Como reconhecer um manipulador (e como libertar-se dele)

Como reconhecer um manipulador

Se tem alguém na sua vida que está constantemente a pô-lo em causa, a fazê-lo sentir-se culpado ou duvidar de si próprio é possível que esteja a ser vítima de um manipulador.

  • EdiçãoVanda Oliveira

  • PorTeresa MartaMental coach e fundadora da Academia da Coragem

Se receia com frequência ser desvalorizado, posto em causa, humilhado, que duvidem da sua verdade e que não gostem genuinamente de si. Se questiona a sua capacidade de discernimento, não consegue ser assertivo, argumentar, nem lutar por aquilo em que acredita, pode estar a ser vítima de um manipulador (ou de vários). Eles estão em todo o lado, no trabalho, na família, nos relacionamentos amorosos ou entre amigos. O manipulador cria um desequilíbrio de poder e explora a vítima para servir os seus objetivos, de forma consciente e deliberada, desenvolvendo relacionamentos altamente tóxicos e que envolvem mentiras, deturpação dos factos e uso das fragilidades do outro para fazê-lo sentir-se inseguro, para o prender.

Manipulador versus manipulado

A manipulação aprende-se via educação e na inter-relação com os mais velhos, na pequena infância, até à idade adulta, mantendo-se, caso não seja “tratada” até ao final da vida. As pessoas tendencialmente mais manipuladoras são, por vezes, psicologicamente muito frágeis e inseguras, têm uma baixa autoestima, uma autoconfiança sofrível, são emocionalmente carentes. Por vezes, são pessoas que tiveram infâncias com pais abusivos, que conseguiam a adesão através da chantagem emocional. As razões que levam as pessoas a deixar-se manipular são as mesmas. O manipulado sofreu na origem, as mesmas carências. Só que segue estratégias diferentes para resolver o seu problema.

«O manipulador é uma espécie de vampiro emocional»

O que os diferencia

Há um aspeto psicológico fundamental que separa o manipulador e o manipulado: as vítimas dos manipuladores sofrem, geralmente, de ferida de abandono gerada na infância ou na adolescência ao longo dos primeiros relacionamentos. Aceitam ser manipuladas porque isso é, muitas vezes, sinónimo de terem lá alguém para elas. Pelo contrário, o manipulador vira-se contra o outro, exercendo o seu poder de forma abusiva. Assume-se como o que tem razão, como o dono da verdade, como a vítima das circunstâncias, o incompreendido. É narcisista, moralista, nunca assume que está errado e a mentir. É uma espécie de vampiro emocional. A melhor forma de sabermos que estamos a ser manipulados é aprendermos a reconhecer os sinais de manipulação, isto é os comportamentos, as atitudes, as reações, as manhas e o estilo de argumentação do outro. Alguns desses comportamentos poderão parecer completamente inócuos. Mas não são.

O manipulador amigo

Exige que estejam sempre disponíveis para ele, tem pressa para que os amigos tomem decisões, não ajuda a resolver problemas mas diz que está sempre lá. Usa as fragilidades do outro para fazê-lo sentir-se inseguro, é chantagista e vingativo. Nunca aceita ser o responsável por algo que corra mal, muito menos pelo seu comportamento. Se o confrontam, entra no papel de vítima. Faz suposições sobre as intenções ou crenças dos amigos e usa-as como se fossem a pura verdade para se justificar, negando o que a pessoa diz efetivamente.

  • Como nos faz sentir Culpados pela forma como ele se sente. Faz-nos sentir medo de falar para não ofender, ou para não perdemos a razão e entrarmos em conflito. Começamos a sentir falta de confiança nas nossas capacidades de “ser amigo de…” ou de termos relacionamentos positivos/amizades sinceras e duradouras.
  • O que fazer Não dê espaço para alimentar discussões ou argumentos porque é esse o terreno para onde o manipulador quer levá-lo. Escreva tudo o que combinar (por SMS, e-mail). Permita-se não estar sempre online. Não dê explicações nem se justifique. Use a regra do 1%. Pense: e se apenas 1% daquilo que o outro está a dizer sobre mim ou sobre a situação for verdade? Desvalorize argumentos. Se se sentir pressionado, remeta a sua decisão para mais tarde, dizendo que precisa de tempo para pensar melhor ou verificar a sua agenda. Mantenha a sua firmeza e convicção.
  • Não caia no erro de… Usar rodeios e suposições ou assumir algo só para que o manipulador a deixe “em paz” pois ele sabe quando está a ser descartado e retalia. Assuma a sua vontade. Se o manipulador “espernear” diga-lhe simplesmente: “É a tua visão. Quando te acalmares, se quiseres falar, diz”.

O manipulador colega de trabalho

Cria a confusão, muda de planos várias vezes, mas diz que o outro é que acha que houve uma mudança. Coloca a culpa no outro, refugia-se em argumentos que não valida mas assume como corretos. É incapaz de gerar consensos, mas repete em permanência que não quer discutir. Liberta-se das suas responsabilidades conseguindo transferi-las para os outros, chamando-lhes à atenção quando os resultados não são o que esperavam.

  • Como nos faz sentir Inseguros em relação às nossas capacidades, conhecimentos, profissionalismo, competência e até relativamente à forma como nos comportamos, em reuniões, por exemplo. Com isto, acabamos por nos sentir pouco inteligentes, pouco capazes, desprestigiados, anulados e sem capacidade de reação. Perdemos a espontaneidade, sentimo-nos ansiosos, angustiados e sem vontade de dar ideias ou ser proativos.
  • O que fazer É essencial ter evidências de tudo o que fala com um colega ou chefe manipulador. Assuma esse trabalho extra como algo essencial para não cair nos enredos do manipulador, pois já sabe que ele é perito em transformar as situações a seu favor. Terminada uma reunião, por exemplo, envie um e-mail de follow-up, dizendo, “Conforme combinado na reunião de hoje à tarde, sobre o tema X, vamos proceder desta forma: …”. Não deixe nada por sistematizar.
  • Não caia no erro de… Mostrar-se inseguro ou desorganizado, nem de sacrificar-se pelo outro, para ser bem considerado, para que ele “goste de si”. Um dos maiores antídotos para lidar com um manipulador é elevarmos o respeito por nós mesmos.

O manipulador nas relações amorosas

Faz-nos acreditar que estamos a ver e a interpretar o que nos disse ou fez de forma diferente do que realmente aconteceu. Passa para o manipulado a ideia que ele é que está errado, que tem uma interpretação desviada daquilo que aconteceu. No entanto, como se mantêm delicados, corteses e demonstram até preocupação pela sua vítima, não conseguimos sair do ciclo da manipulação. Não conseguimos desconstruir o enredo. Começamos a achar que algo de errado se passa connosco.

  • Como nos faz sentir Baralhados, confusos, inseguros, desvalorizados. Perdemos a autoconfiança e a autoestima e, muitas vezes, chegamos a pensar que estamos a perder a sanidade mental. Nas situações mais graves, a manipulação faz-nos sentir um imenso medo, quer das reações do manipulador, quer de não conseguirmos aguentar ou até de quereremos contar o que se passa mas que ninguém nos dê razão ou crédito, tal é a suavidade do manipulador para os outros.
  • O que fazer A primeira coisa a fazer é reconhecer e assumir que estamos em presença de um manipulador. Em segundo lugar, com esta consciência de que é o outro, e não nós, quem está do lado errado do comportamento, temos de nos desvincular das estratégias do manipulador: temos de conseguir ver-nos do lado de fora do filme, onde o manipulador faz as cenas, mas o realizador somos nós. Confie na sua intuição, naquilo que o seu instinto mais básico lhe diz. Ter alguém em quem confia e com quem possa falar abertamente sobre o que sente também ajuda.
  • Não caia no erro de… Acreditar que o manipulador, “coitado”, até é boa pessoa, quando não tem atitudes manipulatórias. Um manipulador é manipulador sempre. É um jogador nato, um viciado neste comportamento.

Os pais também podem ser manipuladores

O pai (mãe) manipulador é alguém que também já foi manipulado e que cresceu com falta de atenção. Como não confia em si mesmo nem nas suas capacidades para ser um bom educador, embora não o mostre, cria uma espécie de gaiola emocional aos filhos. É exigente, impõe limites excessivos de controlo, organização e educação. Tem uma enorme capacidade de trabalho e faz permanentemente comparações com a capacidade de empenho dos filhos. Os pais manipuladores tendem a sentir-se injustiçados e incompreendidos. São geralmente frustrados e assumem comportamentos de vingança, ainda que inconscientes.

  • Como nos fazem sentir Os filhos de pais manipuladores sentem-se inseguros, confusos, frágeis, incompreendidos. Mas, também, revoltados, submissos por fora, mas a arder por dentro. Podem perder a autoestima e a autoconfiança, entrar em depressão ou cair na mão de pessoas duvidosas, abusadoras.
  • O que fazer? Até terem independência financeira, os filhos de pais manipuladores conseguem fazer muito pouco. Já adultos, devem evitar contrariar ou justificar-se demasiado. Devem usar estratégias de proteção emocional e física, usando, por exemplo, o humor e a ironia, saindo da sala com um sorriso sem dizer mais nada ou mesmo dando razão: por exemplo, “Tens razão! Tu sabes muito melhor fazer isto que eu. Da próxima vez tratas tu”. É preciso ter muito autocontrolo e ser muito sintético na comunicação. O “não sei mais nada”, “não disseram mais nada” são expressões a usar.

Assim é um manipulador

10 comportamentos típicos de um manipulador:

  1. É, por natureza, irónico. Acusa frequentemente os outros de não terem capacidade para entender uma inocente brincadeira.
  2. Desvaloriza os sentimentos e as opiniões dos outros.
  3. Argumenta e age de modo a que o outro se sinta culpado por não fazer o que lhe pede.
  4. Justifica os seus comportamentos culpabilizando os outros por o obrigarem a portar-se daquela forma.
  5. Dá respostas pouco precisas e consistentes e recua com facilidade nas suas opiniões.
  6. Cria histórias irreais para desnortear o outro fazendo-o sentir-se inseguro quanto à veracidade da sua própria perceção dos factos.
  7. Não respeita os timings do outro, sendo frequente fazer com que chegue atrasado a compromissos importantes.
  8. Faz com que os outros se sintam ridículos.
  9. Recorre a aspetos secundários para falar de questões sérias, desfocando do essencial.
  10. É perito em usar linguagem que o outro não entende ou assuntos que não domina, para o fazer sentir-se inseguro e assim liderar os processos.

Crie um escudo antimanipulação

Dê mais atenção ao seu comportamento nas relações interpessoais. Se sente frequentemente culpa, se sente que o que faz nunca é suficiente para agradar a quem está consigo, fique atento aos comportamentos do outro. Poderá estar a ser alvo de manipulação.

  • Evite dar explicações e justificações sobre a sua vida e as suas ações.
  • Desconfie sempre que sentir que o comportamento dos outros consigo é de vitimização.
  • Seja assertivo nas palavras e nos atos. Reforce a sua capacidade de dizer não e de assumir o que deseja.
  • Respeite o que sente. Não desvalorize sensações como a insegurança em si e a certeza sobre a veracidade do que diz.
  • Não se isole. Conviva com amigos e não esconda a sua história.

Última revisão: Novembro 2018

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