Sexo anal: sim ou não?

Sexo anal: sim ou não?

Ainda que seja uma prática cada vez mais presente entre os casais heterossexuais, o sexo anal é ainda um tema tabu para muitos. Assim, com o objetivo de partilhar mais informação sobre este tema, falámos com dois especialistas que ajudam a esclarecer dúvidas e a desconstruir mitos.

  • PorBárbara BettencourtJornalista

  • ColaboraçãoEduardo Xavier
    Médico proctologistaVânia Beliz
    Sexóloga

De acordo com o mais recente National Survey of Sexual Attitudes and Lifestyles (NATSAL), um inquérito realizado no Reino Unido que procura analisar os comportamentos sexuais, a prática de sexo anal entre os 16 e os 24 anos de idade aumentou de 12,5 para 28,5 por cento nas últimas décadas. Já nos Estados Unidos da América, entre 30 e 40 por cento dos homens e mulheres afirma ter tido essa experiência. Prazer, curiosidade, querer agradar ao parceiro ou sentir-se coagida a fazê-lo são algumas das razões apontadas pelas mulheres. «O sexo anal faz parte de muitas fantasias sexuais por ser durante muito tempo visto como proibido. Essa componente de quebra de tabu pode estimular o prazer tanto no homem como na mulher», afirma a sexóloga Vânia Beliz.

Vergonha e desconfiança

Apesar disso, «não é incomum haver mulheres que referem sentir-se pressionadas pelos parceiros», diz a especialista, mas, ainda assim, «normalmente, esse constrangimento termina quando sugiro que ambos podem estimular-se. Os homens têm muita vergonha de serem estimulados uma vez que ainda se atribui a estimulação anal nos homens a práticas homossexuais, algo completamente errado», adianta a sexóloga. Portanto, assegurar que não há dor deve ser uma das primeiras preocupações para ultrapassar a referida insegurança. Porém, deve salientar-se que «o sexo anal poderá ser doloroso para ambos, e a sua boa prática vai depender de uma boa comunicação e confiança, pois, por exemplo, se não houver relaxamento, pode ser muito desconfortável. Além disso, como falamos de uma zona não lubrificada, é fundamental recorrer sempre a um bom produto que o proporcione», aconselha.

Excitações e constrangimentos

A componente de transgressão associada a uma prática ainda tabu é um dos fatores que pode contribuir para tornar o sexo anal interessante para alguns casais heterossexuais, refere ainda Vânia Beliz. Mas, numa perspetiva de uma relação homossexual, «os homens, pela proximidade da próstata, têm mais possibilidade de sentir prazer quando são os recetores do sexo anal. Quando estão do lado ativo, também retiram prazer pelo facto de o ânus ser uma zona pouco húmida e muito apertada, devido à força da musculatura anal. Outro fator bastante excitante para os homens é a componente visual que para eles tende a ser especialmente importante. Mas, para os que ejaculam rápido, essa excitação adicional pode constituir um problema». Já na esfera da heterossexualidade, «apesar de não haver estimulação direta do clitóris, muitas mulheres também dizem sentir prazer com esta prática», afirma Vânia Beliz. No que toca aos constrangimentos e inibições motivadas pelo contacto com o ânus, a sexóloga refere a possibilidade de «fazer uma limpeza prévia do reto para evitar dejetos, assim como usar preservativos com aromas para evitar algum desconforto associado ao cheiro. O banho pode ser um lugar bom para experimentar o sexo anal por ser um espaço mais higiénico e por automaticamente ser possível lavar-se e haver menos constrangimento associado a isso», sugere.

Perante «qualquer situação de dor ou hemorragia persistente, deverá consultar um médico proctologista já que «a avaliação de situações de traumatismo deve ser feita caso a caso», sublinha Eduardo Xavier

Sexo anal faz mal à saúde?

Há algumas condições médicas que podem agravar-se com a prática de sexo anal. É o caso das hemorroidas, um problema em que as veias ao redor e dentro do ânus se inflamam ou dilatam. Ainda assim «a doença hemorroidária crónica não está diretamente relacionada com a prática de sexo anal, podendo, no entanto, complicar-se em indivíduos com esta doença e que praticam sexo anal», esclarece o médico proctologista Eduardo Xavier, não aconselhando a sua prática. «O aparecimento de complicações agudas relacionadas com o sexo anal tem alguma frequência, principalmente «quando a penetração é mais traumática», adianta o especialista, «podendo ser observadas crises hemorroidárias assim como ferimentos a que se dá o nome de fissuras. Assim, as fissuras anais agudas, geralmente superficiais são facilmente tratadas, mas se profundas ou crónicas podem constituir um desafio no que respeita à sua resolução», alerta. Por fim, a incontinência anal, parcial ou total, pode ser outra consequência mais extrema da prática continuada de sexo anal, «devendo-se à rutura das fibras musculares dos esfíncteres anais», afirma. Esta situação é geralmente «de difícil resolução apesar dos meios hoje existentes para o seu tratamento», explica o especialista.

Preservativo como “escudo”

Como já referido, podendo ser uma relação com maior potencial de causar ferimentos, devido à ausência de lubrificação da zona, o sexo anal não protegido é ainda uma atividade sexual de risco elevado, salienta o médico proctologista Eduardo Xavier, adiantando que «todas as doenças sexualmente transmissíveis podem ser contraídas durante a prática de sexo anal não protegido». Tal pode ser comprovado por uma meta-análise publicada no American Journal of Reproductive Immunology, em que se refere inclusivamente que a probabilidade de transmissão do HIV durante uma relação de sexo anal recetiva sem contracetivo é 18 vezes maior, comparativamente a uma relação sexual vaginal sem preservativo, sendo, por isso, aconselhada sempre a utilização do referido método contracetivo, já que funciona como uma forma de proteção. Também por isso, todo o cuidado é bem-vindo.

30% dos homens e das mulheres refere já ter praticado sexo anal. A percentagem tem vindo a aumentar nas últimas décadas

Sexo anal: existem benefícios?

Fala-se muito dos possíveis inconvenientes, mas, além da proteção contra uma gravidez não desejada, haverá vantagens na prática do sexo anal? Os especialistas dizem que sim. «Numa relação homossexual, a estimulação prostática pode promover a ereção e a própria ejaculação – embora também existam outras formas de efetuar essa estimulação», refere o médico proctologista Eduardo Xavier. No plano de uma relação heterossexual, e na perspetiva de um potencial benefício, a sexóloga Vânia Beliz, refere que alguns casais que acompanha «mantêm relações anais devido a uma disfunção sexual feminina que é o vaginismo. E ainda que, claro, o ideal seja tratar as disfunções, o hábito de fazerem sexo anal pode transformar-se em prazer», revela.


Sexo anal: prazer de forma segura

Vânia Beliz, sexóloga, explica como fazer sexo anal sem comprometer a saúde.

  • Preliminares
    «Deve começar-se com estimulação dos dedos e depois usar um lubrificante. Só depois de sentir o ânus relaxado é que o pénis deve penetrar para o esfíncter não contrair.»
  • Escolha bem o lubrificante
    «Existem soluções à base de silicone que podem ser mais eficazes, mas a maior parte não pode ser aplicada com um preservativo devido ao látex, sendo aconselhado usar um bom lubrificante à base de água. Além disso, nunca devem ser usados lubrificantes anestesiantes que podem comprometer a sensibilidade, aumentando a probabilidade de ocorrerem lesões graves».
  • Use sempre preservativo
    «Por se tratar de uma região com resíduos do ânus e mais suscetível a microfissuras, poder haver maior vulnerabilidade a doenças sexualmente transmissíveis. Quanto ao tipo de preservativo a usar, opte por um normal, evitando as gamas finas. Por outro lado, um retardante (possui uma substância que retira sensibilidade para que a ereção dure mais tempo) pode ajudar uma vez que a força do esfíncter anal pode precipitar a ejaculação.»
  • Melhor posição
    Num casal heterossexual, será a que permita que a mulher controle a intensidade da penetração.»

Última revisão: Maio 2023

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