Como manter a transpiração sob controlo

Transpiração sob controlo

Processo natural do organismo, a transpiração é uma reação a estímulos fisiológicos ou emocionais. Mas o que fazer quando se torna um problema? Miguel Trincheiras, médico dermatologista, responde.

  • PorCarlos Eugénio AugustoJornalista

  • ColaboraçãoDr. Miguel TrincheirasMédico dermatologista especialista pelos Hospitais Civis de Lisboa (HCL) e diretor da Derme.pt – clínica de dermatologia

Seja num ambiente com temperaturas elevadas, após uma sessão de exercício físico ou em momentos de maior tensão emocional, transpiramos. Mas o que leva o organismo a responder da mesma forma a acontecimentos tão diferentes? Miguel Trincheiras, médico dermatologista, explica à Revista Prevenir: «A transpiração é uma resposta natural do organismo, sob a orientação do sistema nervoso autónomo (SNA), seja por questões fisiológicas, como controlar a temperatura corporal, ou face a situações de stresse. Biologicamente, essa dinâmica é realizada através da ativação de dois tipos de glândulas sudoríparas espalhadas pelo corpo – com maior concentração nas palmas das mãos, axilas, plantas dos pés, testa e couro cabeludo –, anexos epidérmicos que produzem o suor e fazem com que suba até à superfície cutânea, evapore e permita a regulação térmica».

«A ingestão de alguns alimentos como alho e cebola pode influenciar o odor da transpiração»

Tipos de transpiração

Face a esses estímulos diferentes, «o organismo prepara uma resposta adequada. Assim, perante uma exigência relacionada com o exercício físico ou face à exposição a temperaturas altas – a chamada transpiração térmica –, só as glândulas écrinas são ativadas. Quando o suor, uma substância composta por água, cloreto de sódio e potássio, surge por ativação de mecanismos de ansiedade ou nervosismo, tanto glândulas écrinas como apócrinas estão ativas. As últimas eliminam igualmente restos das membranas celulares que, com a degradação bacteriana, causam um odor típico e desagradável. Isso acontece especialmente na zona das axilas, virilhas, região perianal e canal auricular», descreve Miguel Trincheiras. Além dessa disfunção orgânica, «também a ingestão de alguns alimentos como alho e cebola pode influenciar o odor da transpiração, pois as suas moléculas odoríferas espalham-se pelo organismo e, ao serem eliminadas através do suor, geram um odor típico».

Suar é saudável

Quando confrontado com a pergunta sobre o que aconteceria ao organismo se não produzisse suor, Miguel Trincheiras, diretor da clínica de dermatologia Derme.pt é categórico: «Representaria a impossibilidade de gerir a temperatura corporal, principalmente em situações de exercício físico, exposição a calor externo ou mesmo face às normais exigências da respiração da pele. É por isso que se recomenda prudência na possibilidade de se fazer pinturas extensas no corpo, incluindo tatuagens, sobretudo com matérias impermeáveis. Como não permitem a respiração e transpiração da pele, são altamente nocivas, podendo mesmo ser mortais por impedir o organismo de fazer a regulação térmica através da sudação», alerta o especialista. Além disso, o médico dermatologista refere «a importância do suor como aliado do bem-estar geral», sublinhando a sua influência, por exemplo, a nível renal. «Quando transpirarmos, o organismo elimina líquidos e sais minerais e, ao fazê-lo, o rim, que é o órgão que regula o equilíbrio dessas substâncias, fica de sobreaviso para evitar uma eliminação excessiva através da urina, sendo essa gestão decisiva para o equilíbrio fisiológico orgânico», indica Miguel Trincheiras.

Temos entre 1 e 5 milhões de glândulas sudoríparas na pele, refere um estudo divulgado pela publicação científica Science Direct

Transpiração excessiva

Ainda que a transpiração seja «um processo natural e involuntário, podem existir situações de hipersudação não fisiológica (aquela que não serve para compensar uma situação de hipertermia, ou seja, de aquecimento excessivo do corpo e que surge de forma isolada por um desequilíbrio do sistema nervoso autónomo) ou uma total inibição de produção de suor», informa Miguel Trincheiras. «Estas duas situações acontecem devido a desregulações do sistema nervoso autónomo e a um mau funcionamento das glândulas sudoríparas. As situações mais frequentes estão relacionadas com um desproporcionado estímulo de produção de suor, em especial nas mãos, pés, axilas, testa, couro cabeludo e região inter-mamária, ainda que existam casos de hipersudação generalizada. A isso chama-se hiperidrose, sendo a sua incidência ligeiramente superior nos homens, sobretudo de sudação nas mãos e axilas», afirma.

Doenças associadas à transpiração

Entre outros gatilhos para o excesso de transpiração podem estar «algumas doenças oncológicas e metabólicas. Embora sejam casos muito raros, alguns medicamentos, como antidepressivos, analgésicos, imunossupressores ou medicamentos utilizados para controlar a hipertensão, podem interferir no funcionamento do sistema nervoso autónomo. Em condições extremas, a hiperidrose pode causar desidratação e problemas neurológicos daí decorrentes, assim como complicações cardiovasculares ou falência renal. Pontualmente, a ingestão de alimentos picantes ou de cafeína pode provocar um episódio de hipersudação». Mas também «existem pessoas que transpiram pouco ou nada. Tal acontece, sobretudo em problemas congénitos, hereditários ou genéticos e que dá origem a um défice drástico do número de glândulas sudoríparas (anidrose). Embora sejam quadros muito raros, costumam ser acompanhados de outras malformações corporais», descreve.


A ação dos cosméticos

«Existem soluções – antitranspirantes e desodorizantes – que ajudam, na maioria dos casos, a ultrapassar os efeitos associados à transpiração, nomeadamente a produção excessiva ou o odor. Estes produtos foram dermatologicamente testados e, por isso, não apresentam risco para a saúde. Ainda assim, os sais de alumínio, que estão presentes na esmagadora maioria destas soluções, podem tornar a axila muito seca e irritada, razão pela qual algumas contêm moléculas calmantes, para atenuar o seu efeito», descreve o especialista. Antes de comprar, siga o conselho de Miguel Trincheiras: tenha o cuidado de olhar para o rótulo «de forma a verificar que não contém algum constituinte a que se possa ser alérgico». Se a transpiração, em termos de quantidade e odor, não for controlável com recurso a este tipo de solução, o melhor será consultar um médico dermatologista, de forma a identificar o tratamento mais adequado para o seu caso.

Antitranspirantes e desodorizantes: roll on, spray ou creme?

Todas estas opções são válidas, sendo escolhas individuais pois, regra geral, têm a mesma eficácia e princípios ativos. O único fator diferenciador será no caso dos cremes, cujos resquícios podem aconselhar que a aplicação seja feita durante a noite, evitando assim algum desconforto. Estas soluções surgem sob a forma de desodorizantes e antitranspirantes: os primeiros lutam contra o odor e os segundos evitam a transpiração. Mas também há soluções com ação combinada», garante Miguel Trincheiras.


Quanto suamos diariamente?

«Ainda que seja muito variável e dependendo de condições de exercício e temperatura exterior, diariamente e em condições basais o organismo produz, em média, cerca de 0,5 L de suor», afirma Miguel Trincheiras, dermatologista.


Transpiração excessiva: soluções em consultório

Miguel Trincheiras, médico dermatologista, descreve os principais tratamentos realizados em consultório que permitem controlar a transpiração excessiva.

  1. Cremes
    O médico dermatologista pode prescrever um creme contendo habitualmente sais de alumínio. Este tipo de fórmula está indicado quando a transpiração é um problema localizado no rosto, barriga, axilas, palmas das mãos ou plantas dos pés. À venda em farmácias, deve ser aplicado à noite, para evitar o desconforto relacionado com os resquícios. É um tratamento que está aconselhado enquanto existirem sintomas.
  2. Anticolinérgicos
    Indicados para os casos mais graves e generalizados, em que a produção de suor afeta a vida social e laboral. São administrados por via oral, apenas enquanto existirem sintomas. Como atuam em todo o organismo, «podem ter efeitos secundários sérios, nomeadamente alterações neurológicas, do ritmo cardíaco e trânsito intestinal. Podem também inibir a produção de saliva e das mucosas oculares e vaginais, daí serem recomendados em doses baixas».
  3. Toxina botulínica
    É também um anticolinérgico, mas atua apenas ao nível local da glândula sudorípara onde é injetada, reduzindo a produção de suor. É recomendado para face, axilas, palma das mãos e plantas dos pés. «Ainda que a sua aplicação seja bem tolerada e praticamente indolor na axila, em outras zonas do corpo podem existir queixas, sendo frequente o recurso a anestesia tópica com cremes. Realiza-se numa única sessão e efeito dura entre dez e 12 meses», indica o especialista.
  4. Iontoforese
    Para excesso de transpiração nas mãos, pés ou axilas. «É uma técnica não invasiva com recurso a tinas com água que contêm esponjas com elétrodos que invertem a polaridade da glândula sudorípara, impedindo o seu funcionamento. Não causa dor, mas pode provocar um “formigueiro” incómodo», descreve Miguel Trincheiras. No início do tratamento, as sessões são diárias e duram uma semana. Depois, numa fase de manutenção, as sessões são mais espaçadas, por exemplo, de três em três dias.
  5. Cirurgia
    Realizada por sonda endoscópica, atua sobre o nervo simpático que inerva uma determinada zona de glândulas sudoríparas. «É uma abordagem mais agressiva que pode provocar hiperidroses compensatórias. Isto é, deixa de se suar das axilas e passa a suar do tronco ou pescoço. Como é realizada com anestesia geral, implica um internamento de 24 horas. Tem um efeito vitalício», indica Miguel Trincheiras.
Última revisão: Julho 2019

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