O que sabe sobre disfunção erétil?

As causas para a disfunção erétil e como atuar

Não depende apenas da idade, embora seja mais comum em homens mais velhos. Conheça as principais causas da disfunção erétil.

  • PorCarlos Eugénio AugustoJornalista

A disfunção erétil é um problema que, segundo Nuno Monteiro Pereira, médico urologista, especialista em andrologia, atinge «cerca de 12 por cento dos homens portugueses, sendo a faixa etária mais afetada, e simultaneamente o maior grupo de risco, entre os 40 e os 80 anos». Em entrevista à Revista Prevenir, o especialista traça um perfil desta incapacidade, indica as principais causas, quebra tabus e deixa uma boa notícia: «Com intervenção terapêutica adequada, a disfunção erétil tem cura».

Disfunção erétil: das causas às soluções

O que é exatamente a disfunção erétil?

Primeiro, convém esclarecer que não se trata de uma doença em si mesma, mas sim um sintoma de doenças. Depois, só deverá ser encarada como um problema se persistir mais de seis meses. Manifesta-se através da dificuldade em obter e/ou em manter a ereção numa relação sexual. Num âmbito mais alargado, a disfunção erétil também se manifesta além da questão sexual, pois os homens também podem deixar de ter ereções espontâneas, como as matinais, e ter dificuldades na masturbação.

O desejo pode ser também afetado?

O desejo sexual, ou a falta dele, não está diretamente relacionado com esta disfunção. Ainda assim, é óbvio que sem desejo as coisas não funcionarão bem. Um homem com disfunção erétil pode ter orgasmo e ejaculação normais, e, geralmente, não tem falta de desejo.

É verdade que a maioria dos casos resulta de causas psicológicas?

Não. Convém combater esse mito. Essa situação representa apenas 20 a 25 por cento dos casos. A maior parte das causas é física. O que acontece é que as questões psicológicas, além de poderem ser a causa em si mesma, surgem por arrasto, pois uma causa orgânica afeta psicologicamente o homem, gerando insegurança.

Quais as principais causas físicas?

A mais frequente é a insuficiência arterial. Ou seja, a incapacidade de o sangue chegar ao pénis em quantidades suficientes para o preencher. Também podem existir problemas relacionados com o mecanismo de oclusão das veias. São duas questões que se relacionam com o ato da ereção. Se, por um lado, as artérias abrem para permitir que o sangue chegue ao pénis, é a ação de encerramento das veias que o impede de sair. Existem ainda as causas neurológicas, por exemplo, na sequência de AVC ou derrame cerebral. Também um traumatismo vertebral ou uma hérnia discal, tal como uma lesão que afete os nervos que se dirigem para o pénis, são causas neurológicas de disfunção erétil.

A medicação também provocar esta disfunção?

Sem dúvida. Existe um estudo feito em Portugal que prova a existência de cerca de 200 fármacos que, em maior ou menor grau, contribuem para a disfunção erétil. Os antidepressivos são um exemplo, pois podem perturbar a condução elétrica dos nervos para o pénis.

«A terapia psicológica cognitivo-comportamental, por exemplo, ajuda a enfrentar os medos que bloqueiam os mecanismos de excitação, e pode ser tão eficaz como os medicamentos»

Em que idade é mais frequente?

Nos homens mais velhos, não sendo a idade, per si, um fator de risco. São muitos os homens maiores de 70 ou 80 anos que não têm quaisquer problemas. O que tem uma relação direta com a disfunção erétil são as doenças que acompanham a idade, como a diabetes ou a hipertensão, e medicamentos associados. As cirurgias realizadas à próstata, à bexiga e ao reto também podem interferir.

Qual a prevalência desta disfunção em Portugal?

Um estudo que coordenei revela que, a par de Espanha, Itália ou países do Sul da Europa, Portugal tem uma das mais baixas taxas de disfunção erétil, sendo que a percentagem dos homens que precisa de tratamento ronda os 12 por cento (que corresponde a cerca de 400 mil casos), sobretudo numa faixa etária entre os 40 e os 80 anos. Isso está claramente relacionado com a dieta mediterrânica, mais saudável para as artérias, e com os graus culturais relacionados com a sexualidade.

Quando se justifica ir ao médico?

É muito subjetivo. Alguns homens vão logo no primeiro insucesso, devido ao pânico que só a ideia lhes causa. O que vai fomentar a pressão psicológica e o medo de falhar. Outros não encaram a disfunção erétil como um problema. Segundo o estudo já referido, apenas entre oito e dez por cento procuram ajuda. As razões para essa ausência podem ser a vergonha, não ter companheira ou ambições nesse aspeto, ou o preço da consulta.


Se o homem quiser ir ao médico, que especialista deve procurar?

Por princípio, o médico de família. É um elemento essencial para tratar de problemas de índole sexual, pois conhece bem o doente, assim como o seu ambiente familiar e contexto social, estando capacitado para fazer uma avaliação e tratar da maior parte dos casos, ou direcionar o doente para um andrologista ou psicólogo.

É possível superar a disfunção erétil sem fármacos?

Sim. A terapia psicológica cognitivo-comportamental, por exemplo, ajuda a enfrentar os medos que bloqueiam os mecanismos de excitação, e pode ser tão eficaz como os medicamentos. É um processo gradual e francamente bem sucedido, principalmente se realizado por psicólogos especialistas em terapia sexual. Normalmente, dura quatro a oito semanas. Além de ser uma intervenção decisiva em causas psicológicas, pode também ser um complemento para os problemas de causas físicas.

«Em algumas situações limite, chega-se à conclusão que, afinal, a disfunção é conjugal»

Qual o papel da mulher na superação da disfunção?

É decisivo. Pode ajudar o homem a recuperar a confiança e afastar o fantasma de culpa. Por vezes, em algumas situações limite, chega-se à conclusão que, afinal, a disfunção é conjugal. Isso acontece porque os casais entram numa espiral de autonegação relacional. Às vezes, a separação pode ser a melhor terapêutica.

Em consultório, o que se recomenda ao casal?

Não existem grandes indicações nesse sentido. A norma manda que, em caso de uma disfunção erétil de origem física, se avance para o tratamento, o qual varia consoante o grau da disfunção, existindo três linhas de intervenção. Se a razão for psicológica, deve tentar-se uma terapia sexual, de preferência em conjunto.

Existem soluções naturais eficazes?

Sim, mas devemos acautelar o seu uso. O pau-de-cabinda, por exemplo, é um dos mais vulgares. Falamos da casca de uma árvore que quimicamente, é constituída por uma molécula que se chama ioimbina e que realmente interage com a vitalidade peniana. O problema dos produtos naturais é que não se sabe bem quais os efeitos secundários ou a quantidade que possa ser ingerida sem riscos. O pau-de-cabinda causa hipertensão, por vezes grave. Já foram registadas mortes de doentes cardíacos por ingestão desta planta, em formato de comprimido ou infusão. É urgente combater o mito de que por ser de origem natural é inofensivo para a saúde.

Última revisão: Fevereiro 2018

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