IMC: o que diz sobre a sua saúde

IMC: o que diz sobre a sua saúde

Com a ajuda de uma médica endocrinologista, saiba em que consiste o índice de massa corporal (IMC) e qual a informação sobre a saúde e o peso que os seus dados revelam.

  • PorCarmen SilvaJornalista

  • ColaboraçãoProfessora Doutora Paula FreitasMédica endocrinologista

O índice de massa corporal (IMC) representa o rácio do peso face ao quadrado da estatura (peso em quilogramas a dividir pela estatura em metros quadrados). É muito usado para «avaliar se uma pessoa tem peso baixo, normal ou obesidade, bem como a classe ou grau de obesidade», explica a médica endocrinologista Paula Freitas, presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO). «Existe uma curva em “U” para o IMC, o que significa que valores elevados e muito baixos podem estar associados a várias doenças». Em termos de baixo peso, poderá ser difícil «distinguir entre magreza e desnutrição, estando a magreza “saudável” sem desnutrição associada a vários benefícios do ponto de vista cardiometabólico e longevidade». Já a desnutrição estará relacionada com «carências nutricionais e as suas consequências, como anemias e alterações do metabolismo ósseo, imunitário, etc.». Nesses casos, «deve procurar-se ajuda médica para identificar a causa do baixo peso e perceber se existe alguma causa grave subjacente e a necessitar de tratamento imediato». Isto porque «uma perda de peso não intencional é frequentemente consequência de cancros, insuficiência suprarrenal e hipertiroidismo».

«O excesso de peso e a obesidade estão associados a mais de 200 comorbilidades»

Impacto na saúde de um IMC elevado

À medida que o IMC aumenta, também sobe o risco de doença. «O excesso de peso e a obesidade estão associados a mais de 200 comorbilidades, sendo exemplos a síndrome metabólica, diabetes tipo 2, dislipidemia, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares (doença coronária isquémica e doença cerebrovascular), patologias pulmonares (doença pulmonar restritiva, síndrome de hipoventilação-obesidade e síndrome de apneia obstrutiva do sono), doenças musculoesqueléticas, hiperuricemia e gota, osteoartrose, patologias gastrointestinais (doença de refluxo gastroesofágico e litíase biliar), doenças hepáticas (esteatose, esteato hepatite, cirrose e cancro do fígado), infertilidade, problemas de pele, problemas psicológicos como depressão e vários cancros (da mama [pós-menopausa], endométrio, próstata e colorretal)», aponta Paula Freitas. Porém, além destas, «não podemos esquecer a diminuição da qualidade de vida e o aumento da mortalidade». Daí a importância de «procurar ajuda médica antes da evolução para formas mais graves, pois, quantos mais anos de carga de “doença-obesidade”, maior a probabilidade de desenvolver um maior número das patologias associadas».

«Pessoas com membros inferiores curtos terão um IMC aumentado»

As limitações deste cálculo

Para começar, «no numerador da equação entra apenas o peso corporal, que representa o peso da massa óssea, gorda e não gorda (“massa muscular”), sem distinção. Por exemplo, um atleta muito musculoso, com grande quantidade de massa muscular, pode ter um IMC elevado, mas pouco tecido adiposo, não sendo obviamente obeso», sublinha Paula Freitas. A proporção do corpo pode ser outra limitação, já que «pessoas com membros inferiores curtos terão um IMC aumentado». Outro ajuste necessário é relativo aos idosos, visto «existir uma alteração na proporção entre a gordura corporal e a massa magra, dado a gordura corporal aumentar e a massa magra diminuir com a idade. Quando avaliamos apenas peso e estatura, não conseguimos verificar essa diferença das proporções». Também o género tem limitações associadas, pois mulheres e homens têm padrões de distribuição da gordura corporal diferentes: «a mulher apresenta maior percentagem de gordura e, na pré-menopausa, a sua distribuição é “em pera” (ancas e coxas). Já depois da menopausa há uma redistribuição “em maçã” (mais a nível abdominal), tal como nos homens», explica a especialista, acrescentando que o IMC «nada informa, contudo, acerca desta distribuição do tecido adiposo».

Métodos complementares ao IMC

Perante estas limitações, é possível recorrer a técnicas complementares, como a bioimpedância elétrica, «um exame prático, pouco dispendioso, amplamente utilizado no estudo da composição corporal, que resulta da aplicação de uma corrente elétrica alternada (fraca) através de um membro, e cuja condutividade reflete as características dos tecidos atravessados, explica Paula Freitas. Os dados fornecidos vão complementar a informação do IMC porque «permitem saber com razoável exatidão a percentagem e os quilos de massa gorda e não gorda, e água corporal total, possibilitando uma rigorosa avaliação da composição corporal». Pode ainda recorrer-se à medição do perímetro abdominal ou cintura que, tal como o IMC, «se correlaciona com alterações metabólicas, cardiovasculares, risco de cancro e aumento da mortalidade». Como sublinha a especialista, é «um indicador de adiposidade (gordura) central, facilmente obtido, e sobre o qual se reconhece elevada capacidade de predição da morbidade e mortalidade cardiometabólicas», podendo complementar a informação fornecida pelo IMC por indicar «o tipo de distribuição da gordura corporal (central ou periférica)». Também a densitometria corporal «pode ser importante para fazer a avaliação da composição corporal, podendo ser um complemento do IMC», diz Paula Freitas, médica endocrinologista, pois «é um exame que determina a massa gorda, magra e óssea».


Para medir o perímetro abdominal…

«Primeiro avalie a localização da última costela e a parte superior da crista ilíaca (bordo superior convexo do osso da bacia). Meça a meio dessa distância, com a fita métrica colocada diretamente sobre a pele, tire a medida no momento final de uma expiração normal», indica a médica endocrinologista Paula Freitas. Para tal, deve «manter-se na vertical e imóvel, com os braços estendidos ao longo do corpo e as palmas das mãos voltadas para dentro. Idealmente, as avaliações devem ser efetuadas à mesma hora».

Como interpretar os dados

  • Nos homens, um perímetro da cintura superior a 94 cm representa um risco aumentado de contrair algumas comorbilidades já referidas. Acima de 102 cm, o risco é considerado muito aumentado.
  • Nas mulheres, acima de 80 cm representa um risco aumentado; e superior a 88 cm, um risco muito aumentado.
Última revisão: Setembro 2021

artigos recomendados

Previous Next
Close
Test Caption
Test Description goes like this