A estatística comprova-o: o avião é o meio mais rápido, seguro e utilizado para percorrer longas distâncias e, de acordo com dados recentes da Associação Internacional de Transportes Aéreos, todos os dias viajam 8,6 milhões de pessoas. Apesar disso, 40 por cento dos passageiros tem medo. Andreia Rasga, 37 anos, integra esse largo grupo. «Sempre tive pavor de andar de avião», conta à Revista Prevenir.
Não deixe para a última hora a organização da sua mala, pois isso será um fator de stresse acrescido que não necessita ter
«Tinha 14 anos quando viajei pela primeira vez e rapidamente interiorizei esse pânico. Na adolescência, viajava com alguma regularidade, mas esse “hábito” não me tranquilizou, pois a sensação de descontrolo e susto é constante e crescente. Nunca achei divertido ou normal estar suspensa no ar, dentro de uma máquina, mas a ansiedade que agora sinto é incomparavelmente superior. Recentemente, num voo entre Barcelona e Lisboa, depois de alguma turbulência, atingi um estado de pânico tal que quando aterrei duvidei se voltaria a entrar num avião.»
Como nasce o medo de voar?
As causas variam, mas, segundo Catarina Cunha, psicóloga clínica e psicoterapeuta na área cognitivo-comportamental e colaboradora do centro Voar Sem Medo, existem alguns fatores comuns ao medo de andar de avião como «ser uma situação contranatura; expor-nos a medos inatos (das alturas, dos ruídos fortes e de morrer); existir falta de informação sobre a segurança dos aviões; as notícias que circulam nos media sobre acidentes».
Chegar com tempo e fazer o check-in com tranquilidade transmite serenidade
Estas condicionantes proporcionam vários tipos de ansiedade e a especialista aponta os perfis mais comuns de quem tem medo de voar: «Existe o receio de falhas técnicas, os que temem principalmente a sua reação em caso de perigo e quem agregue estas duas componentes. Alguns psicólogos falam ainda do fator precipitante, isto é, quem viajava tranquilamente e depois ganhou medo. Exemplo disso são pessoas que apanharam um susto a bordo, acontecimentos como o 11 de setembro ou um incidente aéreo, que acabam por condicionar a relação com o avião», esclarece a especialista.
Controlar a ansiedade
Catarina Cunha afirma que existem soluções para reduzir a ansiedade de voo, mas que «dependem da intensidade do medo e de características da personalidade do indivíduo» e que essa noção resulta de uma prévia avaliação psicológica. «Se estivermos perante um caso de medo ligeiro ou moderado, um minicurso como o Check-In Voar Sem Medo – um mini-curso de quatro horas, apresentado recentemente, pela primeira vez, e que é uma sessão de psicoeducação não terapêutica – pode ser uma boa solução e ajudar a desmistificar informação errónea sobre a aviação, permitindo viajar de forma mais tranquila.
«Em casos de quadros mais graves de fobia, é essencial uma avaliação psicológica pormenorizada»
É o que relata Andreia Rasga, que assistiu a este primeiro minicurso: «Luto contra a ideia que um dia possa deixar de ir a um qualquer lugar por ter de ir de avião, mas a ansiedade continua a abalar-me. O medo que tenho é proporcional ao fascínio pelo assunto, e espero replicar o que aprendi na próxima viagem. Uma coisa ficou clara: saber que posso confiar na tripulação deixa-me mais tranquila.» «Em casos de quadros mais graves de fobia, é essencial uma avaliação psicológica pormenorizada, que permita a realização de um tratamento médico e/ou psicológico adequado, que a Voar Sem Medo também prevê através dos seus cursos terapêuticos», descreve a psicóloga clínica.

A especialista ensina: como evitar a ansiedade de voar
Aprenda com Catarina Cunha, psicóloga clínica e psicoterapeuta na área cognitivo-comportamental, a tornar a sua viagem mais tranquila.
Antes de viajar
Faça assim:
- Organize a mala com tempo Não deixe para a última hora a organização da sua mala, pois isso será um fator de stresse acrescido que não necessita ter.
- Vá para o aeroporto com antecedência Chegar com tempo e fazer o check-in com tranquilidade transmite serenidade. Se conseguir, dê um passeio pela zona de lojas para descontrair.
- Tente dormir bem na noite anterior O sono é um momento reparador, restabelece o organismo física e psiquicamente. Se tem insónias, peça ajuda ao seu médico para descansar devidamente.
- Pratique exercício físico Ajuda a relaxar, reduz ansiedade e a tensão muscular pois permite ao organismo produzir mais serotonina, um neurotransmissor responsável por sensações de prazer e bem-estar, sendo um antidepressivo natural.
- Beba muita água A ansiedade desidrata, pois provoca uma “descarga” de adrenalina que acelera o coração e a respiração, fazendo o organismo gastar mais água. Ao beber mais água, liberta mais rapidamente o excesso de adrenalina e equilibra os níveis de cortisol.
Evite:
- Café ou bebidas energéticas Quando estamos ansiosos, o nosso organismo produz adrenalina em excesso. A cafeína e os estimulantes vão contribuir para que esse excesso seja maior, gerando ainda mais desconforto e ansiedade.
- Ver previsões meteorológicas A informação que temos acesso nessa área não permite saber como vai correr a viagem. Confie em quem sabe! Os pilotos sabem ler cartas meteorológicas muito complexas e têm regras específicas a cumprir para assegurar a segurança da viagem.
- Fazer uma direta Não dormir é um fator de stresse adicional que proporciona estados de maior sensibilidade e irritabilidade do sistema nervoso. Pensar que se fizer uma direta vai conseguir passar o voo a dormir é um erro, pois vai aguçar o sistema de alerta permanente.
- Programas sobre catástrofes Principalmente relacionados com aviões geram, compreensivelmente, mais ansiedade e podem potenciar crenças erróneas sobre a aviação.
Durante o voo
Faça assim:
- Use roupa confortável Sentir-se desconfortável pode ser mais um catalisador de tensão e ansiedade.
- Fale com a tripulação Ao embarcar, explique à tripulação a sua situação. Assim, vão estar ainda mais atentos, sendo que a sua principal função é garantir a segurança do passageiro e o seu conforto.
- Tente distrair-se Centrar a atenção em algo que lhe dê prazer afasta cenários de stresse. Falar com alguém, ouvir música ou fazer palavras cruzadas ajudam a reduzir o “tempo de antena” da ansiedade.
Evite:
- Posturas tensas Evitar estar de olhos fechados, contraída, sem se mexer. Além de retirar o contato com a realidade, deixa-a “à mercê” dos pensamentos ansiosos. Esta postura evita que o oxigénio em excesso nos músculos seja despendido, contribuindo para uma tensão muscular exagerada.
- Tentar interpretar os sons a bordo É uma tentativa de controlo desajustada e aumenta o stresse. Nem todos os ruídos que desconhecemos são sinal de perigo. Até a interação com a atmosfera exterior pode originar sons diferentes.
- Ingerir bebidas alcoólicas Além de excitar o sistema nervoso, devido à pressão atmosférica, duplica o seu efeito durante o voo. A ideia que o álcool relaxa é completamente falsa.
- Não comer ou não ir ao WC Estar malnutrida, desidratada ou evitar ir à casa de banho gera desconforto desnecessário. Pense que a realização das necessidades básicas pode servir de confirmação que está em segurança.