A história de Filipa Veiga é inspiradora. «Talvez tenha sido sorte, a maior bênção que se obtém. Os hindus chamam-lhe karma. Tinha 4 anos quando a minha família programou uma estadia de um ano em Macau, mas acabou por ser uma etapa de quase 20. Macau, é um sítio peculiar, entre dois mundos, China e Portugal. A minha infância e adolescência estiveram rodeadas de costumes, idiomas, aromas e sabores variados. Cresci num estilo de vida que acabaria por ditar quem sou hoje, pois a espiritualidade asiática é profunda, mágica. Nas casas e nas lojas, havia símbolos de proteção e tudo era construído a pensar no feng shui. Apesar de Macau ser uma cidade, não tínhamos a sensação de ter uma vida urbana. Brincávamos na rua, as tardes eram passadas a correr nos jardins, os mercados estavam cheios de verduras e animais vivos, andávamos a pé de um lado para o outro. Era uma vida consentânea com a natureza», conta Filipa Veiga à revista Prevenir.
Dança, uma experiência espiritual para Filipa Veiga
«Iniciei-me na dança com uma professora chinesa que ensinava a técnica de uma forma tradicional. Era a única ocidental da classe e dançar era a minha paixão. Mais tarde, uma professora do Conservatório Nacional que foi viver para Macau deu-nos um treino intensivo, explicou-nos o trabalho por detrás do palco e mostrou-nos bonitos fatos de ballet. Foi um delírio!
«Ser bailarina fazia-nos quebrar barreiras, mostrava-nos como o nosso corpo estava fechado e como a nossa postura era o reflexo da alma»
Ser bailarina fazia-nos quebrar barreiras, mostrava-nos como o nosso corpo estava fechado e como a nossa postura era o reflexo da alma. Acho que foram as primeiras lições de yoga que tive. A dança, com aquela entrega, fé, disciplina e método, foi uma experiência espiritual. As sextas-feiras eram especialmente intensas. Depois das aulas, lá íamos para cinco horas de dança e convívio. Sentia-me viva e assim cresci. Tinha 17 anos, estava a acabar o liceu e aproximava-se a altura de terminar um ciclo e começar um novo», recorda Filipa Veiga.
Regresso ao ponto de partida
«Voltei a Portugal para estudar Direito na Faculdade de Direito de Lisboa. Um espaço tradicional, cinzento, cheio de formalismos. Foi, na realidade, um choque para mim. Vestia-me de maneira diferente, não usava a mesma linguagem. Chamavam-me hippie. Na minha cabeça, outro cenário, bem diferente, começava a delinear-se. Como escape, encontrei no bairro da Lapa o Pró-Dança, onde passava três tardes por semana. Assim passei alguns anos a dançar, a libertar-me, suar e rir. Acabei por gostar do curso e até conquistei uma média razoável. Estagiei no mundo do Direito durante mais dois anos, mas descobri que os tribunais nunca seriam o meu mundo», conta Filipa Veiga.
A comunicação
«O jornalismo passou a ser o meu foco e entrei no Cenjor, onde fiz o Curso de Formação para Jornalistas, que me levaria a entrar na SIC. Aprendi a trabalhar, fiz reportagens, conheci muitas pessoas, realidades distintas. No meio deste percurso profissional, o yoga despertava em mim e a dança já não me satisfazia. Procurei, perguntei, experimentei. Segui o que o coração me dizia para fazer: encontrar-me com o yoga. Consegui-o através da minha irmã Leonor, que me disse ter descoberto uma escola. Foi amor à primeira vista. A sua prática intensa tinha algo que se assemelhava à dança. Percebi que o Ashtanga Yoga era para mim e adaptei a minha vida a esta nova paixão. Comecei um horário novo, de tarde, na SIC Notícias: entrava às 17 horas e saía à uma da manhã. Mudei-me para a Charneca e ia para a praia antes do trabalho e tinha aulas de yoga aos fins de semana. Vivia momentos fantásticos», conta Filipa Veiga.
Filipa Veiga à procura de novos estilos
«Quando estava à espera da minha primeira filha, fui impedida pelo médico de praticar yoga porque comecei com contrações no quinto mês. O susto foi grande e durante um mês tive de estar deitada. Questionei se o Ashtanga Yoga seria adequado para mim e decidi descobrir outras formas de yoga. Nas viagens que entretanto fiz a Bali, experimentei Yin Yoga, Vinyasa Flow, Power Yoga e Hatha Yoga. Ainda assim, aos poucos, voltei ao Ashtanga e passei a praticar um bocadinho todos os dias, reconquistando a prática. O tempo foi passando, tive outra filha e passei a trabalhar a tempo parcial. Foi a decisão certa para continuar a trabalhar e ter tempo para as minhas pequeninas. Lentamente, criou- se espaço para começar a dar aulas de yoga, com amigas, em casa, em ambientes recolhidos. Tudo fluía e o yoga mudou a minha vida», recorda Filipa Veiga.
Ubud, a Meca do yoga
«A vida dá muitas voltas e o facto de o meu marido ter uma empresa de arqueologia subaquática e fazer recorrentes viagens para a Ásia levou-nos para a Indonésia. Saímos na nossa zona de conforto e regressei a Bali, desta vez com a família. Voltava a viver num sítio com muita espiritualidade e o yoga passou o ser o meu estilo de vida. Escolhemos a pequena vila de Ubud para morar. Incrustada na selva tropical, é um centro espiritual e a floresta mais luxuriante que conheço.
«Foi na Índia que entendi por que razão o yoga é vital e essencial. As cores naturais e os cheiros intensos nas ruas, o barulho nas estradas, o caos a funcionar de forma tão harmoniosa»
Aí existem gerações de xamãs e curandeiros, e uma enorme comunidade yogi. Espantava-me com tantas pessoas de tapete às costas. Afinal não era a única! Há centros de yoga com aulas desde de manhã até ao final da tarde, onde se podem experimentar os vários estilos ou aprofundar-se o próprio. A essência é unir a comunidade, tal como proclama o yoga, e torná-la mais forte. Criar uma vibração espiritual, um mundo perfeito em que todos somos um», conta Filipa Veiga.
Índia, Terra Sagrada
«Por mais que se viaje, alguns locais são mais especiais que outros. Na Índia, sinto-me em casa. Há algo naquela terra que me transporta para uma felicidade interior que não tem explicação. O coração sente-se conectado, como se ali tivesse espaço para crescer. Foi na Índia que entendi por que razão o yoga é vital e essencial. As cores naturais e os cheiros intensos nas ruas, o barulho nas estradas, o caos a funcionar de forma tão harmoniosa, as mulheres em saris, os edifícios antigos parados no tempo, os templos vivos e abençoados e uma imprevisibilidade constante. Naturalmente, a experiência mais forte foi fazer yoga com o meu professor. Foi especial estar lado a lado com praticantes avançados, sob o olhar perfecionista de Sharath Jois, a sentir a tensão e o suor do shala, o som da respiração intensa e os corpos a moverem-se numa prática que tem tanto de forte quanto de suave. É um retornar às origens, estar em sintonia com o nosso divino e, por isso, soa tão bem dizer “Namaste“.»
Iniciação ao yoga: O passo a passo de Filipa Veiga
As sugestões de Filipa Veiga para quem quer iniciar esta prática.
- Levantar cedo Idealmente, o yoga pratica-se de manhã e em jejum. Para relaxar, tome um duche quente após acordar.
- Invista no seu próprio tapete Não só porque acumula a sua energia naquele espaço sagrado, mas também por uma questão de higiene. Compre um tapete de material ecologicamente sustentável e que dure.
- Use vestuário confortável Opte por roupas com que possa transpirar, nem demasiado largas, nem demasiado justas. O algodão é o mais aconselhável, de preferência orgânico.
- Toalha Tenha uma por perto, pois pode ser útil para limpar a transpiração do rosto.
- Faça do yoga um ritual diário Trate a sua prática com carinho e torne-a diária. Acender uma vela ou incenso pode ajudar a tornar o espaço sagrado. Antes de começar a prática, respire e dedique-a a si própria é à viagem interior a que se propõe.
- Procure um professor Quando sentir necessidade de um professor, procure um que tenha uma prática regular. Quem não o faz não deve ensinar, pois falta-lhe o conhecimento empírico da transformação no próprio corpo.
Fonte: adaptado a partir do livro Yoga-me: A Arte de Abrir o Coração (Nascente), de Filipa Veiga
Aula de yoga com Filipa Veiga
Ponha em prática as posturas de yoga sugeridas por Filipa Veiga, no seu livro Yoga-me: A Arte de Abrir o Coração (Nascente). Fotografias de Mariana Sabido.
Postura do buraco na agulha
Sucirandhrasana
Trabalha mais de 20 músculos que cruzam as ancas, permite uma maior amplitude de movimentos e ajuda a diminuir eventuais dores nas costas. Segundo a tradição yogi, a abertura da zona pélvica cria uma mudança energética que leva a uma sensação de libertação.
Postura do barco
Navasana
Os abdominais são a zona por excelência que temos de trabalhar para manter um corpo bonito. Esta é a postura para a barriga por excelência, para o core, como se diz em inglês, que significa o centro.
Postura da árvore
Vrkasana
Fortalece os músculos, ajuda na coordenação corporal e melhora, por exemplo, a forma de caminhar. Esta postura traz equilíbrio, promovendo a serenidade, a concentração e a quietude.