Dieta demitariana: a dieta do planeta

dieta demitariana: a dieta do planeta

O azoto, um elemento essencial à vida, em excesso, pode afetar o meio ambiente e prejudicar a saúde. Seguir a dieta demitariana permite diminuir a pegada de azoto.

  • Colaboração e revisão científicaProfª. Dra. Cláudia Marques dos Santos CordovilProfessora no Instituto Superior de Agronomia
  • Dra. Magda RomaNutricionista

Não, esta não é uma dieta para o ajudar a perder peso. E, sim, pode comer de tudo (com moderação, claro). O principal objetivo da dieta demitariana – assente na diminuição do consumo de proteína animal – é a sustentabilidade ambiental através de escolhas pessoais que se traduzem numa redução das perdas de azoto – «um elemento que, na forma N2, é inerte, constitui 78 por cento do ar que respiramos e é indispensável à vida humana, animal e vegetal, fazendo parte de moléculas, como as proteínas e o ADN. No entanto, para se tornar útil para os seres vivos tem de assumir as suas formas reativas que se transformam muito rápida e facilmente umas nas outras e podem perder-se para o ambiente afetando-o negativamente», esclarece Cláudia Marques dos Santos Cordovil, professora no Instituto Superior de Agronomia (ISA) à Revista Prevenir.

«A dieta demitariana consiste na redução para metade do consumo de proteína animal habitualmente ingerida»

Segundo a especialista, «a pessoa que decide seguir uma dieta demitariana opta por reduzir o seu consumo de proteína animal para metade com o objetivo de contribuir para a proteção do ambiente, evitando a libertação excessiva de azoto reativo para os compartimentos ambientais (água, ar, solo e biodiversidade). Embora, este elemento não seja um contaminante, um excesso de formas reativas no ambiente pode levar a situações de contaminação ou poluição».

Os princípios da dieta demitariana

«Embora não haja alimentos excluídos nesta dieta– tradicional, omnívora [inclui carne, ovos, produtos lácteos, peixe] e com total liberdade –, a dieta demitariana consiste na redução para metade do consumo de proteína animal habitualmente ingerida e é baseada numa opção pessoal, cujo principal objetivo é a proteção do ambiente contra os efeitos do excesso de perdas de azoto reativo para o mesmo. A quantidade consumida não é definida nem mensurável, pois está relacionada com o consumo anterior associado a uma dieta dita tradicional. Este conceito também se aplica ao consumo de peixe», esclarece Cláudia Marques dos Santos Cordovil.

«Contudo, comer menos carne por si só não é a solução. É necessário maximizar a eficiência da produção, com o mínimo de perdas possível, e conseguir uma melhor distribuição do consumo de carne e peixe no mundo inteiro. O que acontece é que há zonas de consumo muito baixo ou quase inexistente e zonas de consumo excessivo. É este desequilíbrio que promove as maiores pegadas de azoto», refere Cláudia Marques dos Santos Cordovil.


Principais fontes de azoto

«A produção agrícola e animal leva à perda de formas reativas de azoto para os compartimentos ambientais (água, ar, solo e biodiversidade). Os efeitos são muitos e variados – por exemplo, a contaminação das águas com nitrato, libertação de óxido nitroso (um gás com elevado potencial efeito de estufa, 298 vezes mais poderoso do que o dióxido de carbono) e a contaminação do ar com amoníaco (contribui para as chuvas ácidas).

«Os princípios desta dieta vão frequentemente ao encontro das recomendações dos nutricionistas, pois, regra geral, as pessoas consomem proteína animal em excesso»

Há alimentos que contêm quantidades elevadas de certos compostos azotados, não se podendo, contudo, dizer que estão contaminados. Certas espécies contêm maior concentração de azoto do que outras – os espinafres são conhecidos por acumularem mais azoto na forma de nitratos (responsável por doenças específicas em idosos e jovens) do que a generalidade das espécies hortícolas, motivo pelo qual não se dá este legume às crianças muito jovens – e, como tal, a diversificação é o melhor caminho», refere Cláudia Marques dos Santos Cordovil, professora no ISA.

Alimentos biológicos

«Os produtos biológicos não são necessariamente uma opção com menor pegada de azoto, pois, para uma mesma quantidade de produção, é necessária uma maior área e há, ainda, ineficiências na utilização do azoto dos fertilizantes. Como tal, não é possível comparar linearmente», esclarece Cláudia Marques dos Santos Cordovil. Segundo a especialista, «não existe certificação que indique que um produto foi produzido com uma baixa perda de azoto. No entanto, o ISA está a trabalhar no desenvolvimento de uma marca registada de alimentos de baixa pegada de azoto e tenciona ajudar os produtores a certificar os seus produtos».

Um consumo eficiente

«Os princípios desta dieta vão frequentemente ao encontro das recomendações dos nutricionistas, pois, regra geral, as pessoas consomem proteína animal em excesso, em detrimento da vegetal, que é normalmente incentivada pelos nutricionistas. No que toca ao ambiente, as vantagens dizem respeito à redução e aumento de eficiência do uso de fertilizantes minerais, com a consequente redução da perda por ineficiência de uso do azoto. Por isso, os benefícios seriam maiores se a eficiência na utilização do azoto fosse maximizada com técnicas de produção apropriadas. Se o consumidor procurar produtos produzidos em explorações altamente eficientes na utilização dos nutrientes vegetais, com menor impacto no ambiente, está a protegê-lo com as suas escolhas. Assim, não é a dieta que tem impacto direto na redução da pegada de azoto, mas sim o modo como as opções do consumidor se refletem na produção», salienta Cláudia Marques dos Santos Cordovil.

Benefícios para a saúde da dieta demitariana

Segundo Magda Roma, nutricionista, «a proteína animal é inflamatória – motivo pelo qual está associada a doenças cardiovasculares, autoimunes, entre outras– e limitar o seu consumo ajuda a reduzir a inflamação no organismo, prevenindo inúmeras doenças. Além disso, a confeção destes alimentos, indispensável, pode levar ao desenvolvimento de novas moléculas ou compostos também eles prejudiciais à nossa saúde. Se a substituição destes alimentos for correta, não haverá quaisquer danos para a saúde». No entanto, não é apenas a nossa saúde que beneficia de uma redução do consumo destes alimentos. Segundo Magda Roma, «os benefícios estendem-se ao planeta e aos animais, que passam para um sistema de produção menos exaustivo e violento».


Diminua a sua pegada de azoto

Há pequenos gestos diários que pode adotar e que permitem reduzir as perdas de azoto para o meio ambiente.

  • Reduza o desperdício alimentar. Fazê-lo diminui a quantidade de alimentos produzidos. Planeie as suas refeições e, caso tenha cozinhado comida em excesso, doe a uma instituição.
  • Modere o consumo energético em casa. Opte por equipamentos com eficiência energética A++, evitando o desperdício de energia. Além disso, desligue as luzes ou aparelhos que não esteja a utilizar.
  • Limite o consumo de bens e serviços. Compre apenas o necessário, reutilize e recicle, minimizando a quantidade de resíduos e utilização de recursos naturais. Uma boa solução é optar por fazer trocas em vez de comprar.
  • Desloque-se de forma sustentável. Dê preferência à bicicleta ou vá a pé: ambas são ecológicas, boas formas de se exercitar, envolvem menos custos e é fácil arranjar estacionamento. Outra boa solução é optar pelos transportes públicos. O avião é o transporte que tem maior emissão de azoto.

Fonte: www.pegadadoazoto.pt


Diversifique a sua alimentação

Produzir diferentes tipos de carne envolve a libertação de diferentes quantidades de azoto reativo para o ambiente. Por exemplo, a produção da carne de frango envolve processos menos intensivos que a de vaca. No entanto, o que é fundamental é diversificar entre estas proteínas.

Fonte: www.pegadadoazoto.pt


Refeições sem carne

A dieta demitariana consiste na redução para metade da dose pessoal do consumo de carne. Parece-lhe difícil? Magda Roma, nutricionista, sugere algumas refeições sem este ingrediente.

Pequeno-almoçoGranola com bebida vegetal + 1 infusão a gosto
Meio da manhã 1 peça de fruta + 1 punhado de frutos secos
AlmoçoLegumes salteados ou no forno com quatro a cinco colheres (de sopa) de leguminosas (por exemplo, grão-de-bico) + arroz basmati integral
Primeiro lanche
1 peça de fruta + 1/2 barra de cereais
Segundo lanche1 iogurte vegetal ou 1 pudim de chia (150 ml de bebida vegetal + duas colheres (de sopa) de sementes de chia + 1⁄2 peça de fruta)
JantarSopa de legumes (3 conchas) + 1 colher (de sopa) de proteína de arroz/ervilha/cânhamo + Legumes salteados ou
no forno
Ceia 1 infusão calmante + 1 bolacha de arroz tufado
Última revisão: Fevereiro 2017

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