Filipa Veiga: «O yoga mudou a minha vida»

Filipa Veiga; O yoga mudou a minha vida

Vive em Bali com a família, cresceu em Macau, foi advogada e jornalista em Portugal mas foi na Índia que descobriu o sentido da vida através do yoga. Filipa Veiga, conta a sua história no livro Yoga-me e revela as viagens que despertaram a espiritualidade e mudaram a sua vida.

  • PorCarlos Eugénio AugustoJornalista

  • Adaptado do livroYoga-me: A Arte de Abrir o CoraçãoFilipa Veiga (Nascente)
  • FotografiaJustyna Jaworska

A história de Filipa Veiga é inspiradora. «Talvez tenha sido sorte, a maior bênção que se obtém. Os hindus chamam-lhe karma. Tinha 4 anos quando a minha família programou uma estadia de um ano em Macau, mas acabou por ser uma etapa de quase 20. Macau, é um sítio peculiar, entre dois mundos, China e Portugal. A minha infância e adolescência estiveram rodeadas de costumes, idiomas, aromas e sabores variados. Cresci num estilo de vida que acabaria por ditar quem sou hoje, pois a espiritualidade asiática é profunda, mágica. Nas casas e nas lojas, havia símbolos de proteção e tudo era construído a pensar no feng shui. Apesar de Macau ser uma cidade, não tínhamos a sensação de ter uma vida urbana. Brincávamos na rua, as tardes eram passadas a correr nos jardins, os mercados estavam cheios de verduras e animais vivos, andávamos a pé de um lado para o outro. Era uma vida consentânea com a natureza», conta Filipa Veiga à revista Prevenir.

Dança, uma experiência espiritual para Filipa Veiga

«Iniciei-me na dança com uma professora chinesa que ensinava a técnica de uma forma tradicional. Era a única ocidental da classe e dançar era a minha paixão. Mais tarde, uma professora do Conservatório Nacional que foi viver para Macau deu-nos um treino intensivo, explicou-nos o trabalho por detrás do palco e mostrou-nos bonitos fatos de ballet. Foi um delírio!

«Ser bailarina fazia-nos quebrar barreiras, mostrava-nos como o nosso corpo estava fechado e como a nossa postura era o reflexo da alma»

Ser bailarina fazia-nos quebrar barreiras, mostrava-nos como o nosso corpo estava fechado e como a nossa postura era o reflexo da alma. Acho que foram as primeiras lições de yoga que tive. A dança, com aquela entrega, fé, disciplina e método, foi uma experiência espiritual. As sextas-feiras eram especialmente intensas. Depois das aulas, lá íamos para cinco horas de dança e convívio. Sentia-me viva e assim cresci. Tinha 17 anos, estava a acabar o liceu e aproximava-se a altura de terminar um ciclo e começar um novo», recorda Filipa Veiga.

Regresso ao ponto de partida

«Voltei a Portugal para estudar Direito na Faculdade de Direito de Lisboa. Um espaço tradicional, cinzento, cheio de formalismos. Foi, na realidade, um choque para mim. Vestia-me de maneira diferente, não usava a mesma linguagem. Chamavam-me hippie. Na minha cabeça, outro cenário, bem diferente, começava a delinear-se. Como escape, encontrei no bairro da Lapa o Pró-Dança, onde passava três tardes por semana. Assim passei alguns anos a dançar, a libertar-me, suar e rir. Acabei por gostar do curso e até conquistei uma média razoável. Estagiei no mundo do Direito durante mais dois anos, mas descobri que os tribunais nunca seriam o meu mundo», conta Filipa Veiga.

A comunicação

«O jornalismo passou a ser o meu foco e entrei no Cenjor, onde fiz o Curso de Formação para Jornalistas, que me levaria a entrar na SIC. Aprendi a trabalhar, fiz reportagens, conheci muitas pessoas, realidades distintas. No meio deste percurso profissional, o yoga despertava em mim e a dança já não me satisfazia. Procurei, perguntei, experimentei. Segui o que o coração me dizia para fazer: encontrar-me com o yoga. Consegui-o através da minha irmã Leonor, que me disse ter descoberto uma escola. Foi amor à primeira vista. A sua prática intensa tinha algo que se assemelhava à dança. Percebi que o Ashtanga Yoga era para mim e adaptei a minha vida a esta nova paixão. Comecei um horário novo, de tarde, na SIC Notícias: entrava às 17 horas e saía à uma da manhã. Mudei-me para a Charneca e ia para a praia antes do trabalho e tinha aulas de yoga aos fins de semana. Vivia momentos fantásticos», conta Filipa Veiga.

Filipa Veiga à procura de novos estilos

«Quando estava à espera da minha primeira filha, fui impedida pelo médico de praticar yoga porque comecei com contrações no quinto mês. O susto foi grande e durante um mês tive de estar deitada. Questionei se o Ashtanga Yoga seria adequado para mim e decidi descobrir outras formas de yoga. Nas viagens que entretanto fiz a Bali, experimentei Yin Yoga, Vinyasa Flow, Power Yoga e Hatha Yoga. Ainda assim, aos poucos, voltei ao Ashtanga e passei a praticar um bocadinho todos os dias, reconquistando a prática. O tempo foi passando, tive outra filha e passei a trabalhar a tempo parcial. Foi a decisão certa para continuar a trabalhar e ter tempo para as minhas pequeninas. Lentamente, criou- se espaço para começar a dar aulas de yoga, com amigas, em casa, em ambientes recolhidos. Tudo fluía e o yoga mudou a minha vida», recorda Filipa Veiga.

Ubud, a Meca do yoga

«A vida dá muitas voltas e o facto de o meu marido ter uma empresa de arqueologia subaquática e fazer recorrentes viagens para a Ásia levou-nos para a Indonésia. Saímos na nossa zona de conforto e regressei a Bali, desta vez com a família. Voltava a viver num sítio com muita espiritualidade e o yoga passou o ser o meu estilo de vida. Escolhemos a pequena vila de Ubud para morar. Incrustada na selva tropical, é um centro espiritual e a floresta mais luxuriante que conheço.

«Foi na Índia que entendi por que razão o yoga é vital e essencial. As cores naturais e os cheiros intensos nas ruas, o barulho nas estradas, o caos a funcionar de forma tão harmoniosa»

Aí existem gerações de xamãs e curandeiros, e uma enorme comunidade yogi. Espantava-me com tantas pessoas de tapete às costas. Afinal não era a única! Há centros de yoga com aulas desde de manhã até ao final da tarde, onde se podem experimentar os vários estilos ou aprofundar-se o próprio. A essência é unir a comunidade, tal como proclama o yoga, e torná-la mais forte. Criar uma vibração espiritual, um mundo perfeito em que todos somos um», conta Filipa Veiga.

Índia, Terra Sagrada

Filipa Veiga: «O yoga mudou a minha vida»

«Por mais que se viaje, alguns locais são mais especiais que outros. Na Índia, sinto-me em casa. Há algo naquela terra que me transporta para uma felicidade interior que não tem explicação. O coração sente-se conectado, como se ali tivesse espaço para crescer. Foi na Índia que entendi por que razão o yoga é vital e essencial. As cores naturais e os cheiros intensos nas ruas, o barulho nas estradas, o caos a funcionar de forma tão harmoniosa, as mulheres em saris, os edifícios antigos parados no tempo, os templos vivos e abençoados e uma imprevisibilidade constante. Naturalmente, a experiência mais forte foi fazer yoga com o meu professor. Foi especial estar lado a lado com praticantes avançados, sob o olhar perfecionista de Sharath Jois, a sentir a tensão e o suor do shala, o som da respiração intensa e os corpos a moverem-se numa prática que tem tanto de forte quanto de suave. É um retornar às origens, estar em sintonia com o nosso divino e, por isso, soa tão bem dizer “Namaste“.»


Iniciação ao yoga: O passo a passo de Filipa Veiga

As sugestões de Filipa Veiga para quem quer iniciar esta prática.

  • Levantar cedo Idealmente, o yoga pratica-se de manhã e em jejum. Para relaxar, tome um duche quente após acordar.
  • Invista no seu próprio tapete Não só porque acumula a sua energia naquele espaço sagrado, mas também por uma questão de higiene. Compre um tapete de material ecologicamente sustentável e que dure.
  • Use vestuário confortável Opte por roupas com que possa transpirar, nem demasiado largas, nem demasiado justas. O algodão é o mais aconselhável, de preferência orgânico.
  • Toalha Tenha uma por perto, pois pode ser útil para limpar a transpiração do rosto.
  • Faça do yoga um ritual diário Trate a sua prática com carinho e torne-a diária. Acender uma vela ou incenso pode ajudar a tornar o espaço sagrado. Antes de começar a prática, respire e dedique-a a si própria é à viagem interior a que se propõe.
  • Procure um professor Quando sentir necessidade de um professor, procure um que tenha uma prática regular. Quem não o faz não deve ensinar, pois falta-lhe o conhecimento empírico da transformação no próprio corpo.

Fonte: adaptado a partir do livro Yoga-me: A Arte de Abrir o Coração (Nascente), de Filipa Veiga


Aula de yoga com Filipa Veiga

Ponha em prática as posturas de yoga sugeridas por Filipa Veiga, no seu livro Yoga-me: A Arte de Abrir o Coração (Nascente). Fotografias de Mariana Sabido.

Postura do buraco na agulha
Sucirandhrasana

Filipa Veiga: Postura do buraco na agulha Sucirandhrasana

Trabalha mais de 20 músculos que cruzam as ancas, permite uma maior amplitude de movimentos e ajuda a diminuir eventuais dores nas costas. Segundo a tradição yogi, a abertura da zona pélvica cria uma mudança energética que leva a uma sensação de libertação.

Postura do barco
Navasana

Filipa Veiga: Postura do barco Navasana

Os abdominais são a zona por excelência que temos de trabalhar para manter um corpo bonito. Esta é a postura para a barriga por excelência, para o core, como se diz em inglês, que significa o centro.

Postura da árvore
Vrkasana

Filipa Veiga: Postura da árvore Vrkasana

Fortalece os músculos, ajuda na coordenação corporal e melhora, por exemplo, a forma de caminhar. Esta postura traz equilíbrio, promovendo a serenidade, a concentração e a quietude.

Última revisão: Janeiro 2017

Mais sobre:

Testemunhos

artigos recomendados

Previous Next
Close
Test Caption
Test Description goes like this