. Essa necessidade aumenta nas mulheres com mais idade porque, se tiverem patologia, tem de estar controlada e, se fizerem determinadas medicações, estas têm de ser reajustadas antes da gravidez. É importante fazer todos os rastreios – como o do cancro da mama ou patologia do colo do ovário – porque o risco aumenta com a idade e é necessário garantir que partem para uma gravidez sem patologia grave», refere Jorge Lima, explicando: «A gravidez em si, ao tornar o sistema imune mais tolerável ao feto, em caso de patologia não diagnosticada, esta vai desenvolver-se com mais expressão», explica o médico obstetra, recomendando: «Ao engravidar, estas mulheres devem manter uma vigilância mais apertada e multidisciplinar».

Riscos para a mãe da gravidez aos 40

Nas mulheres com mais de 40 anos, a gravidez pode implicar «mais diabetes, mais hipertensão e mais abortos espontâneos», indica Jorge Lima. O excesso de peso também pode provocar «complicações obstétricas e até perda gestacional. Convém perder peso», aconselha o médico obstetra. Já na hora do parto, as complicações podem ser mais frequentes nos casos em que se regista uma primeira gravidez aos 40 anos. «Uma coisa é acompanhar uma grávida entre os 45 e os 50 anos, que já teve filhos de partos normais e em que o corpo já está preparado. Outra coisa é uma mulher que nunca teve nenhum parto, uma nulípara. O parto é mais difícil e envolve mais riscos. Com o tempo, o músculo uterino enrijece e dificulta o parto normal, aumentando a probabilidade de um parto instrumentado (com recurso a forceps ou ventosas) ou cesariana», refere o especialista.

Riscos para o bebé da gravidez aos 40

Este é um dos tópicos que mais preocupa as grávidas com mais de 40 anos pois «têm receio de terem bebés com malformações, como elas dizem», conta Jorge Lima. Mas, na verdade, «a taxa de malformações mantém-se igual, o que aumenta é o risco de cromossomopatias, nomeadamente a trissomia 21, devido à idade do óvulo», refere o especialista explicando: «Quando um óvulo mais envelhecido se junta a um espermatozoide para formar o embrião, a probabilidade de haver alterações cromossómicas, como a não disjunção do cromossoma 21, é maior». Felizmente, «hoje em dia, os ecógrafos, as imagens e as técnicas são melhores, há um apoio tecnológico que não havia no passado e através de uma boa ecografia é possível fazer o diagnostico das alterações», assegura Jorge Lima.

Maior recurso à procriação medicamente assistida

A partir dos 40 anos, o recurso a técnicas de procriação medicamente assistida (PMA) pode ser a solução para contornar problemas de fertilidade e concretizar o sonho de ser mãe. Estas são gravidezes «mais especiais porque foram difíceis de conseguir, logo a mãe tem uma carga emocional diferente. Tudo tem de correr bem, há uma pressão maior para a mulher e para os médicos», conta Jorge Lima, que nestes casos sublinha as «dificuldades de crescimento do bebé, por serem técnicas não naturais. Estes embriões têm mais problemas de nutrição da placenta e o que sabemos é que gravidezes resultantes de PMA têm mais complicações fetais». Ainda assim, segundo o médico obstetra, «quando é feito o acompanhamento de uma unidade multidisciplinar e uma vigilância mais apertada, de uma forma geral, as coisas correm bem».


Será que tenho uma gravidez de risco?

Segundo o médico obstetra Jorge Lima, existem três grupos de critérios que classificam uma grávida de risco. Basta ter um destes critérios para ter uma gravidez de risco.

Sim se…

  • Tem antecedentes obstétricos com mau desfecho, como perdas gestacionais (abortos espontâneos), pré-eclampsia ou hemorragia pós-parto grave.
  • Tem 38-40 anos ou mais, excesso de peso ou peso muito baixo, ou sofre de hipertensão, doença autoimune, doença oncológica, lúpus, artrite reumatoide, diabetes, doença inflamatória do intestino, hipotiroidismo, doença de Crohn, patologia cardíaca ou vascular, antecedentes de trombose ou patologia médico-cirúrgica.
  • No decurso da gravidez surge uma complicação, como ameaça de parto pré-termo (prematuro), malformações do bebé, pré-eclampsia ou diabetes gestacional.
Última revisão: Outubro 2019

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